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quinta-feira, 28 março, 2024

Bolsonaro F.C.

*Por Luiz Fernando Leal Padulla

Em time que está ganhando não se mexe, certo? Errado! Pelo menos para brasileiros e brasileiras “de bem”. Éramos um time gigante, cuja força era ainda maior junto ao bloco do BRICS, contrapondo à altura o capital do FMI e os interesses monopolistas estadunidenses. A 6ª maior economia do mundo. Tínhamos um presidente reconhecido e adorado em todo mundo; um estadista. Economia forte, inflação controlada, valorização da moeda, distribuição de renda, programas sociais premiados em vários países.

Eis que entrou em campo um juiz – corrupto, ladrão e, acima de tudo, político – que junto de uma mídia tendenciosa e igualmente golpista, decidiu manipular o povo, para barrar a ascensão do Brasil, representado pela força política de Lula e do PT. Inventando novas jurisprudências, desrespeitando a Constituição, baseou-se em delações falsas – e muitas combinadas e forçadas – para condenar sem prova aquele que foi o maior e melhor presidente do Brasil. Bastaram convicções para a farsa ir adiante e convencer um público alienado.

Caindo no discurso raso – mas suficiente para o nível de analfabetismo político que assola o país – de luta contra a corrupção, eis que acreditaram em um político-meme (como bem define o professor Paulo Sérgio Guerreiro em seu livro “A eleição de uma meme“) com suas falas antipetistas e que dava voz ao ódio, racismo, homofobia, machismo, autoritarismo e ao tal “nacionalismo”.

Curiosamente – e assustadoramente – esse mesmo sujeito não apresentou nenhuma proposta para o país e fugiu de todos os debates políticos, valorizando a estratégia de viralizar mentiras pelas redes sociais, alertar para a “ameaça comunista”, o kit gay, a “mamadeira de piroca”. E piorando a situação, adota uma posição surreal de colocar em dúvida os conhecimentos científicos, valorizando o senso comum. Afloram terraplanistas e o movimento anti-vacina…em pleno 2019! Cria-se o desprezo intelectual e dá-se voz ao obscurantismo opinativo.

Ao mesmo tempo, fizeram propaganda maciça para a renovação do Congresso e do Senado. Conseguiram. Colocaram falastrões para representar a população. Pessoas sem qualquer preparo ou conhecimento político, mas que usaram de redes sociais para enganar eleitores e “pegarem uma boquinha” na política, com salários que diziam ser absurdos, com auxílio moradia, viagens e tudo mais que condenavam e se diziam contra.

Junto deles, o “mito” Jair Messias Bolsonaro conseguiu os votos e prometeu uma “nova política”, com base em jargões que remetem aos anos de chumbo, como “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos“- esquecendo que o Estado é laico, e querendo implantar um teocracia democrata-cristã.

(Ah!E não esqueçamos: o tal juiz, antes mesmo da eleição, já articulava nos bastidores para que assumisse o cargo de Ministro da Justiça)

Elegeram um presidente com base em informações escandalosamente falsas. E continuando na mentira, que prometia “acabar com a mamata”. Surgia o “Mi(n)to” após o golpe travestido de impeachment.

Eleito sob a falaciosa “ameaça esquerdista” e “tudo é culpa do PT”, arrebanhou seu gado eleitoreiro e começou a mostrar sua verdadeira face: medíocre, banal e incompetente.

Criticou privilégios, mas em menos de um ano de (des)governo aprovou o uso de verba pública eleitoral (a qual ele mesmo se dizia contra) para a compra de helicópteros, iates e carros de luxo. Além isso, aumentou o tal fundo eleitoral em R$ 3,8 bilhões…e a verba foi retirada justamente dos investimentos em Educação e Saúde, áreas essenciais e totalmente negligenciadas. Essa é a “nova política” em que acreditaram?

O que falar da política cambial que favorece a desvalorização da moeda brasileira, beneficiando apenas as exportações e o aumento do preço dos combustíveis, graças a política absurda de reajuste que impuseram à Petrobrás? Além isso, não demorará para que esteja de volta o fantasma da inflação.

Motivo de memes (afinal, só nos resta rir para não chorar), a alta absurda da carne impossibilita o consumo das famílias brasileiras (confesso que, enquanto vegetariano, fico até esperançoso que as pessoas adotem dietas com menos carnes – ainda que de maneira obrigatória financeiramente). Como lembrou Lula recentemente, como é possível um país que possui um dos maiores rebanhos do mundo (sem contar o gado bolsonarista, claro!) não permitir acesso a esse alimento ao seu povo?

Os governos progressistas do PT fizeram muito pelo povo, não há como negar – e, diga-se de passagem, passando longe do tal comunismo, pois incentivou a exploração de consumo e distribuição de renda, agradando ora ao proletário, ora a burguesia.  Poderia ter feito mais e até diferente? Óbvio! Mas tudo foi interrompido e, piorando a situação, Bolsonaro e sua gangue estão promovendo verdadeiros desmontes nessas conquistas, retrocedendo em todas as áreas possíveis e imagináveis e claro, aumentando a desigualdade social, tão combatida durante os governos progressistas. E como a população aceita isso passivamente? Simplesmente porque ainda acreditam na retórica alimentada pela raiva, repulsa, ódio e, claro, o antipetismo; o apoio se dá pelo ressurgimento do fascismo.

Seguidores ignorantes que deixaram de lado a bandeira “contra a corrupção” para levantar “importante é que tiramos o PT”…mesmo às custas de perdas de direitos, da volta da miséria e da fome, da desigualdade social. Não à toa caímos no ranking do IDH, ao mesmo tempo que somos o segundo país em concentração de renda (1% dos mais ricos detêm quase 30% de toda riqueza brasileira!).

Findam-se os programas sociais, promove-se o genocídio no ambiente rural, desmatamentos e queimadas que deixam o mundo atônito, a matança de índios com a conivência do Estado, a ação absurda de ações militares contra negros, pobres e minorias, sob a tutela de um Estado opressor – e que ainda quer aprovar o excludente de ilicitude, dando direito de matar sem qualquer punição -, a contaminação ambiental com liberação de agrotóxicos, o extermínio das minorias. Esses são apenas alguns exemplos à que veio Bolsonaro e sua trupe.

Parece que estamos (sobre)vivendo em um filme de terror. E parece não haver saída. Mas há.

Encara-se hoje a política como um jogo de futebol. Quando o time não vai bem, culpa-se e demite-se o técnico. Esquecem, no entanto, que o time é que deve responder em campo. Bolsonaro, sendo o técnico, é medíocre sim. No entanto, não é apenas ele o problema: o time que escalou é péssimo! (Se, propositadamente ou não, é outra história).

Enquanto ministros (os tais “jogadores”) seguirem políticas neoliberais, de total subserviência aos interesses dos EUA, com políticas sionistas, e atendendo as vontades do agronegócio e suas corporações, nenhum resultado positivo será obtido. Seremos rebaixados, desmoralizados, considerados irrelevantes perante demais países. Quando as peças do time não fazem seu papel, pouco adianta quem é o técnico – pior ainda quando este é um incompetente.

Assim é a política. Mas ao contrário de um jogo polarizado de futebol onde há um vencedor e outro perdedor, nela ou todos ganham, ou todos perdem. E hoje o placar está muito desfavorável para nós. Mais vergonhosos que o eterno 7×1.

Novas eleições estão chegando. Em 2020 pode ser oportunidade de começarmos, ainda que na esfera municipal, a reverter essa calamidade que estamos vivendo. A pergunta que nos resta é: pagaremos novamente esse preço pelo ódio e a falta de informação/conhecimento, ou votaremos com base em propostas e projetos políticos verdadeiros, que se preocupam com o povo?

A decisão, mais uma vez, estará em nossas mãos.

*Professor, Biólogo, Doutor em Etologia, Mestre em Ciências.Autor do blog “Biólogo Socialista”

Luiz Padulla
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Prof. Luiz Fernando Leal Padulla
*Biólogo*
Doutor em Etologia
Mestre em Ciências
Especialista em Bioecologia e Conservação

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