22.5 C
Brasília
sexta-feira, 29 março, 2024

Grandes empresas brasileiras que traem o Brasil

Grandes empresas muitas vezes querem escapar da tributação de seus países de origem e tentam mudar sua sede para paraísos fiscais.

por Andre Motta Araujo/Jornal GGN

Pátria Amada Brasil pode ser um simples slogan de marketing ou pode ter um sentido histórico. Para algumas grandes empresas, que nasceram no Brasil, foram ADUBADAS PELO ESTADO BRASILEIRO, devem sua existência ao País Brasil e não a Wall Street, nasceram, se criaram, prosperaram, ficaram grandes NO BRASIL E POR CAUSA DO BRASIL, simplesmente cospem na cara do Brasil e se mudam para o exterior, elas, a sede delas e os donos delas. Lembram os portugueses do tempo do Brasil colônia, que esperavam enriquecer no Brasil e depois levar a riqueza para Portugal e lá cultivar o ócio numa quinta em Setubal. A falta de amor à terra, à pátria, ao ambiente onde nasceram, cresceram e enriqueceram, é algo impressionante em muitos brasileiros e talvez explique o fracasso do País como potência, mesmo sendo um dos cinco maiores países do mundo.

Citemos três casos emblemáticos, AMBEV, EMBRAER e JBS.

AMBEV

Nasceu da fusão das tradicionais cervejarias ANTARCTICA e BRAHMA, fusão que jamais deveria ter sido APOIADA pelo governo brasileiro através de uma ultra controvertida decisão do CADE. Começa com o Garantia, de três banqueiros cariocas, Lehman, Sicupira e Telles, comprando na bolsa o controle da BRAHMA, depois se voltam para a ANTARCTICA, que era controlada pela Fundação Antonio e Helena Zerrener, que cedeu o controle da Antarctica por uma bagatela em torno 200 milhões de Reais, só a marca valia muito mais. O presidente do conselho da Fundação torna-se executivo da nova empresa, a AMBEV.

Para garantir a aprovação do CADE o grupo se enrolou na bandeira brasileira, prometeu amor eterno à pátria, tudo seria aqui e se faria aqui para o progresso do Brasil e do povo brasileiro. Não se passaram três anos e a AMBEV, em uma madrugada, se muda para a Bélgica, sua sede mundial sai do Brasil, seus donos se mudam para a Suíça, o grupo INBEV esqueceu onde nasceu, virou europeu com muito orgulho, a sede da maior empresa mundial de cervejas que deveria orgulhosamente ser brasileira, NÃO É, os impostos sobre o lucro mundial do grupo são  tributados fora do Brasil, o Estado brasileiro que batizou o nascimento do grupo, que até então era apenas um banco carioca, o Banco Garantia, virou cervejeiro NO BRASIL e não na Europa. A certidão de nascimento é brasileira, esse Estado que foi o parteiro do grupo NÃO SE BENEFICIA desse berço, ajudou a criar e foi traído e chutado.

Leia também:  Duas teses sobre a questão racial no Brasil, por Jones Manoel

Pode-se dizer que o grupo AMBEV operou dentro dos parâmetros de mercado, é uma verdade apenas aparente. Foi o Brasil que possibilitou a criação do conglomerado AMBEV, controlado por uma trinca de ex-brasileiros e agora europeus que têm ainda no Brasil grandes ativos como Lojas Americanas, grande volume de imóveis sob o nome SÃO CARLOS S.A., as lanchonetes Burger King e padarias Benjamin Abrãao, grande volume de ações da ELETROBRAS, outros investimentos em energia sob o rótulo Squadra e Equatorial, quer dizer, o Brasil serviu de vaca leiteira mas não de passaporte e moradia, a fortuna dos três bilionários da FORBES foi gerada no Brasil, com dinheiro do Brasil, o capital do “Garantia Partners” se fez no centro velho do Rio de Janeiro e não na Suiça, lembrando o ouro de Minas Gerais que foi parar em Lisboa e Queluz, parece que o Brasil tem vocação para esse papel de senzala.

EMBRAER

Nascida, viabilizada, incentivada, protegida pelo Estado brasileiro, com raízes na Força Aérea Brasileira, a EMBRAER foi privatizada e passou a ser controlada por um brasileiro que fez fortuna nas privatizações da era FHC, Julio Bozano, comprando moedas podres da SUNAMAM e outras e com elas pagando privatizações de empresas, entre elas a EMBRAER. Mudou-se para os EUA fixando residência na cidade de Greenwich, Conn., a uma hora de Nova York.

O controle da EMBRAER por acionistas financeiros possibilitou sua venda à BOEING que como é de regra vai transforma-la uma mera divisão da matriz, sem personalidade brasileira, até o nome dos tipos de avião já foi mudado, é da logica a mudança de toda a engenharia, o coração da empresa, para os EUA, é questão de tempo. A EMBRAER foi um dos símbolos da criatividade e da capacidade da engenharia brasileira, seu controle jamais deveria ter sido vendido e o Estado brasileiro poderia bloquear a venda porque tinha a GOLDEN SHARE desde a privatização, tinha capacidade legal de bloquear a venda cujo ÚNICO beneficiário foi o mercado financeiro carioca. As alegações para privatizar são sempre “fake”, nesse caso alegaram que com a BOEING as vendas seriam maiores, quando é exatamente o contrário, a imagem da Boeing está péssima no mercado por caso do fracasso abismal com o modelo  MX-8, são mais de 500 aviões sem poder voar e mesmo sem esse problema, a marca EMBRAER não tinha vetos em nenhum lugar, a marca BOEING tem muitos, na Europa, área do AIRBUS, na Russia, na Índia e na China, por razões da geopolítica americana.

Leia também:  Respondendo: e ainda se ensina processo penal nas faculdades?, por Lenio Luiz Streck

O Brasil, os funcionários da EMBRAER, o Estado brasileiro, a engenharia brasileira, não ganharam nada com a venda do controle da EMBRAER, só ganhou o mercado financeiro. Uma venda de controle desse tipo NÃO seria cogitada na França, na Russia, na Índia ou na China, são países que protegem sua engenharia e suas empresas estratégicas.

JBS

Empresa que, sem o apoio do Estado brasileiro, não existiria e, até hoje, o Estado através do BNDES detém 21% do capital. Hoje a imprensa anuncia a intenção dos controladores em mudar a sede do grupo para Luxemburgo ou Holanda. Um grupo recente, criado SOB OS AUSPÍCIOS DO ESTADO BRASILEIRO que financiou sua expansão doméstica aprovando e financiando a compra de outros grupos de frigoríficos e a expansão internacional, com o BNDES financiando a compra de grandes empresas americanas como SWIFT e PILGRIM´S PAGE, quer dizer, é um grupo absolutamente favorecido pelo Estado brasileiro não só participando de seu capital como EMPRESTANDO bilhões de reais e dólares. A ideia de transferir a sede para o exterior alegadamente teria como objetivo abrir o capital nos EUA. A alegação é absurda. Grandes empresas brasileiras como PETROBRAS, CEMIG, ELETROBRAS, BRASKEM, SABESP, e mais 24 empresas brasileiras tem ações listadas na Bolsa de Nova York ou NASDAQ sem ter que mudar a sede para o exterior, não há nenhuma necessidade dessa mudança para abrir capital nos EUA. A razão é outra, é FUGIR DA JURISDIÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO, pagar menos impostos escolhendo um paraíso fiscal como Luxemburgo, é uma traição ao País onde estão os bois que fizeram a riqueza da JBS.

Mudando a sede para o exterior a etapa seguinte será a mudança da família dos controladores para o exterior onde alguns já moram, seguindo a trilha dos controladores da AMBEV que moram na Suíça, abandonam o Brasil a empresa, a família controladora, sua fortuna, seu centro de decisão, ficam no Brasil a floresta derrubada e o pasto degradado.

Leia também:  Um breve ensaio sobre a distopia ambiental brasileira em 2019, por Natô

UM ESTADO FRACO

Grandes empresas muitas vezes querem escapar da tributação de seus países de origem e tentam mudar sua sede para paraísos fiscais. Os Estados de grandes países, especialmente dos EUA, RESISTEM a essas tentativas porque é uma perda de massa crítica que cabe a um Estado não permitir.

O governo dos EUA reage fortemente a tentativas desse tipo. Na Europa é muito mais raro, as grandes empresas privadas operam como EMPRESAS NACIONAIS, empresas que fazem parte do ativo do País, de sua capacidade produtiva, de sua geração de tecnologia e de divisas. Na Europa empresas nem tentam fugir de seu País de origem e quando tentam são fortemente BARRADAS pelos governos.

A TELEFONICA, da Espanha tentou, nos anos 90, mudar sua sede para Miami, o governo espanhol reagiu violentamente e o então presidente da empresa, que é privada, teve que pedir demissão.

A FIAT italiana comprou a semifalida Chrysler e ameaçou mudar sua sede para os EUA, foi advertida pelo governo italiano que isso seria impensável.

No Japão o CEO da Nissan, o brasileiro Carlos Ghosn, que salvou a empresa, planejava fundir a Nissan com a Renault francesa, da qual ele também era presidente, o Japão não admitiu mudar o controle da Nissan, Ghosn foi preso como reação à sua ideia de desnacionalizar a Nissan, está ainda preso.

Os grandes países operam com a noção de EMPRESA DE INTERESSE NACIONAL, não importa se privada. Empresas nessa categoria TÊM que operar em função do interesse nacional do País sede, seguindo o exemplo das grandes empresas alemãs e francesas que fazem parte da nacionalidade e também representam o INTERESSE NACIONAL de seus países de origem e não apenas de seus acionistas.

Estados nacionais, SE QUISEREM, têm força para impedir que empresas nacionais mudem sua sede, as armas de um Estado são poderosas em qualquer lugar, desde que haja vontade política para proteger o interesse nacional, ai se trata de uma questão de decisão e não de slogan.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS