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quinta-feira, 28 março, 2024

Criação de tecnologia brasileira

Pedro Augusto Pinho*

No retorno da viagem à China, o vice-presidente General Hamilton (e não Heleno, lembra presidente Jair?) poderá nos mostrar se entendeu o grande mal que o neoliberalismo está provocando no Brasil e mesmo nos Estados Unidos da América (EUA).

O Brasil, na América Latina, foi o primeiro país a se informatizar, iniciando com a importação de equipamentos (UNIVAC 120 para o Departamento de Águas e Esgoto do Estado de São Paulo em 1957) e da tecnologia de “processamento de dados” ou “ciência da computação”.

Com a mudança de governo e da diretriz econômica em 1967, como escreve Ivan da Costa Marques, ex-presidente da Computadores Brasileiros – COBRA e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ):

“O Brasil ensaiou uma política diferenciada para fabricação de computadores que resultassem de projetos locais” (Revisitando o discurso mobilizador da “reserva de mercado” dos anos 1970 à luz dos Estudos CTS, 2014 – artigo disponível na internet).

Em 1974 nasce a COBRA, universidades em São Paulo e no Rio de Janeiro criam centros de pesquisa em informática e, com a reserva de mercado e a política de substituição de importações implanta-se a indústria privada nacional na área de computadores e equipamentos subsidiários.

“Na primeira metade da década de 1970, professores, alunos de pós-graduação e pesquisadores projetaram diversos produtos de informática. Nesta mesma época alguns birôs estatais de processamento de dados investiram em laboratórios de produtos. Nos laboratórios de organizações militares, artefatos de informática recebiam atenção especial”. “Havia uma grande diversidade de interesses e abordagens, mas praticamente todas as intervenções, fossem elas nos congressos ou nos periódicos, compartilhavam a ideia de que dominar a tecnologia dos computadores era uma questão estratégica para um país como o Brasil” (Costa Marques, Minicomputadores brasileiros nos anos 1970: uma reserva de mercado democrática em meio ao autoritarismo, disponível na internet)

“No Brasil, assim como em outras partes do mundo, a década de 1970 foi marcada por um movimento em prol de propostas de uma política tecnológica e industrial diferenciada para o setor de informática. Diversas universidades brasileiras produziram uma variedade de protótipos com os quais pretendiam demonstrar a capacidade tecnológica local de projetar artefatos digitais e sistemas de computação (hardware e software)” (Ivan da C. Marques, Testemunho e pesquisa: concepção e uso em produção dos protótipos do Núcleo de Computação Eletrônica/U.F.R.J. na década de 1970. In: J. Aguirre e R. Carnota, Historia de la Informática en Latinoamérica y el Caribe: Investigaciones y testimonios. Universidad Nacional de Rio Cuarto, Argentina, 2009).

“No começo de 1980, o Brasil foi um dos poucos países em que empresas sob controle local conseguiram suprir uma parte significativa do mercado interno de minicomputadores com marcas e tecnologias próprias. Equipes de engenheiros e técnicos brasileiros haviam absorvido a tecnologia de produtos originalmente licenciados e efetivamente conceberam e projetaram sistemas completos (hardware e software) de minicomputadores e diversos outros artefatos de computação, colocados no mercado por empresas brasileiras com sucesso econômico e técnico” (Costa Marques, Minicomputadores brasileiros nos anos 1970: uma reserva de mercado democrática em meio ao autoritarismo, disponível na internet).

A antiga SUCESU –Sociedade de Usuários de Computadores e Equipamentos Subsidiários, fundada em 1965, hoje é uma Sociedade de Usuários de Tecnologia, nenhuma produzida no Brasil.

O que aconteceu para que a importantíssima tecnologia da informação e da comunicação, tanto para a área militar quanto para atividades civis, fosse cortada do mapa brasileiro.

Na recente exposição sobre a Estratégia Nacional de Segurança para os EUA, dezembro de 2017, o presidente Donald Trump enfatizou as aplicações da informática, o ciberespaço a ser defendido.

No entanto, o Império Estadunidense, tendo adotado, desde os anos 1980, a política neoliberal já foi superada pelo oriente, em especial pela República Popular da China, visitada agora pelo nosso vice-presidente.

A HUAWEI, empresa chinesa criada em 15 de setembro de 1987, já disputa com a Samsung a liderança na venda de smartphones no mundo. Em menos de dois anos, com a nova geração de equipamentos e um sistema acoplado que substituirá o Android, da Google, a Huawei dominará o mundo desta tecnologia, com o G5.

Facebook, Microsoft, Apple, IBM, Google, Amazon serão referências históricas como o Fortran, o /360 com o Cobol, o Univac que levou o homem à lua e os computadores como os conhecemos hoje.

Em torno da Huawei, na província de Guanddong, milhares de empresas, startups, diversos outros recursos dão dinamismo, propõe soluções criativas, absorvem engenheiros chineses e das universidades asiáticas e até estadunidenses. Por que?

Escreve o jornalista Pepe Escobar: “não só a China, mas a Ásia como um todo, vai-se tornando o motor privilegiado do desenvolvimento tecnológico do século 21. Bem-vindos pois a “Asianomics” (Caçar Huawei não levará a vitória alguma na guerra tech, Asia Times, 21/05/2019, tradução da Vila Mandinga).

Vamos entender o que é a política neoliberal, uma política meramente financeira e não econômica.

Ela privilegia apenas o lucro imediato, rápido, o entrar e sair da aplicação. Nenhuma perspectiva, nem de curto prazo, é adotada nos cálculos neoliberais. Assim, apoiada pela mais fantástica divulgação de falsas referências, erros grosseiros, como afirmar que a administração de uma casa é igual a de um país, como se cada lar pudesse emitir dinheiro, aceito em todo território nacional, impõe-se esta agressão. O neoliberalismo é uma fraude.

Os EUA começaram a adotar este modelo de administração com Ronald Reagan. Logo foram invadidos por produtos dos tigres asiáticos, que exportando para a maior economia do mundo, fizeram a festa como vimos na Coreia do Sul, Singapura,Taiwan e Hong Kong. Divulgou-se que era a mão de obra barata, mas o que ocorreu, além desta publicidade para mudança de endereço de empresas estadunidenses, foi o fechamento de fábricas, produtores locais e o desemprego, que ainda assola a Nação.

Hoje a tecnologia de ponta se deslocou dos EUA para a China, a Rússia e a produção euro-asiática. Os EUA estão perdendo, ou já perderam o bonde da história. Enfrentam uma série de derrotas militares desde a Coreia – Vietnã, Síria, Cuba, Angola, Líbia – e econômicas. É obrigado a manter guerras, com enorme prejuízo para o desenvolvimento econômico e social do País, porque o complexo industrial-militar é a única reserva de produção nacional. O resto está nas mãos de capitais voláteis, majoritariamente ilícitos, como o narcotráfico, que domina setores do Estado.

No Brasil o neoliberalismo começou agredindo o Estado Nacional com campanhas de privatizações, nos anos 1980. Se perguntarem por que o diesel é tão caro no Brasil, responderei porque o comando da energia e da Petrobrás é neoliberal. Enquanto nossas refinarias ficam ociosas e se exporta petróleo bruto, o diesel é importado de refinarias estadunidenses pelo preço fixado no exterior. E não nos faltam petróleo, nem instalações já depreciadas, nem mão de obra qualificada, nem tecnologia e gestão para que o diesel pudesse ter preço três ou quatro vezes menor e com lucro para Petrobrás.

O atual representante oficial do neoliberalismo no Brasil vai aos EUA e afirma, sem qualquer pudor, que está vendendo tudo. Tudo que não lhe pertence, pois é fruto da nossa opulenta natureza ou do esforço do povo brasileiro, como o petróleo do pré-sal e as conquistas da Embraer e da Embrapa.

Então o vice-presidente Mourão pode constatar in loco, pessoalmente, a diferença de uma condução planejada, organizada pelo Poder Nacional, de uma gestão neoliberal, cujos verdadeiros mandatários estão em paraísos fiscais e seus recursos vem de ilícitos, crimes praticados contra a humanidade.

*Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado

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