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quinta-feira, 28 março, 2024

De 2018 a 2019 – revisão rápida de algumas tendências

SakerThe Vineyard of the Saker (Tradução de btpsilveira, (versão corrigida e revista)

(Análise escrita originalmente para o site Unz Review)

O ano de 2018 entrará para a história como o de uma reviravolta na evolução do ambiente geoestratégico de nosso planeta. Houve várias razões para isso, e não conseguirei enumerá-las todas. Mas listo aqui algumas que considero as mais importantes.

O Império piscou. Várias vezes.

Foram os acontecimentos mais marcantes do ano: O Império Anglo-sionista fez todo tipo de ameaças terríveis, chegando a tomar algumas medidas realmente assustadoras, mas eventualmente, voltou atrás. Na realidade, o Império está em retirada em muitos fronts, mas vamos listar apenas alguns, cruciais.

RPDC (República Popular Democrática da Coreia, “Coreia do Norte”): Vocês se recordam de todas as impressionantes ameaças feitas por Trump e seus capangas neocons? A administração chegou a anunciar quemandaria TRÊS (!) grupos navais de ataque com porta aviões nucleares para as águas da Coreia do Norte, enquanto Trump esbravejava que iria “destruir totalmente” o país. Os sul coreanos eventualmente resolveram cuidar eles mesmos do assunto, abriram um canal de comunicação diretamente com o norte, e todas aquelas ameaças dos EUA viraram conversa fiada.

Síria em abril: As coisas aconteceram quando EUA, França e Reino Unido resolveram atacar a Síria com mísseis de cruzeiro para “punir” os sírios, que supostamente teriam usado armas químicas (‘teoria’ tão absurda que nem merece ser discutida). Dos 104 mísseis disparados, 71 foram derrubados pelos sírios. Claro que a Casa Branca e o Pentágono, apoiados pela fiel mídia sionista, declararam o ataque um grande sucesso, mas nisso não há surpresa, dado que fizeram a mesma coisa durante a invasão de Granada (uma das piores operações de invasão militar da história) ou depois de uma derrota humilhante sofrida por Israel nas mãos do Hezbollah em 2006. Assim, essa declaração não vale grande coisa. A verdade é que a operação toda foi um fracasso militar tão acachapante, que depois disso nada mais foi tentado (pelo menos até agora).

Ucrânia: Ficamos todo o ano de 2018 esperando por um ataque dos ucronazis contra o Donbass, que nunca aconteceu. Neste momento estou quase certo de que se argumentará que a junta nazista em Kiev nunca teve essa intenção, mas qualquer pessoa com conhecimento mínimo do que aconteceu na Ucrânia este ano sabe que é argumento vão, que a junta fez de tudo para uma investida, exceto o último passo: a ordem real de ataque. A ameaça aberta de Putin de que tal ataque acarretaria “consequências graves para a Ucrânia enquanto Estado soberano”provavelmente teve peso fundamental para conter o Império. Claro que os Ucronazis podem muito bem atacar em janeiro ou a qualquer tempo, mas o fato é que em 2018 não ousaram. Mais uma vez o Império (e seus serviçais) tiveram de desistir.

A Síria em Setembro: Desta vez, foi a posição de Israel, de subserviência incondicional ao Império, que disparou crise massiva, quando os israelenses fizeram um ataque, para o qual se esconderam (!) por trás de um avião turbo-hélice russo Il-20, ação que resultou na destruição do avião e morte de toda a tripulação. Depois de dar a Israel a chance de ser honesto e dizer a verdade (o que, sendo Israel o que é, não foi feito), os russos cansaram e entregaram sistemas avançados de defesa aérea, guerra eletrônica e gestão de combate aos sírios. Em resposta, os israelenses (que tinham feito incontáveis ameaças de que destruiriam imediatamente qualquer S-300 entregue aos sírios) basicamente tiveram que suspender completamente os ataques contra a Síria (bem, não totalmente; ainda executaram dois desses ataques: um totalmente sem efeito prático, e outro no qual os loucos sionistas mais uma vez se esconderam atrás de aeronave civil, mas, nesse segundo caso, não de uma, mas de DUAS aeronaves civis. Adiante, comento novamente essa última proeza dos doidos sionistas). O Império recuou mais uma vez.

Síria em Dezembro: Aparentemente farto das intermináveis brigas internas entre seus assessores, de repente Trump ordenou retirada total dos EUA, da Síria. Claro que, desde que se trata dos Estados Unidos, temos que esperar para ver no que vai dar. Há um Kabuki complicado sendo executado pela Rússia, Turquia, os Estados Unidos, Israel, Irã, os curdos e os sírios para estabilizar a situação na sequência de uma eventual retirada dos EUA. Depois de um ano de falatório vazio sobre “o monstro Assad tem que sair” é surpreendente ver os poderes ocidentais jogando a toalha um depois do outro. Isso leva à questão óbvia: se “a cidade sobre a colina e única superpotência no planeta, líder do mundo livre e nação indispensável”, sequer consegue lidar com governo e exército sírios enfraquecidos após sete anos de guerra, o que esse exército ‘da superpotência’ conseguirá fazer com sucesso (a não ser providenciar mais sucessos de bilheteria para um público norte-americano cada vez mais ingênuo)?

Várias derrotas menores: incontáveis, dentre elas o fiasco do caso Khashoggi, o fracasso na guerra contra o Iêmen, o fracasso na guerra do Afeganistão, o fracasso na guerra do Iraque, o fracasso nas tentativas de remover Maduro do poder na Venezuela e a perda gradual do controle sobre um número crescente de países europeus (Itália, por exemplo), as palhaçadas ridículas de Nikki Haley no Conselho de Segurança da ONU, a incapacidade de reunir os recursos intelectuais necessários para ter uma real e produtiva reunião com Vladimir Putin, a guerra comercial contra a China, que está virando um desastre, etc. O que todos estes eventos têm em comum é que todos resultam da incapacidade dos EUA para fazer, fazer efetivamente, seja o que for.

Longe de se manterem como real superpotência, os EUA estão em modo de declínio total, e só as armas nucleares ainda lhe garantem algo que se assemelhe ao status de superpotência, exatamente como a União Soviética nos anos 90s.

Todos os problemas internos que resultam das lutas intestinas das elites norte-americanas (de maneira geral: a gangue Clinton versus Trump e seus “deploráveis”) só pioram as coisas. Apenas a sequência aparentemente interminável de renúncias ou demissões na Administração Trump já é sinal claro do estado avançado de colapso da política dos EUA. Elites não lutam entre si quando as coisas vão bem, só quando a vaca está indo para o brejo.

O frase “a vitória tem mil pais, mas a derrota é órfã” está aí para nos lembrar que quando um bando de criminosos começa a perder o controle da situação, a coisa rapidamente se transforma em cenário de “salve-se quem puder”, onde todos culpam todos pelos problemas, e ninguém quer ficar sequer próximo daqueles que entrarão pelas portas dos fundos da história como os patetas ridículos que rebentaram com tudo.

Já as forças armadas dos EUA conseguiram sucesso tremendo na tarefa de matar um número cada vez maior de pessoas, a maioria civis; mas falharam em conseguir conquistar qualquer objetivo, pelo menos quando entendemos que o objetivo principal de uma guerra não é só matar gente, mas conseguir “a continuação da política por outros meios”. Comparemos, por contraste, o que Rússia e EUA fizeram na Síria.

Em 11 de outubro, Putin declarou o seguinte, em entrevista concedida a Vladimir Soloviev no Canal de TelevisãoRussia 1Nosso objetivo (na Síria) é estabilizar a autoridade legítima e criar condições para um compromisso políticoÉ isso. Não declarou que a Rússia mudaria sozinha o curso da guerra, ou sequer que venceria alguma guerra.

(minúscula!) força-tarefa russa na Síria conseguiu seu objetivo original em apenas alguns meses, algo que o Eixo-da-Bondade não conseguiu em anos (mesmo sabendo que os russos conseguiram tudo o que conseguiram usando apenas uma pequena fração das capacidades bélicas à disposição de EUA/OTAN/UE/CENTCOM/Israel na região. Na verdade, os russos até tiveram que criar rapidamente um sistema de suprimento, que não tinham. Dada a postura militar puramente defensiva da Rússia, a projeção do poder militar russo é em sua maior parte limitada a 500-1.000 km a partir das fronteiras russas).

Em comparação, os EUA estão lutando sua assim chamada GGT (Guerra Global ao Terror, ing. GWOT = Global War on Terror) desde 2001, e tudo o que têm a mostrar é que o terrorismo (em suas várias facetas) tornou-se cada vez mais forte, controla hoje mais território, matou mais pessoas e parece mostrar em sua generalidade uma espantosa capacidade de sobreviver e até mesmo progredir apesar da (ou graças à) GGT.. Como diria Putin “o que se esperaria de pessoas que não veem diferença entre Áustria e Austrália”?

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Enviado por: Vila Mandinga <mandingavila64@gmail.com>

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