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sexta-feira, 29 março, 2024

FMI: Confessa o pecado, para pecar outra vez

Para FMI & Meirelles, Brasil e Grécia é tudo a lesma lerda

Yanis Varoufakis, “Thoughts for the post-2008 world”
https://yanisvaroufakis.eu/2016/07/31/FMI-confessing-to-the-sin-in-order-to-repeat-it/
Todos leram sobre a mais recente confissão do FMI, no crime de imolar a Grécia. A questão é: a confissão sinalizaria qualquer mudança nas políticas? Dispensa-se qualquer suspense: a história recente aponta na direção de que repetirão o crime-contra-a-lógica cometido pela primeira vez em 2012 – o FMI repete a tática de confessar o pecado, para repetir o pecado, sem castigo!

Em junho de 2015, Olivier Blanchard, então economista-chefe do FMI, publicou um artigo  que à primeira vista parecia razoável: os dois lados (a troika e Atenas) deviam fazer concessões, reconhecer que os dois lados tinham responsabilidades na Grande Depressão da Grécia (atroika por ter não ter promovido nenhum alívio na dívida; e Atenas por não ter feito reformas suficientes). Exame mais detido daquele artigo, porém, revelou que Blanchard servia-se daquela publicação para ‘alertar’ que o FMI preparava-se para esmagar a Grécia. Outra vez!

Bill Black respondeu a Blanchard com artigo cortante intitulado “A ‘defesa’ do FMI, das ações contra os gregos, é confissão involuntária” [ing. The FMI “Defense” of it Actions against the Greeks is an Unintended Confession (15/6/2015)]. A essência do argumento de Bill:

 “Ainda que acreditasse nos próprios dogmas e nas próprias ‘projeções’ estupidamente otimistas, o plano de 2012 da troika foi concebido para deixar a Grécia em situação econômica desastrosa. Só depois de ter condenado o povo grego ao purgatório mais sem sentido, de uma década de desastre, a troikaconsideraria admitir algum alívio na dívida (…). O único ‘alívio da dívida’ que se dispõem a discutir é um ‘longo reescalonamento de pagamentos com juros baixos’. Isso, segundo os próprios dogmas datroika, encarcerará a Grécia numa armadilha-de-dívidas de longo prazo, que reduzirá materialmente o crescimento da Grécia por décadas, e deixará o país constantemente vulnerável a crises financeiras. É receita de desastre para Grécia, Itália e Espanha (coletivamente, 100 milhões de cidadãos) e para a União Europeia. É loucura financeira – e ignora a instabilidade política que causará, e que obrigará uma nação membro da União Europeia a curvar-se até o chão e assim ficar, por 50 anos.”

Impressionantemente, essa descrição de Bill Black, do crime-contra-a-lógica que a troika cometeu em 2012, aplica-se perfeitamente hoje, para descrever o terceiro acordo de ‘resgate’ imposto ao governo grego, poucas semanas depois de Black responder a Blanchard.

Exatamente como em 2012, novamente a troika, com o FMI perfeitamente engajado a bordo, estão ‘implementando’ um programa que eles sabem que falhará, ao mesmo tempo em que prometem a Atenas que, em 2018, a Grécia receberá a mesma forma de não alívio que lhe foi prometido (mas nunca entregaram) para o final de 2014 (o tal ‘longo reescalonamento de pagamentos com juros baixos’).

As únicas duas diferenças entre 2012 e 2015 são: (A) Em 2015/6 a economia grega está ainda mais frágil do que estava em 2012, o povo grego ainda mais próximo de cair em desespero absoluto. E (2) Em 2012, o ‘programa’ tóxico, ilógico da troika estava sendo implementado por um governo que representava o ancien regime oligárquico e corrupto responsável pela crise. Em 2015/6 o ‘novo’ ‘programa’ da troika, tóxico e ilógico, está sendo implementado por governo de esquerda, o que nega aos gregos a esperança de que alguma eleição conseguirá pôr termo à dor dilacerante e desnecessária.*****

Tradução: Vila Vudu

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