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sexta-feira, 19 abril, 2024

Presidente do Suriname é condenado por execução de opositores

Bouterse voltou ao poder em 2010, já no período democrático, após vencer as eleições presidenciais

DW

Dési Bouterse recebe sentença de 20 anos de prisão por envolvimento no assassinato de 15 críticos do governo em 1982, após o golpe militar. Oposição pede a renúncia do mandatário, que ainda pode recorrer da decisão.

Um tribunal do Suriname condenou o presidente do país, Dési Bouterse, a 20 anos de prisão por envolvimento nos assassinatos de 15 opositores políticos em 1982, após liderar um golpe de Estado.

Assim que a sentença foi anunciada na sexta-feira (29/11), a oposição pediu que Bouterse renuncie ao cargo. Ele está em visita oficial à China e deve retornar ao Suriname neste sábado ou domingo, cancelando assim uma viagem planejada a Cuba.

A informação foi repassada por Ramon Abrahams, vice-presidente do governista Partido Democrata Nacional, que disse estar em contato com o presidente por telefone. Ao jornal local De Ware Tijd, o político afirmou ainda que convocou uma reunião de emergência do partido.

O tribunal ainda não ordenou a prisão do mandatário, segundo fontes judiciais, que explicaram que Bouterse poderá recorrer da sentença. Ele esteve representado por seu advogado durante o julgamento e, até o momento, não fez comentários públicos sobre a decisão da corte.

Em comunicado oficial, o governo do Suriname disse que tomou ciência da decisão e apelou pela manutenção da paz no país sul-americano, que é uma ex-colônia holandesa.

A primeira reação internacional veio justamente da Holanda. Pelo Twitter, o ministro do Exterior do país europeu, Stef Blok, pediu que a sentença seja aplicada após a conclusão do recurso de apelação e afirmou que este é “um momento decisivo para a verdade”.

Em fevereiro de 1980, Bouterse liderou um golpe de Estado conhecido como a Revolução dos Sargentos, que derrubou o governo do então primeiro-ministro Henck Arron e o posicionou como o “homem forte” do país.

Meses depois, em agosto daquele ano, ele também derrubou o presidente Johan Ferrier, que acabou sucedido por Henk Chin A Sen, e criou um Conselho Militar Nacional (CMN).

As diferenças entre o poder civil e militar, surgidas em 1981 a partir da tentativa de reduzir o peso dos militares, levaram Chin A Sen a renunciar em fevereiro de 1982. Naquele ano, foi aprovada uma Constituição provisória, segundo a qual o governo seria eleito pelo CMN.

Bouterse exerceu a presidência do país durante dias em duas ocasiões: após o golpe de Estado de 1980 e na sequência da renúncia do presidente Chin A Sen em 1982.

Após uma sucessão de confrontos e revoltas, violentamente reprimidos pelos militares, em 8 de dezembro de 1982 um grupo de 15 opositores do regime militar foi executado em Fort Zeelandia, na capital Paramaribo, crime pelo qual Bouterse foi condenado nesta sexta-feira.

O tribunal entendeu que Bouterse supervisionou a operação em que soldados sob seu comando sequestraram 16 críticos do governo, entre eles advogados, jornalistas e professores universitários. Um deles, um líder sindical, sobreviveu e mais tarde testemunhou contra Bouterse.

Também foram condenados outros seis ex-oficiais militares, incluindo um ex-cônsul da Guiana Francesa, por terem removido de maneira forçada as vítimas de suas casas durante a noite ou por terem participado dos assassinatos.

Bouterse deixou as Forças Armadas em 1992 e passou a se dedicar à política, liderando o pró-militar Partido Democrata Nacional.

Em 1999, foi condenado por uma corte na Holanda por tráfico de drogas, mas conseguiu evitar a sentença de 11 anos de prisão porque não pôde ser extraditado ao país europeu, de acordo com as leis do Suriname.

Bouterse voltou ao poder em 2010, já no período democrático, após vencer as eleições presidenciais, sendo reeleito em 2015 e garantindo mais um mandato de cinco anos.

Tanto ele como seu partido tentaram diversas vezes obstruir os processos judiciais, que começaram em 2007. Em 2012, um Parlamento controlado pela sigla aprovou uma lei de anistia que dava imunidade a Bouterse, mais tarde invalidada por uma decisão judicial.

Críticos tacham Bouterse, hoje com 74 anos, de um ditador que se apegou ao poder em um país de 560 mil habitantes, que conquistou a independência da Holanda em 1975.

EK/ap/efe/rtr

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