Em princípio, a solicitação para analisar ambos os recursos, apresentados pela defesa do ex-dirigente operário, foi adiada, mas de maneira inesperada o assunto apareceu em agenda do STF.
A juíza Carmem Lúcia Antunes aceitou o pedido do advogado Cristiano Zanin Martins, representante de Lula, para tratar com urgência as duas ações jurídicas que tentam libertar o ex-chefe de Estado.
Depois de cinco horas de deliberações, a sala segunda do Supremo determinou que o ex-sindicalista permaneça preso até agosto, quando novamente será analisado um habeas corpus.
No expediente de 73 páginas pede-se a libertação de Lula tendo em conta que o ex-juiz e ministro de Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, que o condenou em primeiro lugar em 2017 por supostos fatos de corrupção, atuou com parcialidade no processo.
Casualmente quando se votava no STF, o jornalista e advogado estadunidense Glenn Greenwald dissertava na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados sobre os artigos publicados desde 9 de junho no site The Intercept.
A partir dessa data, o portal traz à tona pública, de maneira intermitente, conversas, chats, áudios e mensagens entre Moro e promotoras da operação anticorrupção Lava Jato para coordenar e incriminar Lula, apesar da carência de provas para enviá-lo ao cárcere.
A publicação, que obteve as gravações através de uma fonte anônima, põe a nu como Moro orientou, alertou e estimulou o procurador Deltan Dallagnol, à frente de Lave Jato, durante os processos contra o ex-presidente.
Pelo que mostram os trabalhos jornalísticos, Moro, Dallagnol e seus comparsas atuaram de maneira marcada para criar uma farsa judicial e forjar acusações com a finalidade política de impedir o quase seguro triunfo de Lula nas eleições presidenciais de outubro.
Os conteúdos do grupo de jornalistas, liderados por Greenwald, também responsável pelos documentos publicados em 2013 de Edward Snowden, ex-agente da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos, mostram como a Lava Jato não é uma ação jurídica, mas uma operação política fora da lei.
Greenwald, sua família e parte da equipe do lugar receberam ameaças on-line desde a publicação da primeira reportagem da série, alertou o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ, por suas siglas em inglês).
Apesar de todas essas evidências que desacreditam Moro e colocam em dúvida sua imparcialidade, os cinco ministros do STF, com mais medo que justiça, votaram três contra dois e não aprovaram o recurso para libertar o fundador do Partido dos Trabalhadores (PT) e, de acordo com pesquisas, o melhor presidente na história recente do Brasil.
A respeito, a presidenta do PT, Glesi Hoffman, afirmou que o voto no Supremo ‘já tem uma vitória porque debateu a parcialidade do ex-juiz Sérgio Moro’.
Destacou que o ex-metalúrgico ‘foi julgado porque se está tornando cada vez mais evidente que esse processo não teve a sinceridade que deveria ter’.
Denunciou que ‘o juiz que deveria ser limpo e escutar o caso era o chefe da acusação, do Ministério Público. Moro orientava o que devia fazer a operação Lava Jato e articulava com a imprensa para condenar o ex-presidente’, ponderou.
Segundo a legislação brasileira, está proibido que o juiz aconselhe qualquer uma das partes, acusados ou defendidos, durante o julgamento.
Comentaristas políticos indicam que uma vitória e, portanto, a liberdade de Lula, por um ditame do STF teria aberto a caixa dos demônios do Governo de Jair Bolsonaro e a perda de controle do processo político por parte dos militares.
Para a deposta ex-governante Dilma Rousseff (2011-2016) , ‘Lula já não é uma pessoa, é uma ideia, um símbolo de como terminar com a vergonha do Brasil, sua pobreza, sua desigualdade e a perda de soberania’.
Quando em uma ocasião perguntaram ao ex-presidente por que o sistema responsável de sua detenção ‘tem medo de Lula livre’, respondeu: ‘Eles sabem que minha liberdade é parte importante da retomada da democracia no Brasil. Mas são incapazes de conviver com o processo democrático’.