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quarta-feira, 17 abril, 2024

COMO SE CHAMAM? DE ONDE VÊM? AONDE VÃO? POUCO IMPORTA.

Pedro Augusto Pinho*

“O que vemos hoje? Um país ainda pior, onde agentes, estrangeiros se transvestem de magistrados, ministros, comandantes, parlamentares para mais fácil e profundamente alienarem nossas riquezas.”
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“Não é a pandemia que está causando tantas mortes, mas esta elite rentista que se aboletou no poder. São todos: ministros do executivo e do judiciário, parlamentares, a imprensa doutrinadora e venal, nunca informativa, pastores, e membros de seitas que se orgulham de agir na sombra, quando a escuridão oculta o opróbio, a vergonha que acompanha seus atos. Estes são os traidores, os Silvério dos Reis da pátria do estadista José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca.”

Em 28 de setembro de 1871, o Parlamento brasileiro aprovou, por 59 votos contra 39, a Lei do Ventre Livre.

O representante diplomático dos Estados Unidos da América (EUA) colhe algumas flores, jogadas da galeria, para mostrar a seu país que no Brasil, “sob chuva de pétalas (fazia) o que lá tanto sangue custou” (Marilene Rosa Nogueira da Silva, O fim da ingenuidade, in Revista de História da Biblioteca Nacional, Ano 9, nº 104, maio de 2014).

Os “ingênuos” ou “riobranco” (Visconde do Rio Branco era então Presidente do Conselho de Ministros), como eram chamados estes menores e que, efetivamente, continuavam escravos, com vendas anunciadas na imprensa, só tinham uma certeza: continuariam iletrados. Quer porque o Decreto nº 1.331-A, de 17 de fevereiro de 1854, dispunha em seu artigo 69: “Não serão admitidos á matricula, nem poderão frequentar as escolas: § 1º os meninos que padecerem moléstias contagiosas; § 2º os que não tiverem sido vacinados e § 3º os escravos”, quer pela única escola ser o Colégio Pedro II. As escolas públicas só chegaram ao Brasil com a Era Vargas.

Uma das formas da elite se perpetuar era só garantir o ensino público para formação universitária, deixando com as escolas privadas, quase unicamente de jesuítas, o ensino primário e secundário.

Em 1957, o grande educador, pedagogo brasileiro, Anísio Teixeira (1900-1971), proferiu no Clube de Engenharia, a palestra “A escola brasileira e a estabilidade social”. Nela adverte que “longe de ter assegurada a sobrevivência da elite tradicional, o ensino superior gratuito está servindo para forjar uma falsa elite diplomada e para aumentar até o ponto de perigo a inflação burocrática do País”. E adiciona para o risco da sociedade “alargar as oportunidades de educação seletiva para a classe média e superior e a custeá-la com recursos públicos subtraídos à educação popular e à educação de formação para o trabalho produtivo” (Anísio Teixeira, Educação no Brasil, Editora UFRJ, RJ, 2011, 4ª edição).

O que vemos hoje senão uma classe de rentistas que, por incapacidade de cuidar de seus próprios bens e mesmo demonstrando ignorância dos seus interesses, se curva aos ditames do capital internacional, apátrida e ganancioso, que administra a própria nação. O capital produtivo não suportando a falta de recursos acaba por ser levado a inflar o infértil rentismo e à especulação que o irá reduzindo paulatinamente.

Na mesma conferência, Anísio Teixeira ainda procura abrir os olhos entorpecidos pela instrução que se esgota em manter o status social e a ensinar gastar uma fortuna herdada e a consumir o que lhe é vendido como “espirito”. “A educação sempre se apresentou como alternativa para a revolução e a catástrofe, mas, para isso, é necessário que não se faça ela própria um caminho para o privilégio ou para a manutenção de privilégios” e adverte a classe média a não buscar privilégios, pois “o vigor moral dessa classe está exatamente em não se sentir privilegiada e buscar, com certa nobre gratuidade, sustentar os padrões de dignidade e decência que constituem os seus pontos de honra”.

O que vemos hoje, passados 64 anos desta necessária reflexão? Um país ainda pior, onde agentes estrangeiros se transvestem de magistrados, ministros, comandantes, parlamentares para mais fácil e profundamente alienarem nossas riquezas, destruírem instituições brasileiras produtivas, aumentarem a ignorância e a miséria da população.

Faltou antes de tudo o sentimento patriótico em quem usa a bandeira como vestimenta, as cores nacionais como enfeite, e mantém distância dos pobres, segrega humildes, demonstra a total ausência de solidariedade humana.

Não é a pandemia que está causando tantas mortes, mas esta elite rentista que se aboletou no poder, que serve aos colonizadores de sempre, hoje os capitais financeiros internacionais e apátridas, como antes o capital industrial estadunidense. São todos: ministros do executivo e do judiciário, parlamentares, a imprensa doutrinadora e venal, nunca informativa, pastores, e membros de seitas que se orgulham de agir na sombra, quando a escuridão oculta o opróbio, a vergonha que acompanha seus atos. Estes são os traidores, os Silvério dos Reis da pátria do estadista José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca.

E num contexto de enorme ignorância, estas classes pobres e mesmo as médias só apelam para o que não veem, só acreditam no mágico e terminam buscando o impossível.

Não há forças nacionalistas, trabalhistas, lideranças que procurem seguir o desenvolvimento industrial e cultural da Era Vargas. Que apresente metas para a alfabetização geral dos brasileiros e tenha verdadeiros Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs), erguidos com o pensamento genial de Darcy Ribeiro e a liderança de Leonel Brizola.

Reestudemos nossa história para não louvar traidores e esquecer os heróis. Precisamos dar nome a todos nós. Não podemos ser a “ninguenzada” como Darcy Ribeiro se referia aos brasileiros anônimos. Saber de onde vem para poder buscá-los antes que os poderes estrangeiros os sequestrem. E ter a educação libertadora, formadora de consciência, para sabermos onde e como todos cresceremos. Pois o Brasil importa, o brasileiro importa.

A pedagogia colonizadora do neoliberalismo acaba por colocar segmentos economicamente mais favorecidos da população, egoisticamente vestidos com pele de cordeiro, pedindo autorização para importar vacinas contra o covid 19. E não há qualquer autoridade no Brasil, como se os governantes em todos os poderes e em todos os níveis estivessem preocupados com a Nação, com o povo, para dizer que, se estes aquinhoados pagassem corretamente seus impostos, eles estariam ajudando muito mais o País do que exigindo privilégios adicionais.

Imunidade é uma questão de saúde pública e não de mercantilismo.

As questões que dão título a este artigo são tradução livre do parágrafo inicial do filosófico romance Jacques o fatalista e seu mestre, do iluminista francês Denis Diderot (1713-1784). E também em tradução livre da mesma obra o encerro:

“acreditamos conduzir nosso destino; mas é sempre ele quem nos leva: o destino, para Jacques, era tudo que ele tocava ou dele se aproximava”.

Nosso destino será tudo para o que nos empenhemos, conscientemente o conquistemos, pelo que lutemos com saber e coerência, com verdadeiro sentido patriótico e com a solidariedade devida, sem distinção, a todos nossos irmãos brasileiros.

*Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado.

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