22.5 C
Brasília
quinta-feira, 28 março, 2024

O coronavirus excita genocidas como Bolsonaro, abala a economia dos ricos e visibiliza a vida dos pobres

É difícil fazer análises e reflexões sem que a impotência, a emoção e indignação ocupem nossas almas e corações em uma quarentena científica e socialmente necessária, distanciados de outros amigos e povos do mundo que sofrem e sucumbem em estado de guerra contra um inimigo invisível, sem poder tocar e sentir, como sempre, o calor das multidões nas ruas, rumo à luta pela sua dignidade e justiça social. Mas, é fundamental nos isolarmos em casa; não para um salve-se quem puder, e sim, evitar a extensão da desgraça aos próximos, abraçando a solidariedade, valorizando todas as formas de comunicação, com a convicção de que a humanidade sairá desse claustro, decidida a construir com solidariedade e memória histórica um novo modelo global de sociedade justa e igualitária.
Helena Iono, correspondente em Buenos Aires
Não há mais dúvidas de que a epidemia do coronavirus e a catastrófica destruição vidas humanas, sobretudo na Itália, Espanha, EUA (com 1 morto a cada 6 minutos), e Brasil (segundo previsões dramáticas), continua pondo a nu, como nunca, de forma impiedosa, a total incapacidade e crueldade do capitalismo, do neoliberalismo financeiro, privatizante e destruidor dos Estados, agravando o estado de loucura de governantes como Bolsonaro, com evidentes expressões faciais e verbais de desiquilíbrio pessoal, somente vistas em ditadores nefastos da 2a. guerra mundial como Mussolini e Hitler.
Lamentavelmente o povo  norte-americano e brasileiro, pagarão com muitas vidas, atados pelos falsos postulados de Trump e Bolsonario, da tal da encruzilhada “entre a economia e a vida”. O atraso criminoso em tomar medidas sanitárias e adotar a quarentena frente à pandemia será uma catástrofe anunciada, para não dizer um atentado à saúde pública e à vida. O enfoque no combate ao coronavirus, ou a decisão pela quarentena pões em crise a ECONOMIA, sim, a dos PODEROSOS, das grandes fortunas, do capital financeiro, apressados em impor reformas econômicas criminosas, e os cortes-sociais de ministros como Guedes. Na economia brasileira, não faltam fundos de reserva (deixados por Lula/Dilma) para priorizar gastos de emergência sanitária em situação de guerra como essa; isso, sem contar uma imprescindível revisão da política financeira e dos lucros exorbitantes dos Bancos.
A Argentina, sim, tem uma economia destruída por Macri e seu clã, com uma dívida externa impagável às finanças internacionais, e no entanto, a prioridade do governo atual da Frente de Todos tem sido salvar vidas frente à pandemia; por isso, a quarentena é obrigatória, no território nacional, e com rigoroso controle de circulação dos cidadãos. As medidas de contenção do coronavirus na Argentina, como narradas no meu artigo anterior, aplicadas com ANTECIPAÇÃO evitando a tragédia italiana, têm tido um efeito importante. Os índices e a proporção entre contágio e mortes (1353 contaminados 42 mortos) são, até o momento, relativamente inferiores dentro da América do Sul.
O coronavirus põe na berlinda vários paradigmas. Trata-se de definir: ECONOMIA PARA QUÊ E PARA QUEM? Economia de mercado ou economia de Estado? Aqui na Argentina se está optando pela última, ou seja mais Estado para aplacar a tragédia dos pobres. E isso não se faz obrigando o retorno ao trabalho (diga-se de passagem,  para “carregar pedras”, e garantir a mais valia aos patrões, sem medidas sanitárias antivirais). E os desempregados, Bolsonaro, onde vão? Não podem ser desprotegidos, sem quarentena e dizimados como manada de mão de obra excedente durante a 2a. guerra mundial para salvar o capitalismo. No seu último comunicado à nação o presidente Alberto Fernandez deixou claro: “NÃO CAIA NO FALSO DILEMA, SE É A SAÚDE OU A ECONOMIA. NÃO ESTAMOS DEIXANDO A ECONOMIA DE LADO. ESTAMOS DANDO MUITA IMPORTÂNCIA À ECONOMIA”
Entre as medidas  econômicas mais urgentes na Argentina, como já citei em matéria anterior e repito, têm sido já iniciadas há mais de 22 dias atrás com o fechamento das fronteiras (terra, ar e mar):  Bônus familiar de emergência de 10 mil pesos aos trabalhadores autônomos e informais de baixa renda; um bônus aos aposentados de baixa renda, e um aumento da AUH (Subsídio universal por filho e grávidas); congelamento do aumento de aluguel por 6 meses; suspensão de cobrança de prestações de empréstimos hipotecários para aquisição de casa própria; crédito bancário para as pequenas e médias indústrias e comércios para pagar os salários dos trabalhadores; abastecimento de refeitórios populares para as crianças dependentes do Estado e do funcionamento das escolas para alimentar-se; hotéis, hospitais e obras sociais dos sindicatos à disposição de quarentenas e enfermos. É um grande desafio organizar um combate de guerra sobre uma terra arrasada por 4 anos de macrismo, com 35% de pobres (16 milhões) e 2% de indigentes (3,5 milhões). Enfim, persegue-se o objetivo de cumprir a quarentena obrigatória, com exceção de comércios e serviços básicos de atenção à população, para dar tempo de re-estruturação do sistema sanitário público, da aquisição de leitos, respiradores, testes e até chegar à descoberta universal de uma vacina cientificamente comprovada. A OMS incluiu a Argentina entre os 6 países que estudam a cura contra o coronavirus. Um cientista argentino, Daniel Katzman acaba de noticiar que há um projeto de vacina baseado no Interferon a ser apresentado junto ao governo nacional.
Um grande desafio são os Bancos e o sistema financeiro. Os mesmos que facilitaram a monumental fuga de capitais de Macri e dos magnatas do seu governo. As medidas de crédito às pequenas e médias empresas para a emergência coranavirus já existem, porém o Bancos não liberam o dinheiro a tempo. É muito difícil que os banqueiros e super-empresários ouçam a voz do Papa na sua homília no Vaticano: “Salve-se quem puder, não é uma solução! Demitir não é uma solução. Ao invés de demitir, há que acudir”. “Seria triste ver um genocídio virósico”. Se êle diz isso, é porque no mundo capitalista isso já está ocorrendo em massa. Nos EUA já há novos 700 mil desempregados. Como fará o Estado a estruturar esse SISTEMA FINANCEIRO A SERVIÇO DA PRODUÇÃO e evitar um genocídio? Quem vai pagar a dívida externa argentina? O povo que morre de fome e de coronavirus, ou Macri? Depois de contar os mortos e vivos do coronavirus se fará o ajuste de contas. O FMI que espere, pois os idosos e os que têm fome não podem esperar.
Vejam que hoje, após 14 dias de quarentena, reabriram-se os Bancos exclusivamente para o pagamento de pensão e bônus de emergência a aposentados e beneficiários de subsídio familiar e grávidas. Uma medida correta, aplicada com um erro logístico brutal, e evitável, convulsionou o governo e a sociedade. A falta de planificação e previsão atribuída ao Banco Central, ao ANSES (INSS) e Bancos, produziu um desastre: contrariando todas as normas sanitárias de distanciamento, filas intermináveis de idosos, e jovens pais e mães formaram-se desde a madrugada nas portas dos Bancos. Dirigentes e burocratas não previram o estado de ânimo e desespero dos pensionados, dos quais, 90% são indigentes, produtos da era Macri. No entanto, em se tratando de um governo popular há correções. Houve uma furiosa reação e severa crítica interna de Alberto a funcionários. Revê-se com urgência o erro e a atenção aos idosos; medidas anti-burocráticas já estão se dando, sobretudo na rede bancária. A enorme fila é também produto de que somente 3 Bancos privados fazem o pagamento das pensões, e os demais se dedicam ao comércio. Novamente na berlinda a economia de mercado. É hora que o Estado esteja mais presente na atuação dos Bancos privados, para que todos se ocupem do pagamento das pensões, como já foi proposto pelos sindicatos da Associação Bancária.
Não apenas medidas econômicas e quarentenas pautam a luta contra o coronavirus.  A POLÍTICA é sempre necessária como motor das ações sócio-econômicas. A política de coordenação exercida com firmeza contra o coronavirus pela presidência de Alberto/Cristina com ministros, governadores, prefeitos e legisladores, incluindo a oposição, é imprescindível. E a política é necessária sim, com legisladores, com Congresso nacional (mesmo com quarentena e trabalho à distância como na Argentina). No transcorrer da luta contra a pandemia, houve um fato desestabilizar. O industrial Paulo Rocca, dono da Techint, indústria de engenharia e construção de alto porte, demitiu 1450 trabalhadores, alegando crise, tendo recebido 300 milhões de dólares de subsídio estatal no último ano de Macri. O Grupo Mirgor, da qual Nicolas Caputo, o amigo-sócio de Macri é acionista, ameaça demitir 700 trabalhadores. Alberto Fernández destacou que tratam-se de empresas que não perderam, mas só deixaram de ganhar algo, e deu um forte recado: “Vou ser muito duro também com quem demite pessoal. Ninguém aqui pode se salvar só. Não podemos, em uma crise como essa, desamparar as pessoas deixando-as sem trabalho”. Techint teve que readmitir os trabalhadores. E o governo decretou a proibição de demissão nas empresas privadas por 60 dias.
No mesmo dia, a ala direitista de Cambiemos-PRO, a mídia hegemônica, e seus trolls nas redes, orquestraram um panelaço reacionário, pela “redução do salário dos políticos”, apoiando-se em setores da classe média, dos que têm a geladeira cheia, tentando usufruir do desconforto social em quarentena, numa manobra divisionista e oportunista, dos inoculadores do ódio. O objetivo nefasto é instigar com a “anti-política” a política da divisão de classes favoráveis à corporação oligárquica. O MESMO SLOGAN DA POLÍTICA E DA “ANTI-POLÍTICA” QUE LEVOU MACRI E BOLSONARO AO PODER. Não é casual, justo quando a Frente de Todos conseguiu atrair a maioria dos políticos de Cambiemos-PRO na luta contra o coronavirus, e quando o respeito por Alberto/Cristina aumenta na classe média em plena quarentena. No entanto, a maioria dos empresários, já beneficiados por créditos de quarentena, não se sentem ameaçados pelo governo, nem aderem aos panelaços. Existe sim, grande preocupação pelo andamento da economia global em colapso mundial durante e após a pandemia.
A POLÍTICA E A ECONOMIA NECESSÁRIAS são todas ao revés da criminosa medida provisória 936 de Bolsonaro contra os trabalhadores. A política necessária aqui na Argentina acaba de decretar, através do Ministério da Saúde, um “SISTEMA SANITÁRIO DE IGUALDADE A TODAS AS PESSOAS”. Isto é, o Estado intervém em caso de emergência na disponibilização de leitos hospitalares das estruturas sanitárias privadas. Na Argentina há 8.500 leitos com respiradores e 11.000 respiradores (cerca de 70% do Estado). Alberto Fernandez vai pedir outros 1500 respiradores à China. As empresas podem importar respiradores com isenção, mas os de produção nacional passam a ser todos do Estado. As fábricas de fardas do exército estão convocadas pelo Ministério da Defesa a fabricar máscaras e álcool gel.
Combater os ESPECULADORES no comércio e a alta gigantesca dos preços dos alimentos nos super-mercados, açougues e quitandas é outro desafio. Inspetores são convocados para aplicar dura sanção no início da cadeia de distribuição de marcação dos preços e atacadistas.  Como na Venezuela, um dos maiores sabotadores da revolução foram os distribuidores e retentores de alimentos. Aí também toca ao ESTADO, exercer o monopólio e o controle. A mão dura do Estado, quando se trata de UM ESTADO QUE DEFENDE A SOBERANIA NACIONAL A FAVOR DAS MAIORIAS POBRES NÃO É UMA DITADURA, MAS UMA DEMOCRACIA VERDADEIRA. A quarentena obrigatória, bem como o combate aos especuladores,  são atos democráticos. É hora também de se definir o que é democracia. Democracia para quê e para quem. Democracia com controle social contra os especuladores!
Outro debate que o coronavirus põe à luz é: EXÉRCITO PARA QUÊ E PARA QUEM? Qual o papel dos militares? A Venezuela de Hugo Chávez e Maduro foi a que melhor redefiniu o seu papel na América Latina dos últimos tempos. O exército bolivariano de braços com a união cívico-militar é a que defende a soberania nacional, e atende a população na luta contra o coronavirus casa por casa. O empenho do Ministério da Defesa argentino em mobilizar soldados para organizar a distribuição de sopa e comida à população pobre, e ajudar na construção relâmpago de 8 hospitais itinerantes e de campo serve à nutrir consciência social do soldado, e formá-lo a serviço do povo e não da repressão, dentro de um exército manchado pela história por uma cúpula genocida dos anos 70 e atiçada pelo macrismo. Faz bem o governo ao apelar, sem apagar a memória, à consciência de um exército que soube, por outro lado, defender a soberania nacional na guerra das Malvinas, e socorrer os inundados da Operação Dorrego (1973)  e de La Plata durante a presidência de Cristina Kirchner. Por outro lado, medidas são necessárias para conter abusos de poder inoculados na Polícia civil ou “gendarmeria” pela ex-ministra de Segurança Pública de Macri, Patricia Bulrich, que se expressam em alguns casos de controle violento a transgressores de quarentena nos bairros pobres. Enfim, um filtro e um novo conceito de proteção social é necessário também no exército e nos serviços de segurança.
Enquanto escrevia estas reflexões ouvi a entrevista do presidente Lula à mídia independente. Que alívio! Abre-se um sol de esperança no claustro de nossas quarentenas assustadas pelo desgoverno criminoso de Bolsonaro. Lula dá uma lição de como deve atuar um governo responsável, à altura do grande estadista que foi e deveria ser, não fosse o maldito golpe do lawfare no Brasil. Lula confirma ser a única liderança capaz de orientar e reunir politicamente todas as forças de combate e oposição para salvar o povo brasileiro de uma catástrofe. Só é preciso ver como afastarão de campo urgentemente o bolsovirus.
Restam duas perguntas que me faço: um novo modelo de mundo virá só depois da batalha ao coronavirus ou durante? Será que ninguém pensa que o fato de que as únicas ajudas humanitárias e científicas contra os coronavirus chegam de países socialistas, através de aviões, navios e caminhões russos, chineses e cubanos, tem a ver com o novo mundo possível?

ÚLTIMAS NOTÍCIAS