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quinta-feira, 28 março, 2024

Trump, incertezas e a modernidade

 Forbes

Israel Aparecido Gonçalves*

Uma das características da pós-modernidade, segundo o filósofo Jean-François Lyotard ou da alta-modernidade, segundo o sociólogo inglês Anthony Giddens é que vivenciamos uma era de incertezas e que as narrativas religiosas ou teleológicas como a marxista não têm mais aderência no meio social, como antes.

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos derrotado na eleição de 2019, representa essa era de incerteza. Ele negou a pandemia, negou a ciência, o processo político e eleitoral e negou tudo isso, sem provas, apenas usando as redes sociais.

Agora, no apagar das luzes de seu mandato, ele incentivou seus correligionários a invadirem o Capitólio, onde fica o Congresso norte-americano, justamente quando estava ocorrendo a sessão para contar os votos do Colégio Eleitoral e certificar a vitória de Joe Biden e sua vice Kamala Harris na eleição presidencial de 20 de novembro.

No tumulto, no acesso ao prédio, cinco pessoas morreram e outras ficaram feridas. Um acontecimento sem precedentes na história do país. Após esses acontecimentos, há incertezas de como será a posse de Biden e Harris em 20 de janeiro.

Não se pode afirmar que Trump tentou dar um golpe de Estado, mas foi um ato que desrespeita as funções de um presidente eleito democraticamente e vai contra a história do país.  Os EUA foi um dos países que em nome da democracia invadiu o Iraque, em 2003, por exemplo, e agora tem uma de suas maiores instituições democráticas ocupadas por vândalos apoiadores e motivados explicitamente pelo seu presidente.

Trump representa a incerteza porque mente constantemente e tem como fonte de inspiração ações e teorias neofascistas, como exemplo, ele nega a democracia, o processo eleitoral, a diversidade cultural, é intolerante contra os imigrantes, como aponta Jason Stanley, na obra “Como funciona o fascismo”. Usa as redes sociais, onde tudo pode ser escrito e compartilhado sem comprovação científica para disseminar suas ideias. Ele acredita que está acima da lei e da ordem. Nesse sentido, o das redes sociais, viria ainda ironicamente, depois do episódio, um novo trecho da história nesse capítulo de 6 de janeiro: Twitter, Facebook e Instagram bloquearam temporariamente a conta de Trump.

Talvez falte para o EUA e, porque não, ao Brasil que tem um presidente que apoia o posicionamento de Trump,  uma reação das instituições políticas, jurídicas e científicas, entre outras,  numa ação mais enérgica para desmentir os presidentes e puni-los, caso haja excessos; recuperando, assim,  o princípio que forjou nossa modernidade e a própria democracia: “ninguém está acima da lei”.

*Israel Aparecido Gonçalves é graduado em História, mestre em Ciência Política pela UFSCar e doutorando em Sociologia na UFSC.

 

 

 

 

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