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sexta-feira, 19 abril, 2024

Putin, homem do ano, novo líder global

Cesar Fonseca

FELIZ ANO NOVO , HUMANIDADE!Putin dá show diplomático em Obama depois de expulsar Estados Unidos da Síria.Obama, desmoralizado, expulsa diplomatas russos dos Estados Unidos sob argumento de que Rússia interferiu ciberneticamente nas eleições americanas.Não foi capaz de enxergar o próprio fracasso.Os americanos, eleição presidencial, derrotaram a estratégia de Obama e Hillary no Oriente Médio à custa da recessão e do desemprego nos Estados Unidos.Culpam os russos que saíram vencedores.Diante dessa manifestação de fracasso indisfarçado de Obama, Putim manda tapa de luva.Diz que não mexerá nos diplomatas americanos na Rússia.Já está de braços dados com Trump, que não acredita na patacoada do derrotado Obama, um dos piores presidentes americanos de todos os tempos, que extremou a guerra e fragilizou a economia americana, acelerando fragilização do dólar como desestabilizador global.A nova potência absoluta imperial não é mais a América: foi relativizada pela aliança Rússia-China.O século 21 começa agora.Bem-vindo, 2017!

A grande mídia empresa ocidental encerra 2016 murcha.
brinde-ao-amorComo não tem suficiente independência para analisar imparcialmente os acontecimentos mundiais, visto que é, praticamente, braço propagandista do poder anglo-americano imperialista, procura esconder o que está à vista de todos e que a história mostrará em letras garrafais: os Estados Unidos e a Otan foram os grandes derrotados no Oriente Médio, na tomada de Allepo, na Síria, onde americanos e europeus patrocinaram terroristas mercenários, ao lado dos radicais islâmicos,  para sustentar indefinida instabilidade, capaz de promover terceira guerra mundial.
A aliança tática e estratégica entre Rússia-Turquia-Irã, com indisfarçável apoio da China, derrotou os radicais terroristas, que se fortaleceram depois da queda do Iraque de Saddam, com amplo apoio americano-Otan, e evitaram a queda da Síria.
Forma-se, dessa maneira, nova correlação de forças no Oriente Médio, cujas consequências se descortinam em novos desdobramentos históricos na região, a partir de inevitável redução da influência dos Estados Unidos, agora, sob comando de Donald Trump, disposto a diminuir propensão natural americana de espalhar democracia à custa de guerras, golpes e chantagens.
Certamente, Trump sabe das coisas: o poder do dólar não é mais aquele, que fazia e desfazia, simplesmente, porque a plataforma de arranque do capitalismo americano, para essa tarefa, está se esgotando, se é que já não se esgotou.
O modelo keynesiano de guerra, sempre adotado por Washington, entrou em estresse.
brinde-ao-amorInicialmente, no pós segunda guerra, para levantar os aliados esfrangalhados, financeiramente, o jogo americano foi o de gerar, com o poderoso dólar, superávit financeiro, mediante emissões, ancoradas no ouro desses aliados, depositados em terras americanas, para bancar déficits comerciais, de modo a erguer a Europa e o Japão etc.
Caso contrário, cairiam, logo depois da guerra, nas garras dos comunistas da União Soviética.
A manutenção do jogo superávit financeiro x déficit comercial, no entanto, começou a bater biela, quando os aliados, fortalecidos no comércio com os americanos, quiseram retirar, nos anos 1970, suas reservas de ouro dos Estados Unidos, que sentiam crescer os déficits, provenientes da guerra contra Vietnan, cujas consequências começaram a abalar a força do dólar.
Em 1971, no governo Nixon, Washington rompeu a paridade ouro-dólar e deixou a moeda flutuar.
Os bancos americanos e ingleses, encharcados de dólar, saíram pelo mundo a fora emprestando a 4,5% ao ano pelo mundo afora.
Quando os devedores, na periferia capitalista, com aplicação dos empréstimos baratos, mostraram-se capazes de levantar indústrias e concorrer com os americanos, Washington, vingou: puxou os juros dos 4,5% para 21%, em 1979.
Quebradeira geral na periferia, obrigada, pelo Consenso de Washington, a entrar nos ajustes fiscais e ampliar privatizações, de bancos e empresas estatais, para pagar dívida impagável.
brinde-ao-amorNa sequência, os americanos impuseram aos aliados liberação geral das relações comerciais e financeiras, em nome da livre circulação de capital, do livre mercado e do poder imperial.
Cresceu e ampliou a potência americana, no ambiente da financeirização econômica global.
O poder de Washington parecia incontrastável, especialmente, depois da queda do Muro de Berlim, em 1989.
Profetizou-se, até, que a história havia acabado.
A era neoliberal seria eterna.
Mas, a desregulamentação geral dos mercados financeiros, a predominância da economia especulativa, papeleira, necessária para sustentar lucratividade ascendente da sobreacumulação de capital sem lastro real, não iria muito longe.
Implodiria na bancarrota de 2008.
A queda violenta do mercado financeiro especulativo, sobrevivendo no mar revolto dos derivativos de dólar, fragilizaria relativamente a moeda americana, tornando-a, a partir daí, inconfiável ao mercado global.
A dívida pública americana evidenciou-se incapaz, à moda keynesiana, de continuar dando segurança aos mercados, tendo os Estados Unidos como âncora geral do capitalismo.
brinde-ao-amorA China, que, nesse período, produziu macroeconomia apoiada em atração de grandes capitais, via juro baixo e incentivo fiscal, com compromisso de exportação, transformou-se, paulatinamente, na maior concorrente dos Estados Unidos, deslocando produtos americanos, fora e dentro dos Estados Unidos.
A Rússia, renascida das cinzas da União Soviética, destroçada em suas repúblicas componentes do antigo império, ganhou fôlego, mediante nacionalismo econômico.
E, no Oriente Médio, as instabilidades, multiplicadas pela opção americana de empoderar, a todo custo, Israel à custa da fragilidade dos demais países da região, materializaram-se em estratégias de aproximação destes com China e Rússia.
Certamente, a Rússia perdera a força, graças à rendição ao neoliberalismo, que levou à queda do Muro de Berlim; porém, manteve armas atômicas, cuja produção posterior foi retomada depois da remoção dos neoliberais do poder, Ieltsin e Gorbachov, mediante emergência de Putin e nacionalistas dominantes no Krelim.
As consequências da debacle americana de 2008 ainda não chegaram ao fim.
brinde-ao-amorOs Estados Unidos, de lá para cá, tiveram, como aliados problemáticos, tão somente, os europeus, comandados por Alemanha, França e Inglaterra, em meio a um continente economicamente devastado pelas consequências devastadoras dos ajustes fiscais impostos pela troika União Europeia-Banco Central Europeu-FMI.
Foram em grande parte para os ares as conquistas sociais democráticas europeias nos países mais fragilizados – Espanha, Portugal, Itália, Grécia, Irlanda etc – enquanto a poderosa Alemanha se transformou no algoz dos endividados, impondo-lhes restrições crescentes.
França e Inglaterra se transformaram em pálidas expressões de um poder vigoroso do passado.
Politicamente, o continente europeu, com euro valorizado em relação ao dólar, sucumbiu-se ao peso das divisões internas e das pressões advindas dos imigrantes como resultado perverso da ação desestabilizadora da Otan, no Oriente Médio, como aliada vulgar dos Estados Unidos.
Colhe a Europa o que plantou: miséria e instabilidade.
O Brexit – saída da Inglaterra da União Europeia – desenharia corolário da decadência europeia.
Igualmente, vitória de Trump, como produto do estresse neoliberal americano, expressa, hoje, empobrecimento crescente da classe média, saudosa do american way of life.
Nesse contexto de fragilidade econômica relativa do estado industrial militar americano endividado, com dificuldade para sustentar 180 bases militares espalhadas pelos cinco continentes, Washington foi, claramente, perdendo forças.
brinde-ao-amorBalançava o velho poder real americano, abalado por dívida pública, responsável por fragilizar o dólar e o sistema monetário global.
Era necessário disfarçar decadência com tragédia, que se iniciara, na sequência do desastre da invasão do Iraque, em 2003, ancorada em mentiras de que Saddam estava cheio de armas químicas.
Era resposta arranjada à derrubada, ainda não suficientemente explicada, do WTC, em 2001, seguida pelo patrocínio da primavera democrática árabe de araque, pura cortina de fumaça, para derrubar movimentos de renovação política ameaçadores das velhas lideranças políticas financiadas por Washington, no Oriente Médio.
Tio Sam, porém, não teve fôlego para completar o serviço, através da arregimentação de forças para derrubar Assad, na Síria, na sequência da destruição criminosa da Líbia, de Kadhafi.
Putin, nessa altura do campeonato, recuperara o prestígio da Rússia, incrementara estratégia de defesa nacional, com ampla repercussão mundial, estreitara laços com China e Irã e aproximara-se, organicamente, da Turquia, embora sob escaramuças crescentes de Washington, que, nesse meio tempo, financiou, por meio do FMI, golpe de estado nazista na Ucrânia.
brinde-ao-amorWashington tentava desesperadamente evitar a escalada diplomática do líder russo sobre a Europa, dependente do gás e petróleo russos etc, no compasso do desgaste de relações com Estados Unidos, depois da bancarrota de 2008.
Sobretudo, fortaleceu a nova aliança Rússia-China-Irã-Turquia a montagem dos BRICs – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – como movimento alternativo ao poder do dólar, fragilizado pela crise monetária especulativa, da qual Washington ainda não se libertou.
Os esgares de Obama, ao longo dos últimos oito anos(2008-2016), de intensificar guerras por procuração para mudar regimes ameaçados nos países aliados, bem como tentar fortalecimento da aliança EUA-Europa, em meio às bancarrotas financeiras, não apresentaram resultados brilhantes.
O Banco Central americano, nesse período, transformou-se em fantasma, tentando assustar o mundo, com promessas de aumentar taxa de juro, para enxugar liquidez mundial, de modo a reaver o antigo poder do império, como fez Paul Volcker, em 1979.
Mas, cadê bala?
Superendividados, os Estados Unidos não puderam mais usar a taxa de juro como arma de dominação; se o fizessem, a dívida pública, já fora de controle, jogaria o império ao chão.
Os americanos, depois do crash de 2008, caíram na armadilha da dívida; tiveram que ampliar oferta monetária sem limite; com isso, seguraram, no chão e em limites negativos, o custo do dinheiro, para evitar explosão da dívida e destruição das empresas; calotearam os detentores de títulos; exportaram os ativos para outras praças, valorizando, imperialmente, câmbio dos concorrentes.
brinde-ao-amorA taxa de juro zero ou negativa(excluída inflação) virou arma de concorrência americana para abocanhar ativos no exterior, mediante assaltos cambiais nas economias periféricas; no Brasil, por exemplo, o câmbio virou principal fator de pressão sobre o déficit público, não avaliado pela grande mídia, para não contrariar seus verdadeiros patrões, os banqueiros, únicos que ganham com as pedaladas via swaps cambiais.
Juro positivo é morte para economia americana, hoje; atrairia, para Estados Unidos, trilhões de dólares, que impactariam a dívida pública, jogando a economia para os ares.
A necessidade de remunerar, na circulação global, montante de dinheiro especulativo estimado em mais de 700 trilhões de dólares, frente ao PIB mundial inferior a 80 trilhões de dólares, segundo a ONU, inviabiliza recuperação sustentável da economia mundial sob coordenação do dólar, candidato, em tais circunstâncias, a ser problema e não solução global.
Eis porque o discurso dos BRICs, com o seu banco de desenvolvimento, disposto a tornar-se caixa de empréstimo e compensação em escala mundial, ganha sonoridade imensa; abala, portanto, o sistema monetário internacional falido do pós guerra, ancorado no dólar, no FMI e no Banco Mundial, sob coordenação dos Estados Unidos.
Putin, em tais circunstâncias históricas, transforma-se no novo líder global, enquanto Obama se revela triste falso líder, justamente, devido à impossibilidade de Washington, nesse novo contexto, sustentar guerras de dominação colonial, como acaba de acontecer, com o fim da invasão da Síria, da libertação de Allepo, das garras de Tio Sam.
A decadência de Tio Sam produziu as condições objetivas para surgimento de Putin como novo líder no século 21, que começa, para valer, em 2017, com decadência americana.

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