Havana (Prensa Latina) A luta contra a corrupção foi protagonista na arena política de Honduras durante 2015 e propiciou dezenas de protestos, greves, bem como o aparecimento de novos atores preocupados em reconfigurar o panorama do país.
O flagelo está longe de ser algo novo ou de recente aparecimento nesta nação centro-americana, no entanto, o destape do desvio de fundos do Instituto Hondurenho de Segurança Social (IHSS) merece menção especial. Os montantes milionários foram subtraídos a partir do governo de Porfírio Lobo e como era de esperar tiveram vários “beneficiários”, entre os quais sobressai-se o agora dirigente Partido Nacional.
Segundo denunciou em abril Globo TV, a dita organização utilizou o dinheiro do IHSS para financiar a campanha que levou Juan Orlando Hernández à Casa Presidencial, fato que desencadeou a indignação popular.
A irritação social chegou a seu limite e setores populares começaram a protagonizar fortes mobilizações, as quais tomaram em muito pouco tempo um matiz nacional.
Avenidas da capital e outras cidades hondurenhas converteram-se no principal cenário da luta contra a corrupção e a impunidade no país, uma batalha à qual também se somou a oposição em busca de ganhos políticos.
Estes partidos -com um vasto leque de diferenças ideológicas e de outros tipos- tentaram tirar vantagens da situação, que sem dúvidas rendeu frutos em alguns campos, ainda que em outros os benefícios ainda estão por ver.
O que se destacou nesta efervescência popular foi o aparecimento de um novo ator: Os Indignados.
O referido movimento social, nascido entre manifestações e sem nenhum antecedente, converteu-se no foco da agenda pública e mediática da nação, e em um dos atores do jogo político. E ainda, foi o veículo que facilitou a articulação e organização dos protestos durante o ano, bem como a exigência da instalação de uma comissão internacional contra a corrupção e a saída do presidente, Juan Orlando Hernández, do poder.
PEDEM DIÁLOGO
A proposta de uma comissão internacional não foi bem recebida pelo Executivo, que também não optou pela imobilidade e chamou a um diálogo político “para enfrentar de maneira construtiva e democrática os desafios”, declarou Hernández.
Desde o primeiro momento, vários setores -sobretudo econômicos- somaram-se à iniciativa, a qual foi recusada pelos Indignados e alguns partidos, como Liberdade e Refundação (Livre).
O diálogo, facilitado pelo representante da Organização dos Estados Americanos (OEA), John Biehl, terminou por chegar a posições comuns, ainda que tenha deixado de fora atores essenciais pelo que não atingiu os resultados esperados.
“Não dialogaremos com ninguém enquanto o presidente não solicitar a instalação de uma comissão internacional contra a impunidade, sustentou a representante de Indignados”, Gabriela Blen.
O requisito mínimo que o povo exige para conversar é que o governante solicite de maneira formal às Nações Unidas a instalação da comissão, reforçou.
A construção de algum tipo de acordo com o beneplácito de todos foi uma quimera.
O gargalo permanece apesar de a OEA criar a Missão de Apoio contra a Corrupção e a Impunidade em Honduras (Maccih).
Mediante esta, se “busca” impulsionar uma reforma integral do sistema de justiça em Honduras, que vai além de um apoio à função do Poder Judicial e o Ministério Público”, assegurou o ministro coordenador de Governo, Jorge Ramón Hernández.
Para o ex-presidente e coordenador geral de Livre, Manuel Zelaya, isto é um passo em falso pois descarta a criação de uma comissão internacional como instrumento para combater a corrupção.
Opinião similar tem o sociólogo Eugenio Sosa, quem em declarações a meios locais qualificou o processo e a mediação da OEA de fracasso.
Incentiva-se muito ao diálogo, acrescentou, mas só poucos decidem o que fazer no final, “essa é a regra que se impõe”, disse.
O mediador estrangeiro não pode desqualificar o sentimento da maioria e sinto que a OEA tomou um partido, disse o líder do Partido Anticorrupção, Salvador Nasralla.
Negar a comissão internacional é alimentar a indignação do povo, dimensionou.
Tudo indica que a corrupção e a luta para erradicá-la ainda darão muito o que falar durante o próximo ano. Na Guatemala, um contexto similar custou a presidência de Otto Pérez Molina, pelo que subestimar esta realidade pode ter um custo elevado. Até o momento continuam as iniciativas legais, marchas e protestos semanais por parte dos Indignados, enquanto o Governo contra-ataca com processos penais, pressões e repressão.
*Jornalista da Redação América Central e Caribe da Prensa Latina.