Brasília, (Prensa Latina) A Amazônia caminha a passos agigantados para deixar de ser a maior cobertura florestal do mundo e converter-se em bioma semelhante a do Cerrado nacional ou à savana africana, alertam hoje especialistas.
Nos últimos 30 anos, a estação seca registra uma média de mais seis dias longa por década.
A mais duradoura passou de meio mês. ‘Se continua assim, essa região acabará se voltando uma savana bem degradada’, disse o climatólogo Carlos Nobre, em uma recente entrevista publicada pela revista National Geographic.
Tais impactos já eram previstos em seus estudos pioneiros em 1991, quando lançou a hipótese da savanização. Era uma época em que o desmatamento na Amazônia brasileira estava na faixa de oito e nove por cento, e atualmente chega a 20.
No entanto, para o ministro de Meio ambiente do governo Jair Bolsonaro, Ricardo Salas, o aquecimento global é questão secundária.
E o chanceler Ernesto Araújo acha que os estudos e a política sobre mudanças climáticas são influenciados pelo ‘marxismo cultural’.
Cientista do Instituto Nacional de Investigações Espaciais (INPE), Nobre foi um dos autores do relatório sobre o aquecimento global do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, por suas siglas em inglês) em 2007.
Desde maio de 2018 é investigador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de Sao Paulo. O objetivo é estabelecer caminhos de desenvolvimento sustentável para Brasil para 2050.
Na entrevista, o cientista, que pesquisa o clima do bioma (determinada parte do planeta que compartilha o clima, flora e fauna) há 40 anos, destaca que alguns lugares do Cerrado têm o mesmo nível de chuva da região de Santarém, na Amazônia -anualmente, um total de 1.800 milímetros.
Se chover o mesmo volume, por que em um lugar se tem bosque e no outro, Cerrado? Na região de Santarém a chuva está bem distribuída todo o ano e a estação seca é muito curta.
A precipitação é muito concentrada no Cerrado na estação chuvosa e depois essas regiões passam por três, quatro meses de chuva zero, enquanto em Santarém chove 80, 100 milímetros na estação seca.
Esta é a grande diferença. Os estudos de ecologia começam a mostrar um aumento da mortalidade de algumas espécies de árvores. Então, estamos realmente bem perto desse ponto de ruptura, alertou Nobre.
A savana é causada pelo desmatamento, queimadas e o aquecimento global. Os dois primeiros fatores, segundo o estudioso, podem ser combatidos pelo governo brasileiro com políticas para pôr a zero o desmatamento e acabar definitivamente com queimadas e incêndios florestais.
O terceiro fator está fora de nosso controle: o aquecimento global. ‘Inclusive se reduzimos a zero as emissões do Brasil, ainda dependemos que o resto do mundo faça o mesmo’, destacou o reconhecido pesquisador.