Helena Iono – Direto de Buenos Aires
No último sábado, 24 de setembro, em La Plata, encerrou-se a campanha do Comitê Argentino Lula Presidente. O Ato, realizado no edifício Nestor Kirchner da Faculdade de Jornalismo e Comunicação da UNLA, contou com a participação dos coordenadores do PT e defensores da eleição de Lula–2022, que tem recebido o apoio de vários militantes, políticos e dirigentes da Frente de Todos, de partidos, sindicatos e movimentos sociais argentinos. São os mesmos que antes fizeram uma das maiores campanhas na América Latina contra o golpe a Dilma Rousseff e pelo Lula-Livre quando da sua prisão em Curitiba. A eleição de Lula da Silva, é considerada decisiva para reconstruir a democracia e a soberania nacional do Brasil e de toda a região latino-americana. Os artistas populares Teresa Parodi, Carinhosos da Garrafa e Shirlene Oliveira também enriqueceram o evento com cantos e pronunciamentos. Veja vídeo.
A campanha acionada pelo Comitê com muita juventude, desde estudantes universitários a trabalhadores brasileires residentes na Argentina, iniciou-se em maio, junto ao lançamento da candidatura de Lula, com o apoio do Sindicato dos Trabalhadores da Imprensa em Buenos Aires, e o Instituto Pátria (criado por Cristina Kirchner como centro de cooperação com os países da América Latina). Além do apelo a eleger Lula-2022, o Comitê impulsionou um maior número de transferências de títulos eleitorais do Brasil, aumentando a 78 por cento o número de eleitores. Há mais de 12 mil residentes brasileiros no país em condições de votar; com previsões, segundo Paulo Pereira, coordenador regional do Núcleo do PT, de que Lula possa ser eleito na Argentina com 60% de votos dos imigrantes.
Compõem o Comitê Argentino Lula Presidente: Associação do Pessoal Legislativo (APL), Casa Migrange, Casa Pátria Grande “Presidente Néstor Carlos Kirchner”, Coletivo Passarinho, CTA, “El Hormiguero”, Espaço Puebla, Frente Pátria Grande, Frente de Unidade Peronista (FUP). Geração Patriótica, Instituto Pátria, Juventude Sindical da CGT, Juventude Sindical da CTA, A Cámpora, A Fraternidade/CGT, A Nelly Omar, A Simón Bolívar, Os Irrompíveis, Movimento Evita, Núcleo PT, Nossa América, Partido Socialista, Somos Bairros de Pé, Unidos e Organizados (Lomas de Zamora), e União Operária Metalúrgica (UOM).
O governador, Axel Kicillof (Frente de Todos), fechou com um comovedor discurso de apoio a Lula da Silva.
“Luis Inácio Lula da Silva é um homem fundamental para a América Latina e a Argentina. É impossível compreender o que passou em cada um dos países do nosso continente durante aquela época sem considerar a enorme liderança do Lula ao instalar o Brasil e a região em escala internacional. Mas, eu quero dizer que o que nós sentimos com o Lula está associado a que todas as vezes e a cada vez apoiou e se apoiou em Nestor e Cristina Kirchner. Olhem, quando eu comecei a militar lá pela década dos anos 80, depois seguida pelo neoliberalismo dos anos 90, cantávamos, desejávamos, sonhávamos com a unidade latino-americana. Mas, tenho que confessar que o programa político da unidade latino-americana com a onda neoliberal que varreu a América Latina parecia uma questão de história; parecia uma questão do passado. Parecia que aquilo que havia dado lugar à militância dos anos 60, 70 e à compreensão de que nenhum país da América Latina pode salvar-se sozinha, parecia que isso era algo do passado, havia quedado enterrado pela política de dependência, de entrega, de ajustes, pela política do Fundo Monetário Internacional, percorrendo nosso continente e que não poucas vezes colonizaram, inclusive, o pensamento de alguns representantes do campo popular. Parecia que isso de América Latina unida era uma recordação do passado. Eu formo parte de uma geração que com a ajuda de Lula, de Nestor, e de patriotas latino-americanos voltou a sonhar com a Pátria grande (aqui Axel Kicillof se emociona muito). Há um mundo que teve, depois da pandemia, uma guerra. Que resposta podemos dar? A única resposta que podemos dar é a Pátria Grande. A única resposta que podemos dar é uma América Latina unida. A única resposta que podemos dar é uma América Latina do povo e para o povo. Por isso companheiros e companheiras, Força Lula! Lula vence! Vamos Lula! Por isso viemos a dar nosso apoio e nosso acompanhamento ao povo brasileiro para que Lula volte!”
É num contexto político de uma Argentina abalada pelo atentado à vice-presidenta Cristina Kirchner, com incógnitas não resolvidas, subjugada a um lawfare ainda ativo, com um poder midiático-judicial anti-democrático e golpista das corporações econômico-financeiras, que brota a solidariedade do peronismo-kirchnerismo com Lula; que emerge o chamado contundente de Axel Kicillof para que o povo brasileiro garanta a sua vitória, e o seu retorno à presidência para reconstruir um país desolado por Bolsonaro, pela violência e o genocídio.
O retorno de Lula à presidência do Brasil, somando-se à eleição histórica de Petro/Francia na Colômbia, haverá de mudar a relação de forças a favor da unidade dos povos e governos soberanos da América Latina. O Brasil com Lula será central para recuperar a integração através do BRICS e da UNASUL. Uma mudança essencial, para enfrentar ameaças globais, onde a guerra da Otan na Ucrânia contra a Rússia, desestabiliza e ameaça um conflito mundial contra a humanidade. A vitória de Lula, abrirá chances para frear esse processo, e estimulará crises na burguesia (inclusive na Europa), políticas governamentais, ações populares, onde a razão, a verdade e a justiça social abrirão caminhos para combater o ódio e a barbárie capitalista.
Certamente não será um mar de rosas. Haverá muitos espinhos. Mas, as rosas renascem, e os jardineiros estão calejados e vivos. A tenacidade do líder operário dá um exemplo de como se redireciona o poder judicial (meta imprescindível na Argentina). Além disso, o Lula-2022 promete ser mais audaz; mobilizará o povo não somente nas urnas, mas nas ruas. O Lula-2023 anuncia importantes revisões no campo midiático. Além disso, durante o seu governo, o internacionalismo, convocado e exercido como solução aos problemas locais de cada país (por Hugo Chávez e Fidel, apoiado por Nestor e Cristina, Lula, Evo, Correa, e todos os anti-ALCA do passado recente da América Latina) certamente estará, mais que nunca, na ordem do dia. Não é casual que o mundo inteiro está de olho no Brasil para que Lula da Silva seja eleito neste 2 de outubro.