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sexta-feira, 19 abril, 2024

Cloroquina: Proibida nos EUA e liberada no Brasil

Secretária critica decisão americana de revogar uso da cloroquina e diz que Brasil manterá sua posição

Brasil amplia orientações de uso da cloroquina contra a covid-19

Ministério da Saúde passa a orientar a prescrição do medicamento para crianças e grávidas desde o primeiro dia de sintomas. Anúncio ocorre no mesmo dia em que os EUA revogaram autorização para uso emergencial da droga.

O Ministério da Saúde informou nesta segunda-feira (15/06) que vai ampliar as recomendações de uso da cloroquina e de sua derivada hidroxicloroquina no tratamento da covid-19, passando a orientar a aplicação precoce das drogas em crianças e grávidas diagnosticadas com a doença.

O anúncio ocorre no mesmo dia em que os Estados Unidos revogaram sua autorização para o uso emergencial dos fármacos no tratamento da doença causada pelo novo coronavírus.

Em coletiva de imprensa, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, informou que o governo vai reeditar sua primeira nota técnica sobre o uso da cloroquina contra a covid-19, para incluir orientações e doses de prescrição para profissionais de saúde que quiserem receitar a cloroquina para crianças e grávidas desde o primeiro dia de sintomas.

O ministério recomenda, porém, que o medicamento só seja prescrito a crianças durante a fase de sintomas leves se o paciente tiver alguma outra condição de risco que possa agravar a doença, como asma grave, diabetes, hipertensão e obesidade.

“Seguimos no nosso desejo de nortear uma orientação segura para os profissionais médicos, porque o que assistimos no Brasil são serviços privados continuarem a disponibilizar a prescrição para crianças, para gestantes, para adultos com doses diversas”, afirmou Pinheiro.

“Não lançamos a orientação no início pela imensa responsabilidade de tratar [esses] dois grupos [crianças e grávidas]. Porque não tínhamos no mundo inteiro orientações seguras para o manejo dessas drogas”, completou a secretária.

Segundo ela, a pasta buscou especialistas em vários países antes de ampliar suas orientações. “Houve uma publicação de inúmeros profissionais renomados no país, tanto na área obstétrica quanto pediátrica, que foram os responsáveis junto com os técnicos do ministério pela elaboração dessa informação específica para esses dois grupos, que precisam de uma atenção especial.”

Pinheiro mencionou que o Ministério da Saúde considerou, por exemplo, pareceres da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) para tomar a decisão. Mas a entidade orienta o uso da cloroquina em crianças somente em estudos controlados e com aprovação formal dos responsáveis.

A secretária também criticou a decisão da Food and Drug Administration (FDA), agência do governo dos EUA que regulamenta o uso de medicamentos no país, de revogar sua autorização para o uso emergencial da cloroquina e da hidroxicloroquina.

“Os trabalhos citados como referências na carta de descrição da FDA mostram referências que não podem ser utilizadas como exemplo nem para o Brasil e nem para o mundo. São trabalhos de péssima qualidade metodológica”, disse Pinheiro, acrescentando que o Ministério da Saúde segue “tranquilo, sereno, seguro quanto a nossa orientação”, apesar da decisão americana.

Nesta segunda-feira, a FDA afirmou não ser mais “razoável” acreditar que os medicamentos podem ser eficazes contra a doença. “Também não é razoável acreditar que os benefícios conhecidos e potenciais desses produtos superem seu risco conhecido e potencial”, afirmou Denise Hinton, cientista-chefe da agência americana.

A revogação da autorização foi anunciada após uma série de estudos apontarem que as substâncias – usadas no tratamento de malária e das doenças autoimunes lúpus e artrite reumatoide – não são efetivas contra a covid-19 e podem levar a problemas cardíacos.

As propriedades anti-inflamatórias e antivirais da cloroquina e da hidroxicloroquina sugeriram que elas poderiam ajudar a combater a nova doença, e a FDA autorizou seu uso emergencial em março, no auge da pandemia contra a qual ainda não há tratamentos aprovados.

Embora tenham parecido neutralizar o vírus em experimentos laboratoriais, as substâncias ainda não tiveram sua eficácia contra a covid-19 comprovada em testes com humanos. Dois grandes ensaios clínicos neste mês, um no Reino Unido e outro nos EUA e no Canadá, sublinharam a falta de eficácia dos medicamentos.

No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro vem defendendo insistentemente o uso da droga contra a covid-19. Discórdias sobre o uso do medicamento teriam levado à demissão dos ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich em menos de um mês.

Após a saída de Teich, o governo mudou o protocolo sobre a droga e ampliou a possibilidade de seu uso em pacientes diagnosticados com o novo coronavírus.

No mês passado, os EUA forneceram 2 milhões de doses do medicamento ao Brasil. Nesta segunda-feira, o presidente Donald Trump afirmou que, apesar de a FDA ter vetado o uso emergencial do fármaco, os EUA continuarão enviando hidroxicloroquina ao Brasil.

As diretrizes atuais do governo americano não recomendam o uso de medicamentos antimaláricos contra a covid-19 fora do âmbito de ensaios clínicos. Em maio, a França, a Itália e a Bélgica proibiram o uso da hidroxicloroquina em pacientes com covid-19.

Há cerca de 400 testes com hidroxicloroquina ou cloroquina listados como intervenções contra a covid-19, e mais da metade deles ainda está em andamento, de acordo com uma análise recente da empresa GlobalData.

Nos EUA, o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas lançou no mês passado um teste com o objetivo de demonstrar se a hidroxicloroquina combinada com azitromicina pode evitar hospitalizações e mortes em decorrências da covid-19.

Recentemente, a cloroquina e a hidroxicloroquina estiveram no centro de um escândalo, quando os autores de um estudo publicado na prestigiada revista científica The Lancet pediram a retratação do material. O estudo havia levado à suspensão de ensaios clínicos com hidroxicloroquina e cloroquina pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pois a pesquisa apontava que os medicamentos não seriam benéficos para pacientes hospitalizados com covid-19 e poderiam até levar à morte.

Apesar de a OMS ter anunciado posteriormente a retomada do uso do fármaco em pesquisas sobre a covid-19 por ela coordenadas em vários países, a organização frisa que ainda não há evidências sobre a eficácia da droga em pacientes com a doença.

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