21.5 C
Brasília
sábado, 20 abril, 2024

Qual a origem da atual tensão política e militar em Moçambique?

Afonso Dhlakama, líder histórico do grupo político e armado Renamo, de ideologia direitista e conservadora. (Foto de Adrien Barbier (CC BY-SA 2.0))
Fonte: Diário Liberdade
[Alcídio do Rosário Alberto Bombi*]
Em 2014, teve lugar em Moçambique as V eleições gerais (presidenciais, parlamentares e das assembleias provinciais). Mais uma vez, a Frelimo e o seu candidato presidencial, Filipe Jacinto Nyusi, saíram vencedores.
O maior partido da oposição, Resistência Nacional Moçambicana, e o seu candidato, Afonso Dhlakama rejeitaram o resultado do escrutínio, acusando a Comissão Nacional de Eleições de ter desencadeado fraude massiva em benefício da Frelimo e Filipe Nyusi.
Desde essa altura, o maior partido da oposição, usando os seus homens armados voltou a atacar as forças de defesa e segurança (Exército e Polícia) e alvos civis. Como consequência destas acções belicistas do antigo movimento rebelde, a circulação de viaturas e bens ficou condicionada na estrada Nacional Número Um, ligando o Sul, Centro e Norte do país. Aliás, a circulação é feita com recurso a escolta militar nos troços Muxúngue-Rio Save (117 km) e Nhamapaza-Caia (130km). De 1976 a 1992, a Renamo apoiada pelos regimes raciais da África do Sul e da Rodésia do Sul (actual Zimbabwé) liderou uma sangrenta guerra civil, cerca de um milhão de mortos, contra o governo marxista-leninista da Frelimo. Paralelamente a isto, as incursões armadas da Renamo tem-se registado nas províncias de Inhambane, Sofala, Manica, Zambézia e Niassa. Desde o dia 25 de Setembro de 2015, Afonso Dhlakama, líder da Renamo encontra-se em parte incerta, possivelmente no distrito de Gorongosa, na sua antiga base militar, estando cercado pelas Forças de Defesa e Segurança da República de Moçambique.
Como forma de ultrapassar a presente tensão político-militar, o governo e a Renamo, concordaram em constituir equipas mistas de preparação do encontro ao mais alto nível entre o Presidente da República e Afonso Dhlakama. Para o efeito, convidaram instituições e individualidades para mediarem o processo. Porém o impasse ten se agudizado, com a Renamo a exigir a governação das seis províncias, onde reclama ter vencido nas eleições de 2014, nomeadamente: Sofala, Manica, Tete, Zambézia, Nampula e Niassa. Importa frisar que as eleições de 2014 não eram provinciais, pelo que a pretensão da Renamo não encontra enquadramento, até porque a Constituição da República de Moçambique não prevê que o partido que vencer as eleições numa dada província possa nomear governadores. Á luz da Constituição, os governadores provinciais são nomeados pelo presidente da República. Da lista de reivindicação do partido Renamo, consta também a partilha de comando nas Forças Armadas (Exército, Marinha de Guerra e Força aérea), Polícia da República de Moçambique (Polícia de protecção, Polícia de Trânsito, Unidade de Protecção de altas individualidades, Polícia de Guarda Fronteira, Polícia marítima, Unidade de Intervenção Rápida e Serviços de Informação e Segurança do Estado) e a despartidarização do aparelho do Estado, que na óptica da Renamo alberga as células do partido Frelimo.
Enquanto o diálogo decorre na presença nos mediadores internacionais, as duas partes têm se acusado mutuamente de assassinatos dos seus membros. Na semana passada, a Frelimo revelou que dois militantes seus que desempenhavam as funções de primeiros secretários de comités de círculos, foram mortos por homens armados da Renamo. Por seu turno, a Renamo também tem denunciado assassinato de seus membros, o último dos quais é o seu chefe da bancada na assembleia provincial de Sofala, morto a tiro neste domingo.
Diante desta situação, é caso para perguntar: até onde o ser humano é capaz de chegar, para alimentar os seus desejos políticos, sem se importar com o sofrimento do povo?
Mais não digo, recebam um abraço fraterno de:
*Alcídio do Rosário Alberto Bombi (Estudante de Relações Internacionais e Diplomacia), para o Diário Liberdade.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS