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sexta-feira, 19 abril, 2024

Dez casos urgentes de crimes e ameaças contra jornalistas em 2020

Ativista em Hong Kong protesta contra a prisão da jornalista chinesa Zhang Zhan

A iniciativa de veículos de mídia One Free Press divulga mensalmente uma lista de casos de abusos contra membros da imprensa. Nova relação destaca perseguição a jornalistas na China, Belarus, Egito e Arábia Saudita.

A One Free Press Coalition reúne cerca de 40 veículos de comunicação de todo o mundo, incluindo a DW. A iniciativa visa denunciar crimes e ataques contra jornalistas e divulga mensalmente uma relação dos 10 casos mais urgentes de membros da imprensa no mundo cujas liberdades estão sendo suprimidas ou que buscam por justiça.

A lista de janeiro de 2021 destaca o “ano da liberdade de imprensa”, ressaltando a ampla variedade de ameaças enfrentadas por jornalistas ao longo do ano que chega ao fim.

1. Zhang Zhan (China)

Zhang Zhan, ex-advogada e jornalista independente de 37 anos que postava reportagens de Wuhan no Twitter e no YouTube desde o início de fevereiro, foi condenada nesta segunda-feira a quatro anos de prisão pelo seu trabalho, que realizada por conta própria, sem vínculo com nenhum veículo de imprensa. Ela foi condenada, em julgamento sumário, por “provocar distúrbios e afetar a ordem pública” com sua cobertura sobre o início caótico da pandemia na cidade chinesa. Ela havia desaparecido em 14 de maio, um dia depois de publicar um vídeo criticando as medidas do governo para conter o coronavírus. Xangai emitiu um aviso afirmando que Zhang havia sido presa. Há crescente preocupação sobre a saúde de Zhang, que está detida desde maio. Ela iniciou uma greve de fome em junho e tem sido submetida a alimentação forçada por meio de sonda nasogástrica. Sua equipe de advogados disse que a sua saúde estava em declínio e que ela sofria com dores de cabeça, tontura e dor estomacal. A China é o país que mais encarcera jornalistas, segundo o Comitê para Proteção dos Jornalistas (CPJ), com 47 jornalistas atrás das grades. Em dois casos separados, os jornalistas Chen Qiushi e Li Zehua desapareceram depois de reportar sobre a covid-19 de Wuhan e reapareceram meses depois.

Pressebilder Solafa Magdy Solafa Magdy enfrenta condições desumanas na prisão no Egito

2. Solafa Magdy (Egito)

Em 2020, o Egito esteve entres os países líderes na prisão de jornalistas sob acusações de notícias falsas. Isso inclui Solafa Magdy, uma repórter freelance que passou mais de um ano atrás das grades. Desde sua prisão em novembro de 2019 por cobrir temas relacionados a imigração e direitos humanos no Cairo, promotores estatais entraram com acusações adicionais por crimes supostamente cometidos durante a prisão preventiva. Ela foi acusada de pertencer a um grupo proibido e de divulgar notícias falsas. A saúde de Magdy tem sido afetada na prisão por negligência médica deliberada e condições carcerárias desumanas. Um colega jornalista egípcio Mohamed Monir morreu vítima da covid-19, depois de contraí-la enquanto estava preso aguardando julgamento.

3. Katsiaryna Barysevich (Belarus)

A Belarus tinha 10 jornalistas presos no começo deste dezembro, em comparação a zero em 2019. A polícia do país tem detido rotineiramente e processado jornalistas que cobrem protestos antigovernamentais por “participação em manifestações não autorizadas” e condenando-os a estadias curtas na prisão ou multas. Katsiaryna Barysevich, que foi presa em novembro de 2020 sob acusação de violar o sigilo médico com “graves consequências” em um artigo, enfrenta acusações criminais puníveis com até três anos de prisão. Barysevich é integrante da equipe do site de notícias independente Tut.by e vinha cobrindo protestos em todo o país que eclodiram após a eleição presidencial de 9 de agosto.

4. Dindar Karatas (Turquia)

O jornalista curdo Dindar Karatas foi detido e seu equipamento foi confiscado em novembro na cidade de Van, no leste da Turquia. Ele foi submetido a interrogatório sobre suas reportagens e preso enquanto para aguardar julgamento, acusado de ser membro de uma organização terrorista, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). Karatas trabalhava como repórter para a agência de notícias pró-curda Mezopotamya, cobrindo uma série de tópicos envolvendo acusações de tortura por funcionários do Estado, direitos de prisioneiros e a questão curda. Um advogado de Karatas disse aos promotores que seu cliente escreveu mais de 100 reportagens sobre diferentes assuntos para a Mezopotamya durante o tempo em que trabalhou na agência, e escolher 10 a 15 histórias e chamá-las de propaganda terrorista não é suficiente para uma acusação.

José Abelardo LizJosé Abelardo Liz levou morreu com um tiro no peito. Os assassinos não foram punidos

5. José Abelardo Liz (Colômbia)

O Índice de Impunidade do CPJ mostra que em 8 de cada 10 casos os assassinos de jornalistas não são punidos. Em 13 de agosto, José Abelardo Liz foi baleado e morto durante uma campanha militar de dois dias para remover membros do grupo indígena Nasa de terras próximas à cidade colombiana de Corinto, no oeste do país. Liz, de 34 anos, era membro do grupo indígena Nasa e apresentava um programa diário de notícias e cultura chamado El Sabor de la Tarde. Um porta-voz da comunidade Nasa disse que os soldados “atiraram indiscriminadamente” contra civis e atiraram no peito de Liz. Até o momento, não houve nenhum progresso na investigação.

6. Maria Elena Ferral (México)

Pelo menos cinco jornalistas morreram no México em 2020. Dois homens em uma motocicleta atiraram em Maria Elena Ferral pelo menos três vezes em 30 de março, quando ela deixava um cartório local na cidade de Papantla, no estado de Veracruz. Ela foi levada às pressas para um hospital e morreu durante a cirurgia. Ferral escrevia para o jornal El Diario de Xalapa e também cofundadora do El Quinto Poder, um site de notícias local. As autoridades estaduais de Veracruz emitiram mandados de prisão para pelo menos 11 pessoas supostamente envolvidas no assassinato e prenderam seis dos suspeitos nas semanas seguintes. A filha de Ferral disse que a vida de sua mãe estava em perigo por causa de seus artigos sobre os assassinatos de vários candidatos a prefeito de Gutiérrez Zamora.

7. Luis Alonzo Almendares (Honduras)

Cerca de 96% dos jornalistas mortos em 2020 eram repórteres locais. O freelancer Luis Alonzo Almendares foi baleado três vezes por dois indivíduos em uma motocicleta em setembro na cidade hondurenha de Comayagua. Os atiradores fugiram, e o jornalista foi levado a um hospital local, onde morreu na manhã seguinte. Almendares postava seus artigos sobre assuntos locais em sua conta do Facebook, onde se identificava como “A Voz dos Comayaguans”. Ele tinha mais de 40 mil seguidores e relatava frequentemente sobre casos de corrupção e má gestão por parte de autoridades locais. Em meados de outubro, um porta-voz da polícia disse que as provas estavam sendo analisadas, uma hipótese para o caso ainda estava sendo analisada e que não havia ocorrido nenhuma prisão. Não houve progresso na investigação.

Malala MaiwandJornalista afegã Malala Maiwand foi assassinada por atiradores

8. Malala Maiwand (Afeganistão)

Malala Maiwand, repórter da rádio e TV Enikass na província afegã de Nangarhar e ativista dos direitos das mulheres e da sociedade civil, foi morta junto com seu motorista em dezembro, quando homens armados abriram fogo contra seu veículo. Ela estava indo trabalhar em Jalalabad, a capital da província. No início do ano, Maiwand havia mencionado que estava recebendo ameaças. Seu assassinato ocorreu depois de representantes do governo afegão e do grupo militante Talibã concordaram em prosseguir com as negociações de paz.

9. Raif Badawi (Arábia Saudita)

Raif Badawi é um blogueiro conhecido por defender o secularismo e um sistema liberal de governança local na ultrafundamentalista Arábia Saudita. Em 2006, ele fundou um fórum de discussão online chamado Liberais Sauditas, que em 2008 já havia crescido para mais de mil membros registrados que discutiam regularmente sobre religião e política. Por seu apoio à discussão livre sobre os valores liberais, ele foi condenado em 2012 a 10 anos de prisão, mil chibatadas, uma multa de 1 milhão de riais sauditas (aproximadamente R$ 1,4 milhão) e 10 anos proibição de viagens e atividades de mídia, começando após sua saída da prisão. Em janeiro de 2015, 50 das mil chicotadas foram aplicada em sessão pública. Ele tem enfrentado problemas médicos na prisão. Ele fez uma breve greve de fome em agosto de 2020, acusando falta de proteção na prisão, depois de ser atacado por outro preso.

Arzu GeybullaColunista Arzu Geybulla recebeu ameaças pela internet

10. Arzu Geybulla (Azerbaijão / Turquia)

A jornalista azerbaijana Arzu Geybulla, atualmente morando na Turquia, foi alvo de uma campanha de assédio online via Instagram, Twitter e Facebook após a publicação de um artigo de opinião acusando-a de desrespeitar as vítimas do conflito Azerbaijão-Armênia. Geybulla é colunista e escritora. Sua ênfase especial é o autoritarismo digital e suas implicações nos direitos humanos e na liberdade de imprensa no Azerbaijão. Antes deste incidente, ela detalhou em 2016 ter recebido várias ameaças de morte e inúmeras mensagens com ameaças a ela e à sua família. O endereço da casa dela foi publicado na internet, acompanhado de ameaças de estupro e violência física.

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