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sexta-feira, 29 março, 2024

Plano e agenda dos EUA para balcanizar a Síria

© Abdalrhman Ismail / Reuters
Podem esquecer aquelas reuniões intermináveis entre Sergei Lavrov e John Kerry; podem esquecer o impulso da Rússia para impedir que o caos tome conta da Síria; podem esquecer a possibilidade de real cessar-fogo a ser implementado e respeitado por jihadistas prepostos dos EUA.
Podem esquecer qualquer investigação pelo Pentágono, do que realmente aconteceu no bombardeio que o Pentágono cometeu ‘por engano’ em Deir Ezzor.
A prova definitiva da real agenda do Império do Caos para a Síria, pode ser obtida num documento de 2012 da Agência de Inteligência da Defesa [ing. Defense Intelligence Agency (DIA)], que deixou de ser protegido por sigilo em maio do ano passado.
Se se rola o documento sempre adiante, lá na página 291, seção C, lê-se o seguinte (em maiúsculas no original):
“OCIDENTE, PAÍSES DO GOLFO E TURQUIA [QUE] APOIAM A OPOSIÇÃO [SÍRIA]… HÁ A POSSIBILIDADE DE ESTABELECER UM PRINCIPADO SALAFISTA DECLARADO OU NÃO DECLARADO NO LESTE DA SÍRIA (HASAKA E DER ZOR), E ISSO É EXATAMENTE O QUE DESEJAM AS POTÊNCIAS QUE APOIAM A OPOSIÇÃO, PARA ISOLAR O REGIME SÍRIO, QUE É CONSIDERADO COMO PROFUNDIDADE ESTRATÉGICA DA EXPANSÃO XIITA (IRAQUE E IRÃ)”.
O documento da DIA é um antigo documento sigiloso classificado como SECRET/NOFORN [Secreto/leitura proibida para estrangeiros] que passou por virtualmente toda a sopa de letrinhas da segurança dos EUA, do CENTCOM a CIA, FBI, DHS, NGA e Departamento de Estado.
O que ali se comprova é que há cerca de quatro anos, a inteligência dos EUA já distribuía suas fichas entre al-Qaeda na Síria, já estabelecida, codinome Frente al-Nusra, e o surgimento do ISIS/ISIL/Daech, codinome “Estado Islâmico”.
Já é de conhecimento público que, por decisão deliberada, vazada pelo atual conselheiro de Donald Trump, tenente-general Michael Flynn, Washington permitiu a emergência do “Estado Islâmico” – lembram aquele flamante comboio de Toyota brancas cruzando pelo deserto aberto? – como o mais conveniente dos agentes dos EUA, não como algum tipo de inimigo, na infindável sempre remixada GWOT (Global War on Terra), Guerra Global ao Terô, como diz Bush.
Está tudo perfeitamente claro: um “principado salafista” a ser encorajado como ferramenta para Dividir e Governar uma Síria esfacelada em caos perpétuo. Seja o principado estabelecido pela Frente al-Nusra – codinome “rebeldes moderados” no jargão do governo na Av. Beltway em Washington – ou pelo “Califato-Califalso” de al-Baghdadi, é detalhe chato, mas desimportante.
Interessante é Hasaka e Deir Ezzor aparecerem citadas no documento da DIA – e terem sido atacadas diretamente no ataque ‘por engano’ cometido pelo Pentágono há dias. Não surpreende que o chefão do Pentágono Ash ‘Império das Lamúrias’ Carter não tenha poupado nenhuma cabeça sobre a terra, no serviço de sabotar o que Kerry e Lavrov negociaram e ‘decidiram’.
Ninguém jamais verá essas conexões expostas em veículos da mídia-empresa nos EUA – como, por exemplo, comentada pela matilha de neoliberais que comanda as páginas de editorial do Washington Post. Mas as melhores páginas da blogosfera nunca desapontam.
Tudo isso posto, quais as opções da Rússia?
A pergunta crucial, claro, é o que fará a Rússia – depois de Vitaly Churkin, embaixador da Rússia na ONU ter sido absolutamente surpreendido pelo mais recente ato de novelão estrelado pela notória maluca, Samantha Power.
O que fará Moscou ante o fato de que toda a nebulosa descrita na Av. Beltway como “rebeldes moderados” – todos eles saídos da matriz ideológica wahhabista – goza e continuará a gozar, sobretudo em um eventual governo de Hillary ‘Senhora da Guerra’ Clinton, de uma conexão armada com CIA e/ou Pentágono?
O documento da DIA entrega tudo, numa clara ligação com todos os esquemas anteriores de Dividir para Governar, desde o plano Yinon de Israel, até o delírio chamado “Projeto para um Novo Século Americano” [ing. Project for a New American Century (PNAC)].
Em termos do Oleogasodutostão, tudo continua a girar em torno do gasoduto para gás natural do Qatar à Turquia – atravessando a Síria –, versus o proposto gasoduto de $10 bilhões Irã-Iraque-Síria, para o qual já há um memorando de entendimento.
Lavrov é diplomata de gênio o suficiente para deixar ver qualquer coisa – mas, depois de Deir Ezzor, Moscou já tem prova definitiva de que todo e qualquer cessar-fogo que hoje ou algum dia possa vir a ser negociado com Washington sempre será demolido.
Assim, a infindável Guerra Global ao Terô mais uma vez entra em metástase, de combater al-Qaeda “do mal”, para permitir que al-Qaeda na Síria e sua repetidora, o “Califalso”, escavem, cada um, o próprio espaço privilegiado na Síria.
Nada substancial acontecerá antes das eleições presidenciais dos EUA em novembro – além de outros ‘enganos’ similares a Ezzor ordenados por Ash Carter, futuro desempregado.
Depois… todas as apostas estão abertas. Para empresas fornecedoras do complexo industrial-militar-segurança-vigilância, a demonização da Rússia prosseguirá como oportunidade de negócios deveras “histórica”. E esperem só, caso as Três Harpias deem jeito de meter as garras no Império do Caos.*****

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