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sexta-feira, 19 abril, 2024

Civilização ecológica em um só país?

Montanha Zhuo’er na província de Qinghai com pequena plantação visível ao lado da estrada, em 2 de setembro de 2019. (Foto: Z Fang)

Por Z Fang do Coletivo Lausan (Hong Kong)

Le Monde Diplomatique – Os rastros de destruição do projeto chinês para uma ‘civilização ecológica’ na Amazônia e no Cerrado brasileiros

A última vez que estive na China foi no outono de 2019, antes da pandemia, acompanhando a minha família em uma pequena viagem pelo planalto de Qinghai-Tibete (བོད་ ས་ མཐོ །, 青藏高原). O planalto tibetano, com altitude média de 4.500 metros, abrange a maior parte da Região Autônoma do Tibete (TAR), a província de Qinghai (destino de minha família) e várias outras províncias do oeste da China, bem como partes da Índia e do Butão; a região é considerada a “caixa d’água” da Ásia, onde se localizam as cabeceiras de muitos dos principais rios da Ásia, que fornecem água doce para um quinto da população mundial.

Enquanto dirigimos pelas pastagens tibetanas – passando por placas de rodovias escritas em inglês, chinês, tibetano e mongol – nos sentimos como formigas no topo do mundo, debaixo do domo do céu. Parecia mesmo que estávamos mais perto do céu, mais perto dos falcões circundando o azul celeste; entre os iaques que pastando nas suaves colinas verde-acinzentadas. As enormes montanhas ao longe pareciam miragens, perdidas nas nuvens. Quando se está no Tibete, as pastagens parecem incrivelmente vastas, quase vazias – até que alguém olha perto de seus pés e vê os peludinhos coelhos marrons e as minúsculas flores azuis silvestres espalhadas ao redor da encosta. Pequenas barracas brancas pontilham a paisagem, em meio a um silêncio ensurdecedor.

O Tibete é uma região visada pela agenda nacional de florestamento da China, que busca massivamente transformar a paisagem chinesa para mitigar o impacto das emissões domésticas de dióxido de carbono, e controlar o deserto que se aproxima. Ao mesmo tempo, a pecuária industrial chinesa, impulsionada pela rápida urbanização desde a década de 1980 e as subsequentes mudanças nos sistemas alimentares chineses, estimula ativamente o desmatamento em curso nos biomas da Amazônia e do Cerrado brasileiros. Visando a produção de soja, e colocando em questão o compromisso ambiental da China com relação ao seu investimento nos países do Cinturão Econômico da Rota da Seda, nos faz reconsiderar a forma como encaramos a responsabilidade em relação às emissões de carbono, ao longo das cadeias de valor chinesas.

Embora muita tinta tenha sido derramada sobre as consequências diretas do florestamento dos ecossistemas da China, muito pouco tem sido dito sobre os esforços de florestamento chineses em forte e nítida justaposição ao desmatamento que a indústria agrícola chinesa promove ativamente no Brasil. Esta ligação não recebeu visibilidade e atenção suficientes. Terceirizar a produção de soja da China para a América do Sul ofusca a responsabilidade pelo desmatamento generalizado, mesmo quando esperamos promover a “civilização ecológica” dentro de suas próprias fronteiras. Não deveríamos ser mais críticos de um Estado que afirma ser um líder ambiental, mas empurra as consequências do seu extrativismo para além de suas fronteiras? Independentemente de como o atual Estado chinês tenta fazer “civilização ecológica em um país”, o que acontecerá quando o celeiro mundial de soja se esgotar ou quando as cadeias de valor começarem a falhar sob o estresse da mudança climática global? Como as vozes dos indígenas e das minorias podem ser ouvidas, presas como estão no fogo cruzado dos regimes alimentares globais?

Florestamento como ciência estadocêntrica

Ainda assim, o Tibete está se tornando mais verde. Durante o décimo terceiro Plano Quinquenal da China (2016-20), o Comitê de Florestas e Campos da Região Autônoma do Tibete plantou 9,8 milhões de acres de floresta. A regiãofoi incluída entre os nove principais projetos de proteção ecológica do país em junho de 2020, quando a China anunciou um plano proteção de 15 anos para expandir a cobertura florestal nacional para 26% e recuperar em até 75% as terras arenosas, até 2035.

O florestamento é considerado a forma mais natural e direta dentre as “tecnologias de emissões negativas” (NETs), que visam remover o dióxido de carbono da atmosfera. Em 22 de setembro de 2020, no Debate Geral da 75ª sessão da Assembleia Geral da ONU, o presidente Xi Jinping assumiu o compromisso de que a China atingiria o pico de suas emissões de dióxido de carbono antes de 2030 e que alcançaria a neutralidade nas emissões de carbono (1). As florestas atuam como sumidouros de carbono, absorvendo-o por meio da fotossíntese. Um estudo de 2017, amplamente citado, estima que as florestas e outros ecossistemas que constituem as melhores “soluções climáticas naturais” (NCS) podem produzir mais de um terço das reduções de dióxido de carbono necessárias para manter o aquecimento abaixo de 2 °C, até 2030. (2) Os sumidouros criados pelo florestamento terão um papel importante nos planos da China de atingir suas metas de redução de emissões, de acordo com um professor do Instituto de Física Atmosférica (IAP) da Academia Chinesa de Ciências (CAS), em Pequim.

A história desse plantio de árvores remonta aos primeiros anos da República Popular da China. O programa Abrigos dos Três Nortes (三 北 防护林, conhecido na mídia internacional como Grande Muralha Verde) foi iniciado em 1978 e consiste em plantações de árvores em um vasto arco ao longo do norte da China, cuja conclusão é prevista para 2050. Tanto civis quanto forças do exército foram mobilizados para plantar árvores; uma lei de 1981 propôs que cada cidadão chinês apto com idades entre 11 e 60 anos deveria plantar de 3 a 5 árvores por ano, e tropas de Exército de Libertação Popular com dezenas de milhares de soldados foram designadas para plantar árvores em 2018. Em uma coletiva de imprensa, em dezembro de 2020, representantes do governo afirmaram que o florestamento ajudou a tirar mais de 3 milhões de pessoas da pobreza. Mais de dois terços das missões de florestamento ocorreram em regiões empobrecidas, particularmente aquelas consideradas parte das “fronteiras” da China -ao norte, noroeste e sudoeste – regiões frequentemente associadas às terras ancestrais das minorias nacionais indígenas (少数民族), tais como os mongóis, uigures e tibetanos, bem como os Hui, Dongxiang e cazaques. (3) Além disso, as florestas controlam melhor a desertificação das terras da China, que afeta seriamente as treze províncias e regiões autônomas nas áreas áridas, semiáridas e subúmidas secas do norte do país, bem como no Tibete.Um vídeo da Agência Reuters, sobre os esforços de florestamento na província de Gansu, mostra residentes de Gansu plantando Hedysarum scoparium (花棒) há décadas e falando com orgulho sobre o trabalho das famílias para domar o deserto. (4)

Província de Qinghai perto de sua capital Xining. (Foto: da coleção do autor)

De acordo com um vídeo otimista do South China Morning Post, de 26 de março de 2020 – com imagens produzidas por drones sobre grandes e belas plantações com música instrumental relaxante ao fundo -, a China seria o lar da maior área de árvores plantadas do mundo. De acordo com James C. Scott, esse plantio nacional de árvores, explicitamente realizado com o objetivo de “dominar o deserto” e “abrir as selvas”, atua como uma forma de controle Estatal sobre o que antes eram considerados terrenos baldios, agora sob a forma de extensas plantações de árvores bem cuidadas — e estabelece uma legibilidade que figura como um problema central para o Estado. Em seu livro “Seeing Like A State”, o autor apresenta um estudo das várias falhas do planejamento estatal, acompanhando o desenvolvimento da silvicultura científica na Prússia e na Saxônia, entre 1765 e 1800, como uma subdisciplina da “ciência cameral” (kameralismus), cujo objetivo central era centralizar a administração das finanças pelo Estado. Seu propósito, ao começar com a anedota do plantio florestal alemão, é expor como certas formas de conhecimento Estatal e controle esquemático são possibilitadas pela produção de uma visão social de mundo estreita, seguida da aplicação de práticas de manejo florestal no planejamento urbano, nos assentamentos rurais, e na administração fundiária e agrícola. Na “silvicultura fiscal” do Estado alemão, os muitos usos possíveis de uma árvore são substituídos por uma “árvore” abstrata que representa um volume de madeira ou lenha e que pode gerar um lucro monetário, transformando a floresta em uma “máquina de fazer uma só mercadoria”. Padrões e retórica semelhantes estão sendo desenvolvidos no caso chinês contemporâneo, mas ao invés de vez de tratar as árvores de acordo com uma quantia de madeira a ser eventualmente vendida, elas são tratadas como armazenadoras de certo volume de carbono ou delimitadoras de certa área de deserto, a serviço dos objetivos ambientais e políticos mais amplos do Estado chinês.

Sem dúvida, os esforços de plantio de árvores de décadas da China foram eficazes em cobrir o país com mais florestas; a cobertura florestal em todo o país teria disparado de 12% no início da década de 1980 para 23,04% hoje. (5) Registros de satélite corroboram as afirmações do Estado chinês. (6) Provas contundentes de que este vasto trabalho de plantio de floresta teve impactos mensuráveis na remoção do dióxido de carbono atmosférico foram publicados na Revista Nature no outono de 2020, quando pesquisadores da Universidade de Edimburgo e do CAS-IAP usaram amostras de ar coletadas, em conjunto com observações de satélite para determinar sumidouros de carbono terrestres no sudoeste e nordeste da China. (7) Os pesquisadores descobriram que os sumidouros da biosfera terrestre do paísabsorveram cerca de 45% de carbono no período de 2010 a 2016, em comparação com o volume das emissões antropogênicas chinesas, no mesmo período.

Hoje, o trabalho de florestamento é realizado com tecnologias modernas, como drones, aviões e motocicletas. O primeiro projeto aéreo de florestamento da Região Autônoma do Tibete aconteceu no verão de 2020, e cobriu mais de 14.500 hectares de terra com 119,3 toneladas de sementes usando helicópteros, em áreas que incluem a capital Lhasa (ལྷ་ས) e a cidade de Shannan (ལྷོཁ།). (8) De acordo com autoridades locais, o Tibete gastou 20,23 bilhões de renminbis em proteção ecológica, em projetos que incluem florestamento, proteção de áreas úmidas e construção de reservas naturais, no período que compreende os anos de 2016 a 2020. A cobertura florestal teria aumentando em 12% na região tibetana em geral. De minha parte, em Qinghai, vi algumas pequenas plantações espalhadas de mudas de árvores claramente plantadas pelo homem, bem como densas coníferas que pareciam ter sido plantadas nos anos anteriores, cobrindo a encosta da montanha.

No caso alemão, no final do século 18, o sucesso relativo da silvicultura científica levou à monocultura em massa do pinheiro norueguês, bem como à hegemonia da ciência florestal alemã, o que levou a quedas acentuadas nas taxas de crescimento das árvores devido à má gestão da ecologia local. Como Scott demonstra, os alemães inventaram a “higiene florestal” para consertar esses erros, o que na prática tomou a forma de suaves e caprichosos esforços para tentar estabelecer uma ecologia virtual, incluindo a construção de caixas para imitar buracos de pica-paus e colônias de formigas artificialmente implantadas,cuidadas por crianças em idade escolar. Existem riscos ecológicos similares e reais decorrentes do florestamento em grande escala na China, além de preocupações um pouco mais teóricas – em particular no que diz respeito à proteção de bacias hidrográficas e da biodiversidade. (9)

O florestamento pode ter consequências indesejadas em regiões áridas e semi-áridas. Com a deterioração dos ecossistemas do solo e a diminuição da cobertura vegetal na província de Shaanxi do norte, por exemplo, a redução do lençol freático torna mais difícil a sobrevivência de gramíneas nativas e outras espécies vegetais (10). O planalto tibetano, como mencionado anteriormente, é o berço de muitos rios da Ásia, e os riscos políticos surgem do fardo colocado pelo florestamento sobre o lençol freático do Tibete, pois esse impacto pode levar a conflitos entre regiões que dependem da carga de rios originários do planalto. (11) No sul – na província central de Sichuan -, foi descoberto, por meio de uma combinação de análise de sensoriamento remoto e entrevistas domiciliares, que os fazendeiros removeram a vegetação nativa a fim de arrecadar dinheiro para a monocultura de plantas exóticas, por meio de programas governamentais tais como o Grain-For-Green (GFGP) e o Programa de Proteção de Florestas Naturais (NFPP). (12)

Quão mais eficazes teriam sido os esforços de gestão florestal se as autoridades alemãs tivessem plantado vegetação nativa, seguindo uma filosofia de gestão ambiental mais compatível com aquelas praticadas pelos povos indígenas em todo o mundo, e as formas comunais de posse da terra? De certa forma, a China e outros países, que realizaram campanhas de florestamento para captura de carbono no mundo contemporâneo, correm o risco de repetir os mesmos erros cometidos pela Alemanha do século 18, ou por franceses e britânicos coma silvicultura colonial praticada nas regiões da África que ocupavam. O estado tecnocrático, explica Scott, ignora os “usos sociais vastos, complexos e negociados da floresta” para usar a ciência florestal como um porrete estatal, que almeja “transformar as florestas reais, diversas e caóticas em florestas novas e mais uniformes, que aos poucos vão tomando a forma das suas grades técnico-administrativas”, declara.

Ao ver as árvores como apenas dispositivos através dos quais o carbono pode ser fixado, corre-se o risco de perder totalmente o foco – o plantio de árvores, ou a queima delas, passa a ser visto como uma mera operação somatória de ábaco. Reduzir o planalto tibetano a uma área na qual árvores podem ser plantadas, por exemplo, depende de uma visão perigosamente estreita, abstraindo a flora e a fauna que preenchem o resto de um ecossistema – falcões, iaques, flores silvestres, pikas – assim como todas as práticas humanas dentro de tal ecossistema, como as formas de manejo da terra que os nômades tibetanos têm usado para cuidar da delicada ecologia das pastagens, evitando tanto a sua sobrecarga quanto a sua eliminação por milhares de anos. (13)

Província de Qinghai. (Foto: da coleção do autor)

O programa de reflorestamento da China tem sido amplamente tratado como um sucesso retumbante, o que permite que o paísse posicione como líder no combate às mudanças climáticas globais, por meio das suas campanhas de florestamento em grande escala, realizadas dentro de suas fronteiras.. (14) O programa mais amplo de “civilização ecológica” (CE, 生态 文明) do PCCh (Partido Comunista Chinês), conforme sistematizado na constituição do PCCh em 2012, tem sido celebrado por intelectuais de esquerda estrangeiros, como John Bellamy Foster, notável por seu trabalho na interpretação de tendências de crise ecológica por meio de uma análise marxista. Ele conclui em seu ensaio “Marxism, Ecological Civilization and China” (2015) que a China está se movendo significativamente em algum grau em direção ao desenvolvimento sustentável, de uma maneira distinta do modernismo ecológico de estilo ocidental, embora esses avanços ainda sejam frustrados pela taxa de crescimento massiva do país. Ele ainda postula que a potência é um raio de esperança na transição ecológica necessária para a sobrevivência contínua da sociedade humana no Antropoceno, devido à forja única e vigorosa da “civilização ecológica” como um projeto de Estado. (15) Esta avaliação foi posteriormente tratada por acadêmicos chineses como um endosso tácito ao programa ecológico de Xi e se encaixa nas posições pró-PCCh, que se tornaram cada vez mais visíveis no campo da chamada esquerda. (16)

 

Desmatamento na Amazônia e Cerrado (mas principalmente no Cerrado)

Enquanto isso, do outro lado do planeta, as florestas queimam para cumprir a demanda chinesa por soja. A China é o maior importador de soja do mundo e, o Brasil, seu maior produtor. (17) Grande parte da soja brasileira vem da Amazônia e do Cerrado, biomas vítimas de  rápido desmatamento, que dão lugar a novas plantações de soja.

A China não produz soja suficiente para alimentar seu próprio povo. Os maiores celeiros de soja estão no nordeste do país (na província de Heilongjiang, onde cerca de metade da soja é cultivada), na Mongólia Interior e na província de Henan; a soja cultivada dentro das fronteiras se destina, principalmente, para consumo humano direto, como leite de soja e tofu, ao contrário da ração animal, como acontece com 80% da produção global dessa monocultura. Mesmo com o aumento da demanda local, a área doméstica destinada ao plantio de soja deve diminuir em 5,4% entre 2021 e2022. E os números da produção de dessas regiões são superados pelos do Brasil, que fornece a maior parte da soja que é triturada para fabricar a ração utilizada pelos métodos contemporâneos de pecuária industrial de grande escala, desenvolvida originalmente nos Estados Unidos, para alimentar as vastas legiões de aves e gado chineses. (18)

O milho, como fonte de amido para a produção de forragens, pode ser substituído por outras culturas básicas, mas a soja é insubstituível como fonte de proteína e a demanda da indústria pecuária por ela é inelástica; tanto a oferta quanto a demanda só aumentaram. Os Estados Unidos eram, historicamente, os maiores produtores e exportadores mundiais de soja, mas foram ultrapassados ​​pelo Brasil na safra 2017-2018. O enfraquecimento das relações comerciais entre os EUA e a China, além dos eventos climáticos extremos, como o furacão Ida em agosto passado, afastou ainda mais a China do fornecedor rival e fortaleceu suas relações com a América do Sul para as importações das quais necessita, devido à sua produção doméstica insuficiente. (19)

Em setembro deste ano, a China cancelou navios cargueiros dos EUA devido a danos ao terminal de exportação ao longo da Costa do Golfo e acabou contratando um raro e caro navio de soja para embarcar em outubro e novembro de 2021, comprando de quatro a seis cargas a granel de soja brasileira. Esta foi considerada uma compra incomum durante o habitual período de pico de exportação dos Estados Unidos. Além disso, o comércio de carne bovina da China e do Brasil constitui a maior importação e exportação de carne bovina do mundo. O Brasil forneceu 45% das importações de carne da China em 2020, e quase 70% da carne bovina exportada do Brasil para a China em 2017 foi produzida em pastos na Amazônia e no Cerrado.

A Floresta Amazônica tem alguma proteção sob a legislação ambiental do Brasil. Já as florestas do Cerradão, menos conhecidas – pastagens arbustivas e árvores baixas de aparência seca que abrigam a maior biodiversidade de savana do mundo – não têm. A ecorregião vizinha, o Cerrado, com cerca de metade do tamanho da bacia amazônica, cobre 23% das terras do Brasil, mas tem relativamente pouca proteção pelo Código Florestal do Brasil, com cerca de 3% da área sob proteção, em comparação com os 46% da Amazônia. Em 2006, a Cargill e outras agroindústrias concordaram em não comprar soja cultivada em terras desmatadas na Amazônia brasileira, em acordo voluntário histórico conhecido como Moratória da Soja na Amazônia (ASM); este acordo eliminou em grande parte o desmatamento da Amazônia diretamente ligado ao cultivo de soja, mas resultou na explosão do cultivo de soja no Cerrado. Essa mudança resultou no direcionamento de atividades de pecuária para a Amazônia, causando um efeito de retroalimentação de crescente desmatamento. (20)

Áreas agrícolas industriais que fazem fronteira com o habitat do cerrado, Parque Nacional das Emas, Brasil. (Foto: Frans Lantin/National Geographic Creative)
Florestas queimadas na Fazenda Parceiro, de propriedade do produtor agrícola brasileiro SLC Agrícola, e localizada no ‘município mais desmatado’ do Cerrado, outubro de 2020. (Foto: ITV/TBIJ)
Vista aérea da colheita da soja no município de Riachão das Neves, conhecido como ‘Anel da Soja’ no Cerrado. (Foto: Marizilda Cruppe/Greenpeace)

Após o corte raso da Floresta Amazônica, a terra se torna ideal para operações agrícolas em grande escala; quando combinada com a mecanização e o uso generalizado de herbicidas, pesticidas e fertilizantes industriais, as terras da América do Sul figuram como as mais baratas do mundo para cultivar soja. Em 2018 e2019, a produção no Cerrado respondeu por 40% dos 123 milhões de toneladas de soja produzidas pelo Brasil. O que há pouco mais de uma geração era uma massa quase ininterrupta de dois milhões de quilômetros quadrados de árvores e arbustos no Brasil central está agora coberto com campos dessa monocultura; mais da metade do Cerrado já foi desmatado por meios legais e ilegais. Um relatório de março de 2021, da Chain Reaction Research (CRC), associa os principais desmatadores do bioma ao desmatamento de mais de 110.000 hectares de terra em 2020, devido, principalmente, à expansão agrícola. A CRC descobriu que o desmatamento do Cerrado, em 2020, totalizam 734.010 hectares, um aumento de 13,2% em relação ao ano anterior. A CRC estima de forma conservadora que 28,3% do desmatamento total do Cerrado esteja relacionado apenas à expansão da soja por fazendas que já possuíam plantações anteriormente.

A acumulação primitiva do agronegócio sobre terras indígena se desdobrou como um conflito sangrento, deixando vítimas humanas e não-humanas em seu rastro. Grupos indígenas como os Xavante, os quilombolas (descendentes afro-brasileiros de escravizados fugidos que se estabeleceram em assentamentos) e outras comunidades tradicionais do Cerrado muitas vezes não têm acesso a títulos e escrituras formais e não estão registrados nos mapas oficiais, atestando a violência simbólica e literal dos mapas que definem quais reivindicações por terras são “legítimas”. (21) Ao tomar posse, Bolsonaro, que disse repetidamente que a Amazônia deveria ser “aberta para negócios”, que “não demarcaria um centímetro para Quilombolas ou Reservas Indígenas, desautorizou a FUNAI de seu mandato em identificar e outorgar a titularidade de Terras Indígenas, e transferiu essa competência para o Ministério da Agricultura, liderado por anti-indígenas linha-dura; e, por meio do enfraquecimento da aplicação da lei ambiental, incentivou o desmatamento criminoso e a violência armada contra os defensores indígenas da floresta, como os Guardiões da Floresta. O governo Bolsonaro desregulamentou o agronegócio e prometeu proteger as florestas brasileiras na COP26, mas de toda forma essa posição já havia provocado ceticismo quanto à viabilidade e exequibilidade de seus planos para acabar com o desmatamento ilegal até 2028. (22)

No Brasil, onde a China é responsável por comprar, comercializar, realizar empréstimos e construções, as importações de soja chinesas estão explicitamente vinculadas ao desmatamento, como demonstram as avaliações do ciclo de vida realizadas para quantificar a pegada de carbono das cadeias de exportação de soja brasileiras. (23) Entre janeiro de 2016 e abril de 2020, as instituições chinesas teriam fornecido 15 bilhões de dólares em empréstimos para empresas que comercializam commodities com risco florestal no sudeste da Ásia, na África e no Brasil. Empresas e financiadores chineses que operam no setor de soja, em particular, “demonstram consciência e ação muito limitadas para mitigar os riscos relacionados às florestas com consequências potencialmente graves para as florestas [latino-americanas]”, conforme a agência não-governamental ambientalista CDP, em análise. (24) Nenhuma das instituições financeiras chinesas vinculadas à cadeia de valor da soja da China identificadas no relatório do CDP avaliou a exposição dos seus capitais aos riscos de desmatamento, assim como não desenvolveram políticas para lidar com o desmatamento.

Assim como muitos rios nascem no planalto tibetano, muitos rios brasileiros nascem no Cerrado: o chefe do programa para o Cerrado da WWF Brasil, Michael Becker, entende o cerrado como “a caixa d’água” do Brasil, já que seu solo atua como uma esponja que armazena água suficiente na estação chuvosa para manter os rios fluindo o ano todo. E essas fontes de água estão ameaçadas pela perda da vegetação nativa. Estima-se que 13,7 bilhões de toneladas de carbono são armazenados nas raízes profundas das árvores do Cerrado, conhecidas como florestas “de cabeça para baixo”, pois as raízes têm cerca de duas vezes o comprimento do tronco acima do solo; mas quando as árvores tropicais são cortadas e queimadas, seu carbono armazenado é imediatamente liberado na atmosfera como dióxido de carbono, o que acaba gerando cerca de um décimo de todas as emissões das mudanças climáticas. À medida que o corte raso e a queima de florestas tropicais antigas progride, cientistas preveem que elas podem se tornar fontes de carbono em vez de sumidouros de carbono, acelerando uma espiral de mudança climática descontrolada (25).

 

Carbono aqui, carbono acolá

Certamente, existem sutilezas a respeito do cálculo de responsabilidade ecológica que trafega através das rotas marítimas e cadeias de valor pelo mundo, e muitas considerações na relação comercial China-Brasil, dentro do contexto do BRICS e ao longo das trocas de livre mercado no Cinturão Econômico da Rota da Seda. Dizer que a política florestal chinesa é uma “lavagem verde” hipócrita quando justaposta a imagens de queimadas de florestas brasileiras seria um reducionismo, pois a implementação de tecnologias de emissões negativas de qualquer maneira tornam-se cada vez mais urgentes para evitar alguns dos impactos mais catastróficos e devastadores das mudanças climáticas, e uma prática tão simples e barata como “simplesmente” plantar árvores – nativas ou não – pode ser uma ação salvadora nestas últimas horas do desastre climático iminente.

Tibete e Brasil são classificados como regiões sob os auspícios do programa de política externa Cinturão Econômico da Rota da Seda da China, longe do núcleo imperial chinês: uma dentro das fronteiras legais chinesas, a outra fora. (26) Outros vetores da relação BRI China-Brasil se manifestam em projetos de infraestrutura e mineração, como os projetos ferroviários financiados pela China na Amazônia brasileira e, em particular, o projeto Ferrogrão, também conhecido como o trem de soja para a China. Como seria um mundo em que a China estivesse tão comprometida com a preservação ambiental de seu parceiro comercial do outro lado do mundo, para o qual transferiu suas emissões, quanto com aquelas terras dentro de suas próprias fronteiras? É possível para a população chinesa, mobilizada com tanto sucesso para plantar árvores dentro de suas fronteiras nacionais, se unir em uma luta compartilhada com os povos indígenas que sofrem violência ambiental a meio mundo de distância? Como seria essa solidariedade? Como podemos forjar uma conceituação da dispersão global de responsabilidade e risco que nos capacita a tomar ações fortes e eficazes em relação aos nossos ambientes naturais? Como seria um mundo em que a China estivesse tão comprometida com a preservação ambiental de seu parceiro comercial do outro lado do mundo, para o qual transferiu suas emissões, quanto com aquelas terras dentro de suas próprias fronteiras?

O estímulo da China ao desmatamento na América do Sul não passou despercebido, e a conexão da soja China-Brasil está se tornando cada vez mais difícil de ser ignorada, mesmo por lobistas da indústria. Liu Denggao, o ex-vice-presidente da Associação da Indústria de Soja da China, demandou um papel mais ativo do país na redução da destruição de ecossistemas causados pela soja no Brasil: “Visitei locais de desmatamento na América do Sul e vi florestas primárias queimadas às cinzas e árvores antigas arrancadas do solo por máquinas pesadas. A perda de florestas e habitats de animais é devastadora. ” Liu sugere o aumento da produção doméstica de soja para consumo humano direto e a rotação das safras de milho e soja no nordeste da China, o que resultaria em rendimentos consistentemente elevados. Ele ressalta que vastas extensões de terras agrícolas na Rússia e no Leste Europeu permanecem em pousio, e a Rússia só exporta 800.000 toneladas de soja para a China quando essas exportações podem chegar a 20 milhões de toneladas; portanto, o desenvolvimento do cultivo de soja na Rússia teoricamente estabilizaria o suprimento de soja da China e reduziria a pressão sobre as florestas tropicais sul-americanas. Dito de outra maneira, Liu apresenta apenas uma leve repreensão à política chinesa, de que devemos “controlar o capital” e promulgar leis mais fortes para proteger o meio ambiente, e ele incentiva os países desenvolvidos a recusar a soja associada ao desmatamento ilegal.

Da China ao Tibete, ao Brasil e ainda mais à Palestina e a Israel – onde o Fundo Nacional Judeu plantou vastas extensões de pinheiro de Jerusalém exótico para “fazer o deserto florescer”, mesmo enquanto os olivais centenários da Cisjordânia pegam fogo pelas chamas acesas pelos colonos (27) – as árvores tornam-se objetos políticos, ativados por reivindicações feitas sobre o solo em que estão enraizadas. Curiosamente, o florestamento (o domínio das fronteiras desérticas) na China e o desmatamento (a abertura das florestas tropicais para terras de cultivo) no Brasil, em última análise, servem a objetivos coloniais semelhantes: alterar drasticamente o mundo não-humano de acordo com a vontade política, econômica ou ecológica, em regiões da periferia do capitalismo.

De volta ao Foster, talvez seja um tanto irônico que ele, como um defensor do programa de civilização ecológica da China, tenha escrito tanto sobre a fenda metabólica de Marx, a ruptura na interação metabólica entre a humanidade e o mundo não-humano decorrente da produção agrícola capitalista. (28) No Volume III de ‘O Capital’ e nos ‘Manuscritos Econômicos e Filosóficos de 1844’, Marx baseia-se na ciência do solo contemporânea à sua época e apresenta uma crítica à degradação ambiental que pressagia em muito o pensamento ecológico atual. A fenda metabólica do capital se desdobra na divisão do trabalho entre a cidade e o campo; neste caso, a divisão entre núcleos urbanos e floresta tropical virgem sendo rapidamente convertida em terras agrícolas que se tornam menos produtivas com o tempo.

Em resumo, “não é sustentável para o capitalismo cuidar do meio ambiente”. (29) A devastação contínua e sem controle das florestas tropicais mostra claramente o fracasso da reforma dos sistemas capitalistas globais. Críticas de lobistas da indústria como as de Liu Denggao não vão longe o suficiente para abordar o conflito fundamental da fenda ecológica, rompida pela produção capitalista, que se torna mais aparente no nível macros das mudanças climáticas. (30) A realidade é que a produção agrícola mecanizada, na escala industrial, leva a mudanças maciças no uso da terra e à violência contra elementos humanos e não-humanos, e que a agricultura industrial contemporânea é um anátema para a prosperidade humana e não-humana. Para enfrentar o enorme desafio de reestruturar os sistemas alimentares globais e as ecologias globais, precisamos reconsiderar radicalmente como pensamos sobre a responsabilidade ambiental em escala – escalas de tempo, escalas de espaço – o que exigiria questionar os cálculos de devastação ecológica definidos por interesses e fronteiras nacionais.

 

Z Fang , do Coletivo Lausan (Hong Kong), estudou Física e agora tentar ingressar na Faculdade de Geografia.

Tradução: Allan Rodrigo de Campos Silva

Original em: https://lausan.hk/2021/trees-here-trees-elsewhere/

 

Notas:

1  As expressões “pico de emissão de carbono” e “neutralidade de carbono” apareceram em um relatório de trabalho do governo chinês pela primeira vez em 5 de março de 2021, entregue pelo Premier Li Keqiang na Quarta Sessão do 13º Congresso Nacional do Povo.

2 Griscom, Bronson W., Justin Adams, Peter W. Ellis, Richard A. Houghton, Guy Lomax, Daniela A. Miteva, William H. Schlesinger et al. “Natural climate solutions.” Proceedings of the National Academy of Sciences 114, no. 44 (2017): 11645-11650. https://doi.org/10.1073/pnas.1710465114

3 Para saber mais sobre a minoria muçulmana Hui no Tibete, sugiro a leitura dos livros Chinese Muslims and the Global Ummah: Islamic Revival and Ethnic Identity among the Hui of Qinghai Province de Alexander Blair Stewart (Routledge, 2016).

4 No início de 2021, por volta de March, Pequim foi atingida foi atingido por fortes tempestades de areia vindas do deserto de Gobi; minha tia nos enviou vídeos em 14 de março de uma paisagem urbana laranja e nebulosa vista da janela de seu apartamento no distrito de Chaoyang, e outro residente de Pequim entrevistado para o mesmo vídeo da Reuters disse “看到就觉得是世界末日了”—“parecia o fim do mundo.”

5 Como relatado por Liu Dongsheng a Agência Xinhua News. https://www.bjreview.com/China/202103/t20210326_800241586.html

6 Ren, Guopeng, Stephen S. Young, Lin Wang, Wei Wang, Yongcheng Long, Ruidong Wu, Junsheng Li, Jianguo Zhu, and Douglas W. Yu. “Effectiveness of China’s national forest protection program and nature reserves.” Conservation Biology 29, no. 5 (2015): 1368-1377. Ahrends, Antje, Peter M. Hollingsworth, Philip Beckschäfer, Huafang Chen, Robert J. Zomer, Lubiao Zhang, Mingcheng Wang, and Jianchu Xu. “China’s fight to halt tree cover loss.” Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences 284, no. 1854 (2017): 20162559. Um estudo de 2016 que analisou as áreas de vegetação contínua a partir de dados do satélite MODIS constatou que a cobertura florestal no território chinês aumentou significativamente em cerca de 1,6%. Fonte: Viña, Andrés, William J. McConnell, Hongbo Yang, Zhenci Xu, and Jianguo Liu. “Effects of conservation policy on China’s forest recovery.” Science Advances 2, no. 3 (2016): e1500965. https://doi.org/10.1126/sciadv.1500965 https://doi.org/10.1126/sciadv.1500965 Um estudo de 2018 que analisou o índice de vegetação (NVDI) a partir dos dados do NOAA GIMMS constatou que a cobertura florestal de fato aumentou de acordo com as estatísticas do governo. Fonte: Liang, Lizhuang, Feng Chen, Lei Shi, and Shukui Niu. “NDVI-derived forest area change and its driving factors in China.” PloS ONE 13, no. 10 (2018): e0205885. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0205885 https://doi.org/10.1371/journal.pone.0205885 Uma imagem produzida através do sensor MODIS disponível no NASA Earth Observatory e que consta em um estudo de fevereiro de 2019 mostra que a China sozinha foi responsável por um aumento de 25% no índice de área foliar global, ainda compreenda somente 6,6% das áreas verdes globais. Fonte: Chen, Chi, Taejin Park, Xuhui Wang, Shilong Piao, Baodong Xu, Rajiv K. Chaturvedi, Richard Fuchs et al. “China and India lead in greening of the world through land-use management.” Nature Sustainability 2, no. 2 (2019): 122-129. https://doi.org/10.1038/s41893-019-0220-7

7 Os pesquisadores descobriram que a biosfera terrestre sobre o sudoeste da China representa um sumidouro de -0,35 petagramas por ano, o que corresponde a 31,5% dos sumidouros de carbono chineses, já o sumidouro da região nordeste do país que é mais sazonal, ocupa um saldo anual líquido de -0,05 petagramas por ano. Para referência, um petagrama equivale a um bilhão de toneladas; em comparação, a China emitiu 2,67 petagramas de carbono através da queima de combustíveis fósseis em 2017. Fonte: Wang, Jing, Liang Feng, Paul I. Palmer, Yi Liu, Shuangxi Fang, Hartmut Bösch, Christopher W. O’Dell et al. “Large Chinese land carbon sink estimated from atmospheric carbon dioxide data.” Nature 586, no. 7831 (2020): 720-723. https://doi.org/10.1038/s41586-020-2849-9 https://doi.org/10.1038/s41586-020-2849-9

8 O trabalho de florestamento foi desenvolvido em cidades como Nagqu Nagqu (ནག་ཆུ།), que localizada a uma altitude média de 4.500 metros trata-se de uma ambiente tipicamente inóspito para a plantar árvores, além da cidade de Xigazê Xigazê (གཞིས་ཀ་རྩེ་), e no vale do rio Yarlung Zangbo.

9 Xiao, Yang, Qiang Xiao, and Xuefeng Sun. “Ecological risks arising from the impact of large-scale afforestation on the regional water supply balance in Southwest China.” Nature Scientific Reports 10, no. 1 (2020): 1-10. https://doi.org/10.1038/s41598-020-61108-w https://doi.org/10.1038/s41598-020-61108-w Nos primeiros 25 anos do programa Abrigos dos Três Nortes da China, a maior parte dos choupos que haviam sido plantados em monocultura como um cinturão de proteção contra o deserto acabou morrendo; os esforços posteriores tiveram mais sucesso no plantio de florestas de longo prazo, mas a monocultura continua sendo um problema. Grandes extensões de florestas recém-plantadas através de programas como o Abrigos dos Três Nortes e o programa Grain-for-Green não oferecem habitats para as muitas espécies de plantas e animais ameaçadas na China, ameaçando a própria biodiversidade na China. Fonte: Hua, Fangyuan, Xiaoyang Wang, Xinlei Zheng, Brendan Fisher, Lin Wang, Jianguo Zhu, Ya Tang, W. Yu Douglas, and David S. Wilcove. “Opportunities for biodiversity gains under the world’s largest reforestation programme.” Nature Communications 7, no. 1 (2016): 1-11. https://doi.org/10.1038/ncomms12717 https://doi.org/10.1038/ncomms12717 Um editorial escrito em 2011 por Jianchu Xu na revista Nature chamou a atenção para os impressionantes relatos sobre o aumento da cobertura florestal na China são prejudicados pelo foco em plantações de árvores não nativas, inadequadas para a vida selvagem local e prejudiciais à saúde do ecossistema a longo prazo. Fonte: Xu, Jianchu. “China’s new forests aren’t as green as they seem.” Nature News 477, no. 7365 (2011): 371-371. https://doi.org/10.1038/477371a https://doi.org/10.1038/477371a

10 Cao, Shixiong, Li Chen, David Shankman, Chunmei Wang, Xiongbin Wang, and Hong Zhang. “Excessive reliance on afforestation in China’s arid and semi-arid regions: lessons in ecological restoration.” Earth-Science Reviews 104, no. 4 (2011): 240-245. https://doi.org/10.1016/j.earscirev.2010.11.002 https://doi.org/10.1016/j.earscirev.2010.11.002

11 Zastrow, Mark. “China’s tree-planting drive could falter in a warming world.” Nature 573, no. 7775 (2019): 474-476. https://doi.org/10.1038/d41586-019-02789-w https://doi.org/10.1038/d41586-019-02789-w Cao, Shixiong, and Junze Zhang. “Political risks arising from the impacts of large-scale afforestation on water resources of the Tibetan Plateau.” Gondwana Research 28, no. 2 (2015): 898-903. https://doi.org/10.1016/j.gr.2014.07.002 https://doi.org/10.1016/j.gr.2014.07.002

11 Hua, Fangyuan, Lin Wang, Brendan Fisher, Xinlei Zheng, Xiaoyang Wang, W. Yu Douglas, Ya Tang, Jianguo Zhu, and David S. Wilcove. “Tree plantations displacing native forests: The nature and drivers of apparent forest recovery on former croplands in Southwestern China from 2000 to 2015.” Biological Conservation 222 (2018): 113-124.

12 Mu, Junpeng, Yuling Zeng, Qinggui Wu, Karl J. Niklas, and Kechang Niu. “Traditional grazing regimes promote biodiversity and increase nectar production in Tibetan alpine meadows.” Agriculture, Ecosystems & Environment 233 (2016): 336-342.

13 O plantio de árvores ocasionalmente também é utilizado de forma literal em operações de relações públicas do Partido Comunista Chinês.

14 Foster, John Bellamy. “The Earth-system crisis and ecological civilization: a Marxian view.” International Critical Thought 7, no. 4 (2017): 439-458. https://doi.org/10.1080/21598282.2017.1357483 https://doi.org/10.1080/21598282.2017.1357483

15 Ren, Qiaohua, and Caisheng Lin. “John Bellamy Foster’s Ecological Marxism and the Enlightenment to China’s Ecological Civilization.” In 5th Annual International Conference on Social Science and Contemporary Humanity Development (SSCHD 2019), pp. 598-601. Atlantis Press, 2019. https://doi.org/10.2991/sschd-19.2019.121 https://doi.org/10.2991/sschd-19.2019.121

16 A avaliação do volume global de importações de soja em todo o mundo em 2020/21 mostra que a China é lider em importações.

17 A demanda crescente por carne na Ásia, como tem sido dito, também contribuiu significativamente para os saltos zoonóticos de vírus de animais para humanos, responsáveis por muitos das recentes epidemias. Para mais informações sobre o tema, consultar o trabalho do Contágio social: coronavírus e luta de classes microbiológica na China (Veneta2020), bem como o trabalho do epidemiologista Rob Wallace (Pandemia e agronegócio: doenças infecciosas, capitalismo e ciência), que demonstra como a pecuária industrial se tornou uma plataforma de transmissão de doenças.

18 Fuchs, Richard, Peter Alexander, Calum Brown, Frances Cossar, Roslyn C. Henry, and Mark Rounsevell. “Why the US–China trade war spells disaster for the Amazon.” Nature 567 (2019): 451-454. https://doi.org/10.1038/d41586-019-00896-2 https://doi.org/10.1038/d41586-019-00896-2

19 Heilmayr, Robert, Lisa L. Rausch, Jacob Munger, and Holly K. Gibbs. “Brazil’s Amazon soy moratorium reduced deforestation.” Nature Food 1, no. 12 (2020): 801-810. https://doi.org/10.1038/s43016-020-00194-5 https://doi.org/10.1038/s43016-020-00194-5 Dito isso, os fazendeiros encontraram brechas na Moratória da Soja da Amazônia, por exemplo, plantando soja em antigos pastos que já haviam sido desmatados antes de 2008 e formando pastos para o gado em florestas úmidas recém-desmatadas e queimadas abertas por grileiros na Amazônia.

20 Ainda que um aplicativo que literalmente tente colocar essas comunidades no mapa tenha sido desenvolvido.

21 Bolsonaro não esteve presente na COP26, assim como Xi Jinping.

22 Escobar, Neus, E. Jorge Tizado, Erasmus KHJ zu Ermgassen, Pernilla Löfgren, Jan Börner, and Javier Godar. “Spatially-explicit footprints of agricultural commodities: Mapping carbon emissions embodied in Brazil’s soy exports.” Global Environmental Change 62 (2020): 102067. https://doi.org/10.1016/j.gloenvcha.2020.102067 https://doi.org/10.1016/j.gloenvcha.2020.102067

23 Morgan Gillespy, diretor de florestas no CDP, em email, tal como citado em Pacific Standard Magazine Pacific Standard Magazine.

24 Hubau, Wannes, Simon L. Lewis, Oliver L. Phillips, Kofi Affum-Baffoe, Hans Beeckman, Aida Cuní-Sanchez, Armandu K. Daniels et al. “Asynchronous carbon sink saturation in African and Amazonian tropical forests.” Nature 579, no. 7797 (2020): 80-87. https://doi.org/10.1038/s41586-020-2035-0 https://doi.org/10.1038/s41586-020-2035-0

25 Quan do eu estive em Xining em 2019 visitei o Museu Tibetano de Qinghai de Medicina e Cultura (青海藏医药文化博物馆), que abriga um das mais longas pinturas em pergaminhos thangka, e observei diversas vezes o texto na muralha inglesa que menciona especificamente o nome do “Cinturão Econômico da Rota da Seda” (一带一路) em mostras recém produzidas.

26 Essa conexão não é tão obscura quanto pode parecer à primeira vista; durante a ditadura militar brasileira nos anos 1960, pioneiros colonizaram a floresta amazônica sob o slogan do governo “Uma terra sem homens para homens sem terra”, assustadoramente semelhante a outra frase comumente atribuída à retórica sionista. George, Alan. “’Making the Desert Bloom’: A Myth Examined.” Journal of Palestine Studies 8, no. 2 (1979): 88-100. https://doi.org/10.2307/2536511 https://doi.org/10.2307/2536511 Em visita à Cisjordânia na primavera de 2019 a convite de um amigo palestino, tive a oportunidade de conhecer um dos amigos de sua família, que me contou de uma pessoa que destruiu as oliveiras em suas terras, que existiam lá desde os tempos romanos. “As diferentes mãos que colheram essas azeitonas […]” … Não me lembro do resto do resto que foi dito.

27 Foster, John Bellamy. Marx’s Ecology: Materialism and Nature. NYU Press, 2000. Para citar Marx diretamente: “…Por outro lado, a grande propriedade rural reduz a população agrícola a um mínimo em decréscimo constante e lhe contrapõe uma população industrial em constante crescimento, amontoada em grandes cidades; gera, com isso, condições que provocam uma insanável ruptura no contexto do metabolismo social, prescrito pelas leis naturais da vida, em decorrência da qual se desperdiça a força da terra e esse desperdício é levado pelo contrário muito além das fronteiras do próprio país. […] Grande indústria e grande agricultura, exploradas industrialmente, atuam conjuntamente. Se, originalmente, elas se diferenciam pelo fato de que a primeira devasta e arruína mais a força natural da terra, mais tarde, ao longo do desenvolvimento, ambas se dão as mãos, ao passo que o sistema industrial na zona rural também extenua os trabalhadores e, por sua vez a indústria e o comércio proporcionam à agricultura os meios para esgotamento da terra”. In Marx, Karl. O capital. Crítica da Economia Política, Livro III, Tomo .2. p.266. Abril Cultura, 1985.

28 Isabel Figueiredo, ecologista que atua na ONG Instituto Sociedade, População e Natureza, citada em: Greenpeace Unearthed. Greenpeace Unearthed.

29 Coletivo ChuangContágio social: coronavírus e luta de classes microbiológica na China. São PauloVeneta2020.

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