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sexta-feira, 19 abril, 2024

O povo brasileiro é bíblico

Ricardo Mezavila*

O estágio civilizatório atual em que está assentada a sociedade brasileira, me reporta aos povos representados na bíblia. Confesso que acredito pouco no que ali está escrito, porque não existiu o contraditório, foram as mãos dos corruptos que escreveram e contaram a história à sua maneira.

Isso não é determinante para que o ceticismo não oculte as incríveis histórias de Maria e José, de Judas e João Baptista, de Jesus e Barrabás, de Lázaro e Pilatos, de César e Madalena, de Herodes e Salomé, por exemplo.

Sem querer blasfemar, mas já blasfemando, o primitivo adâmico é cult demais para a minha cabeça.

No Antigo Testamento está registrado que o povo de Sodoma era perverso, promíscuo e corrupto, e que a sede por sangue e chacina dominava a cidade, tanto é que seus habitantes desejavam matar até mesmo anjos. Nunca lhes ocorreu se arrepender e assim Deus fez chover do céu fogo sobre eles e os destruiu

Alguém escreveu em Gêneses a narrativa de que Deus, que é infalível, se arrependeu de ter criado o homem, por perceber que todos os projetos do homem tendiam para o mal.

Onisciência divina ou falta de caráter, a atual geração da sociedade brasileira se enquadra na condição de Sodoma.

Após o golpe de 2016, uma praga atingiu o Brasil e o irmão, o vizinho, a tia, começaram a falar outro idioma, a se comportarem de maneira estranha à cultura e ao modo de organização social e política.

A evolução dessa praga desencadeou uma série de manifestações públicas de ódio e preconceito, que alimentou uma espécie de zangão fascista que virou o mítico bode de ouro no altar dos fanáticos.

As presas dos presbíteros protestantes estão fincadas no comportamento dos fariseus que aceitam passivamente o incrível caso do presidente que não distribui testes, não compra seringas e doses de vacina, não prorrogou auxílio emergencial, assumiu que não consegue fazer nada e continua no cargo.

O brasileiro atual, o que elegeu Bolsonaro, comprova o que está escrito na bíblia e atribuído a Jeremias: “Ora, o meu povo é tolo e não usa a inteligência a seu favor; são imaturos, como crianças que ainda nada compreendem. Todavia, são espertos e hábeis para planejar e praticar tudo quanto é mal; contudo, são ignorantes e insensatos quanto a escolher e fazer o bem!”  

… E todo o povo gritou a uma voz: “Acaba com este! Solta-nos Barrabás!” 

O Brasil dos golpistas, da mídia a Eduardo Cunha, de Aécio a Temer, de Fernando Henrique a Sérgio Moro, de Janaína a Caiado, do MBL a Reinaldo Azevedo, de Serra a Aloysio Nunes, de Alckmin à Eliane Cantanhêde, de Merval à Simone Tebet, de Mirian Leitão a Lobão, de Anastasia a Bolsonaro, de Cristóvão Buarque a Hélio Bicudo, de Romário a Collor, da Lava Jato ao STF, de Lorenzoni a Magno Malta, de Gabeira a Alexandre Garcia, do DEM ao PSDB;

E o Brasil da resistência, de Dilma a Chico Cesar, de Gleisi à Jandira, de Lula a Leonardo Boff, de Frei Beto à Fátima Bezerra, de Vanessa Grazziotin a Lindbergh, de Requião à Benedita, de Pimenta a Wadih Damous, de Chico Buarque a Glauber Braga, de Maria do Rosário a Vicentinho, todas essas personagens e instituições fizeram com que eu deixasse de ser cético em relação a história contada na bíblia.

O Brasil provou que é possível que em uma determinada época coexistam pessoas de todas as tendências ideológicas e vozes díspares, com assento no poder e os pés na lama.

*Ricardo Mezavila, cientista político

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