Também permanece um mistério onde seus restos mortais podem estar, como os de tantos milhares de presos – desaparecidos naqueles sete anos tenebrosos nos quais transcorreu uma das ditaduras mais sangrentas da região, no âmbito da Operação Condor, liderada pela Agência Central de Inteligência (CIA).
De acordo com uma reconstrução, baseada em testemunhos de sua filha, sobreviventes e da equipe de antropologia forense argentina de seus últimos dias, alguns acreditam que seu corpo está em um campo esportivo próximo à antiga Escola de Mecânica da Marinha, um dos maiores centros clandestinos por onde passaram mais de cinco mil vítimas.
Mas Walsh, o autor da carta à junta militar, o ousado jornalista, o lutador pelas causas mais nobres, permanece até hoje na lista dos desaparecidos junto com cerca de 30.000 compatriotas que perderam suas vidas por simplesmente pensarem diferente.
De ascendência irlandesa, o autor da Operação Massacre nasceu em 9 de janeiro de 1927 na província de Rio Negro e chegou à capital argentina em 1941.
Ele dedicou toda sua vida à luta e trabalhou como jornalista até seus últimos dias em um período duro, cruel e sangrento.
Após o golpe militar de março de 1976, Walsh havia passado à clandestinidade como Norberto Pedro Freyre, graças a uma carteira de identidade que lhe foi dada por um amigo policial, mas já havia forjado sua identidade como Francisco Freyre quando investigou os tiroteios de José León Suárez, descritos no Operación Masacre (Operação Massacre).
Hoje, os argentinos não sabem onde está seu corpo, mas seus repressores sabem, como o recentemente capturado Gonzalo ‘Chispa’ Sánchez, extraditado do Brasil em maio do ano passado.
Fugitivo da justiça há vários anos, o ex-fuzileiro está preso na prisão Campo de Mayo depois de o governo do presidente Alberto Fernández tomar várias medidas que lhe permitiram ser enviado do Rio de Janeiro, onde foi capturado.
Sánchez, que havia escapado em 2005, é acusado de participar da força-tarefa que sequestrou e desapareceu com Walsh e de estar envolvido nos sinistros voos da morte.
Quarenta e quatro anos após seu assassinato, a caneta precisa, precisa e comprometida de Rodolfo Walsh é replicada nas vozes daquelas gerações que na Argentina e também da Prensa Latina, a agência que ele ajudou a fundar, e em outros países do continente continuam seu exemplo e seu legado.