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quinta-feira, 18 abril, 2024

ROTEIRO PARA O FIM DA PETROBRÁS JÁ ESTÁ PRONTO E EM ANDAMENTO

Cláudio da Costa Oliveira*

Próxima a completar 67 anos de existência, a Petrobrás sofre hoje a maior ameaça a sua sobrevivência em sua história.

Administrada por financistas obedientes ao capital internacional, cuja visão rentista despreza a importância da empresa para o desenvolvimento da nação e que conta com o apoio irrestrito da mídia hegemônica, despudorada, comprometida com interesses externos, que para atingir seus propósitos é capaz de transformar mentiras absolutas em verdades, para a opinião pública brasileira. Tudo acompanhado de perto por uma elite espúria e incompetente, que se sente mais confortável com um país colônia, submisso e sem soberania sobre o seu próprio destino.

MENTIRAS ABSOLUTAS E ESCANDALOSAS

A Petrobrás anunciou recentemente (19/02), com euforia, o lucro de R$ 40 bilhões obtido no exercício de 2019. Seu presidente, Castello Branco, em mensagem bradou orgulhoso: “O maior lucro da história da companhia”

Quanta sordidez.  Basta dar uma olhada no Balanço publicado; não é necessário ser especialista para verificar que o resultado foi obtido com “lucro” de R$ 24 bilhões, pela venda de ativos (com destaque para a TAG), e R$ 14 bilhões, com a venda do controle da BR Distribuidora. Mesmo assim a empresa distribuiu mais de R$ 10 bilhões aos acionistas.

Interessante como a mídia hegemônica não percebeu a importância do fato, tendo feito apenas pequenos ou nenhum comentário. E o mercado? Bem, o mercado aplaudiu, não o resultado mas a distribuição de dividendos. Para o mercado dividendo é sempre bom, venha do lucro ou da venda de ativos.

Excluídos estes efeitos (venda de ativos e da BR) o resultado foi, com certeza, um dos piores da história da companhia.

Mais recentemente (29/02), foi divulgado o resultado em dólares, tendo a empresa registrado um lucro equivalente a US$ 10,2 bilhões, da mesma forma puxado pela venda de ativos (US$ 6,7 bilhões) e venda do controle da BR Distribuidora (US$ 2,4 bilhões). Portanto, para efeito de comparação, o resultado em 2019 foi de US$ 1,1 bilhão (10,2 – 6,7+2,4).

Em sua mensagem o presidente também destaca um importante aspecto financeiro:

“os desinvestimentos e a forte geração de caixa operacional – um valor recorde de US$ 25,6 bilhões – permitiram a redução da dívida em US$ 24 bilhões.”

O que será que ele entende por “recorde”? Se levantarmos a geração de caixa operacional da companhia nos últimos anos temos o seguinte:

  Petrobrás

Geração de caixa operacional – US$ bilhões

2011    2012    2013    2014    2015    2016    2017    2018    2019

33,7     27,0     26,3     26,6     25,9     26,1     27,1     26,4     25,6

De fato o presidente tem razão. Foi recorde de pior geração de caixa operacional dos últimos nove anos (pelo menos).

Tanta mentira e ninguém questiona?

Notem que, no período (2011/2014) em que mídia hegemônica dizia que a empresa estava à beira da insolvência, causada pela corrupção e pelo subsidio ao mercado interno, ela obtinha as maiores gerações de caixa operacional.

OUTROS DADOS FINANCEIROS

Se capazes de contar tantas mentiras, imaginem o que eles não ocultam!

Um importante indicador da saúde financeira de uma empresa é a liquidez corrente (divisão do ativo corrente pelo passivo corrente) que mostra a capacidade da sociedade cumprir com seus compromissos de curto prazo (um ano). Quanto maior o indicador, mais tranquila é a situação financeira da empresa.

Petrobrás – Liquidez corrente

2010    2011    2012    2013    2014    2015    2016    2017    2018    2019

1,9       1,8       1,7       1,5       1,6        1,5      1,8       1,9       1,5       0,97

Outro recorde de Castello Branco, a pior liquidez corrente da história. Notem que no período (2010/2014) em que diziam que a companhia passou por problemas financeiros, foram obtidos seus maiores índices.

Castello Branco conseguiu, pela primeira vez na história, reduzir a liquidez corrente da Petrobrás para menos de 1,00.

Isto significa dizer que a empresa está com capital de giro negativo (ativo corrente – passivo corrente). No jargão contábil “está vendendo o almoço para comprar o jantar”

De menor importância, mas que também mostra o nível de conforto financeiro de uma empresa, temos o seu saldo de caixa.

Petrobrás – Saldo de Caixa (US$ bilhões)

2010    2011    2012   2013    2014    2015    2016    2017    2018    2019

17,7     19,1     13,6    15,9     16,7     25,1     21,2     22,5     13,9     7,4 

Novo recorde, o menor caixa da década. Para quem sempre afirmou que a empresa passou por sérios problemas financeiros, o que dizer do momento atual?

ASPECTOS ECONÔMICOS

Dados Petrobrás                          2011      2013      2018      2019

Lucro (US$ bilhões)                     20          11          7            1,1*

Remuneração acionistas

Preço corrente R$ bilhões**        12           9,3         7           10,5

Remuneração acionistas

Preço 2019 R$ bilhões                18,3       12,5       7,3         10,5

*excluindo venda de ativos

**dividendos e juros sobre capital próprio

Vejam como, no período em que a companhia trabalhava em favor da população brasileira, os lucros eram maiores e a remuneração dos acionistas também.

Vale lembrar igualmente a queda na receita liquida e do lucro bruto no período.

Dados Petrobrás                            2018        2019

Receita Liquida R$ bilhões            84,6         76,6

Lucro bruto     R$ bilhões               32,5         30,9

RELEVÂNCIA DA EMPRESA

Alguns dados que mostram a importância da Petrobrás para a economia brasileira

Dados Petrobrás                                   2011      2013      2018     2019

Empregados mil                                    81,9       86,1       63,4      57,9

Investimento US$ bilhões                     43          45          13         10,7

Gastos com pesquisa US$ bilhões       1,5         1,1         0,6        *

*ainda não disponível

O QUE ESTÁ ACONTECENDO?    

A venda de ativos imprescindíveis (NTS, TAG, BR Distribuidora etc) aliada a uma política de preços de autoflagelo, chamada de Preço de Paridade de Importação – PPI, desmontaram o equilíbrio e conforto financeiro que a companhia mantinha há muitos anos.

É oportuno salientar a política de preços (PPI), pois a maioria dos brasileiros e também dos petroleiros, acredita que os preços estabelecidos pela Petrobrás em suas refinarias têm como base apenas os preços internacionais. Esta crença foi difundida pela administração da empresa e pela mídia a partir de 2016 para iludir a população brasileira.

Na realidade o Preço de Paridade Internacional – PPI, considera o preço internacional do produto (diesel, gasolina e gás) fora do Brasil, acrescenta os gastos com frete até um porto brasileiro, soma os gastos com internação (portuários, alfandegários, seguros de carga etc), adiciona um seguro para garantir a estabilidade cambial e do preço do produto durante o tempo de importação e ainda atribui um lucro. Entenderam?  Portanto:

PPI = custos de importação + lucro

Com esta política a companhia permite que seus concorrentes no exterior vendam seus produtos no Brasil, tomando mercado da própria Petrobrás. Ou seja, é a Petrobrás fazendo caridade para seus concorrentes. Uma verdadeira jabuticaba venenosa, que não existe e nunca existiu em lugar nenhum do planeta.

Mas os acionistas não reclamam desta situação?

Não, porque de um lado, os acionistas brasileiros mal conhecem o que é PPI e seus efeitos nocivos. Acreditam no que é informado pela mídia hegemônica.

Recentemente, em editorial, um “jornalão” defendeu a excrescência chamada PPI. No passado, este mesmo “jornalão” primeiro divulgou que o pré-sal não existia e depois que a Petrobrás não tinha tecnologia e ao fim que estava quebrada. Mentira absoluta como vimos nos dados financeiros da companhia expostos acima.

Por outro lado os acionistas estrangeiros não tem o que reclamar, pois são também sócios das empresas estrangeiras que se beneficiam com a jabuticaba venenosa.

E EM 2020 A SITUAÇÃO MELHORA?  

Pelo contrário, a tendência é piorar ainda mais. A empresa está completamente desestruturada e o resultado depende de venda de ativos. Por isto a pressa em vender a refinarias. Se isto não ocorrer há chance de a companhia apresentar prejuízo em 2020, e é muito grande, a não ser que o preço do petróleo suba tanto que a venda de óleo cru  resolva o problema.

Os indicadores financeiros tendem a piorar.

 

E APÓS 2020, QUAL É O CENÁRIO?

A Petrobrás acaba de adquirir o direito de exploração de petróleo no chamado excedente da cessão onerosa.

O Plano de Negócios e Gestão – PNG 2020/2024 da companhia prevê investimentos da ordem de US$15 bilhões/ano no período, o que indica que não estão previstos investimentos para produção na área recém-adquirida, pois isto exigiria volumes muito maiores de recursos. É o que nos diz o engenheiro Fernando Siqueira, diretor da Associação dos Engenheiros da Petrobrás-AEPET, em recente artigo sobre a compra pela Petrobrás dos direitos de exploração do excedente da cessão onerosa:

“favorecida pelo fato de seu consórcio concorrer sozinho e dar um percentual de óleo lucro de apenas 23% para a União, contra 80% cobrado pelos países exportadores de petróleo. Nossa preocupação agora é com a possibilidade do cartel do petróleo estar preparando a compra da Petrobrás com todo este acervo de reservas e de tecnologia. Se não, como explicar a não participação das multinacionais em uma oferta desta importância?“

O especialista Nick Cunningham explica:

“Desde 2010, as cinco maiores empresas petrolíferas gastaram muito mais do que geraram ao incluir pagamento aos acionistas. ExxonMobil, BP, Chevron, Total e Royal Dutch Shell distribuíram US$ 536 bilhões, em dividendos e recompra de ações desde 2010, um número que excede em muito os US$ 329 bilhões em fluxo de caixa livre no mesmo período”.

“Essa prática reflete uma fraqueza subjacente nos fundamentos dos modelos contemporâneos de negócios de petróleo e gás: as receitas das operações das grandes petroleiras não estão cobrindo suas principais despesas operacionais e gastos de capital”.

“Dividendos generosos e recompras de ações dão às empresas a aparência de desempenho financeiro confiável, quando, nesse caso, o oposto é verdadeiro”.

Enquanto isso, a ExxonMobil não está desacelerando, gastando em níveis agressivos, enquanto perfura o Permiano e tenta acelerar suas descobertas de petróleo na Guiana.

Segundo o Citigroup “A ExxonMobil precisaria que os preços do petróleo fossem negociados a cerca de US$ 100 o barril para que a empresa pagasse todos os seus gastos e também cobrisse os pagamentos dos acionistas”

Em situação desesperadora as petroleiras internacionais precisam aumentar suas reservas para sobreviver.

Considerando que os grandes investidores internacionais (BlackRock, Vanguard, JPMorgan etc) estão fortemente presentes no capital das grandes petroleiras e também na Petrobrás, podemos entender que , do ponto de vista deles, seria muito mais interessante ver todo o acervo da Petrobrás (reservas, refinarias do sudeste e tecnologia) transferidos para as petroleiras internacionais.

Existem dois aspectos fundamentais: as petroleiras internacionais conseguem captar recursos a custo quase zero, o que não acontece com a Petrobrás, tornando os investimentos muito mais baratos. Por outro lado as petroleiras internacionais tem muito mais liberdade na distribuição de dividendos (mesmo que de forma suicida) do que a estatal brasileira, sendo mais atraente aos investidores.

Hoje, o ambiente no governo e na administração da Petrobrás é plenamente favorável à atuação dos grandes investidores.

Países como a Grã-Bretanha e a Alemanha criaram fundos bilionários para defender suas empresas da ação predatória destes investidores. No Japão, as leis societárias não permitem a entrada destes investidores. No Brasil eles sequer são percebidos, e atuam livremente com lobistas agindo no governo e no Congresso.

Sabendo que o Secretário Especial de Desestatização, Salim Matar, já falou que a Petrobrás precisa ser privatizada sem alarde, sem que o povo perceba, e o presidente da empresa, Castello Branco disse que sonha com a privatização da companhia, não é difícil imaginar para onde estamos indo.

E O QUE OCORRERIA COM A PETROBRÁS ?

A Petrobrás encerraria suas atividades. Seria fechada. Sairia da vida para entrar na história.

 

E O QUE OCORRERIA COM O BRASIL? 

O Brasil continuaria a ser colônia, como desejam os administradores financistas da Petrobrás, a mídia hegemônica despudorada e nossa elite espúria.

 

*Cláudio da Costa Oliveira, é  economista aposentado da Petrobrás

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