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sexta-feira, 19 abril, 2024

INDIVÍDUO, ESTADO, IGREJA E ELEIÇÃO DE 2018

Pedro Augusto Pinho*

A Igreja Católica sempre teve participação ativa na política brasileira. Desde as pregações escravista do Padre Antônio Vieira às práticas libertárias de Dom Pedro Casaldáliga, muito do que tivemos de bom e de mal na condução do Estado veio dessa influência.

No mês de abril esteve reunida em Aparecida, São Paulo, a 56ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). E dentre os documentos emitidos está a mensagem dos bispos sobre a eleição de 2018.

Em primeiro lugar devemos louvar o compromisso com a democracia, enfatizando a importância da manifestação popular, da legitimidade que vem unicamente do voto para condução da Nação.

Também, como é de se esperar e constitui permanente crítica eclesiástica, a prioridade da vida, da justiça, do processo igualitário e da ética sobre a rendição ao lucro, aos bens materiais, ao Mercado e, incluiria eu neste mesmo espírito, aos desígnios do sistema financeiro internacional nas opções eleitorais.

Transcrevo de “Eleições 2018: compromisso e esperança” das mensagens da CNBB: “é fundamental identificar com clareza os interesses subjacentes a cada candidatura. Não merecem ser eleitos ou reeleitos candidatos que se rendem a uma economia que coloca o lucro acima de tudo, nem os que propõem e defendem reformas que atentam contra a vida dos pobres e sua dignidade”.

Façamos agora uma reflexão sobre estas palavras.

O pensamento escravista de hoje coloca uma dicotomia: Estado e Mercado.

O Estado representa todos os males, toda incapacidade, toda corrupção e o Mercado a virtude da eficácia e da honra. Seria para gargalhar não fosse este pensamento que se denomina liberal ou neoliberal o mais corrupto e desumano dos que correm o mundo.

Nem preciso, para meus atilados leitores, discorrer sobre a importância do social, do atendimento igualitário a todos, das preocupações que apenas o Estado pode dar respostas. Sem Forças Armadas retrocedemos às milícias, sem políticas públicas voltamos à escravidão, sem educação pública apenas difundiremos ignorância.

A importância do Estado, nesta época do domínio financeiro, é tão grande que você, caro leitor, é bombardeado dia e noite, por todas as formas de comunicação, com a ideia de Estado mínimo, de instituições independentes (do controle estatal, logo nacional), de privatizações que, na verdade, constituem assaltos aos patrimônios construidos com o trabalho e a economia de todos os brasileiros.

Voltemos à mensagem dos Bispos: “há necessidade de políticos que anteponham o bem comum aos seus interesses privados, que não se deixem intimidar pelos grandes poderes financeiros e midiáticos, que sejam abertos a ouvir e aprender no diálogo democrático, que conjuguem a busca da justiça com a misericórdia e a reconciliação”.

Veja quanto o governo dos golpistas se afasta destas exigências. A covardia de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) diante da mídia hegemônica, familiar, oligopolista, passando a vergonha de se desdizer no mesmo parágrafo da enunciação do voto. O ódio disseminado contra os opositores ou pelos simplesmente diferentes por um dos candidatos à Presidência. A subserviência de quase todos aos financiadores de campanha, e que se escondem nas críticas ao financiamento público, como se as retribuições, com verbas públicas, a estes financiadores custassem menos à Nação.

E, não menos hostil ao País e aos brasileiros, a ausência de diálogo imposta pela ditadura do judiciário, fraudando a verdade e rasgando a legislação para condenar o opositor, nem mesmo um inimigo, de sua arrogante classe.

Ao fim do documento é exortada a população a não esmorecer, não deixar que o desencanto das traições, da intolerância, das sofridas perdas levem ao desespero, ao abandono da busca por soluções democráticas, que a eleição deste ano é o caminho.

Para tanto é preciso atuar, se engajar, participar e estar atento às farsas, às falsas notícias, ao “fake news” que os poderes financeiros inundam nas redes sociais, e que os rádios e os canais de televisão – dominados por um grupo de famílias que, sem compromisso com o Brasil, deles se apossaram – passem a divulgar impunemente.

Muito cuidado, caros leitores. O Ministro Fux, que não se negou a votar no Supremo Tribunal Federal em oposição a preceito constitucional, afirma em palestra, neste mesmo mês de abril, que “as eleições podem ser anuladas pela existência de fake news”. Ora quem é suficientemente poderoso, tem recursos inclusive para criar estação de rádio, que funcionará num único período eleitoral? A banca ou o MST? Os banqueiros ou os bancários? O que me assusta nesta alocução do ministro é o absoluto inconformismo, a total rejeição ao acolhimento da vontade popular.

Já recebemos afirmações de quem não se aplicou um golpe para três anos. A vitória das forças populares e nacionalistas precisa ser seguida e acompanhada de grande mobilização para se tornar efetiva.

A sujeição aos caprichos da banca, do sistema financeiro opressor, tira-nos, na própria mensagem pastoral da Igreja, a dimensão do ser humano. Fica a escravidão de uma vida voltada a produzir lucros para terceiros e a que está nas propostas dos golpistas de 2016: fim dos direitos trabalhistas e previdenciários, fim do Estado Social, fim da sobrevivência pela Bolsa Família, pela Clínica da Família do Sistema Único de Saúde (SUS) e a entrega da Nação Brasileira ao controle dos capitais financeiros internacionais.

Não aos golpistas, não aos traidores, não aos agentes estrangeiros.

*Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado 

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