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quinta-feira, 18 abril, 2024

A MÍDIA ALTERNATIVA PODE DERROTAR A MÍDIA “DE REFERÊNCIA” – AQUI ESTÁ O PLANO DE JOGO

por Ron Unz [*]

Resistir.Info – Portugal

Um par de anos atrás lancei minha Unz Review, proporcionando um amplo conjunto de diferentes perspectivas alternativas, a vasta maioria das quais totalmente excluídas dos media de referência (mainstream). Também publiquei um certo número de artigos nas minhas séries American Pravda , com foco em lapsos suspeitos e lacunas nas narrativas dos nossos media.

A estratégia política subjacente por trás destes esforços pode já ser aparente e por vezes sugeri isto aqui e ali. Mas finalmente decidi que posso explicitamente esboçar o raciocínio num memorando como o que se encontra abaixo.

Os media de referência são a força opositora crucial

Grupos que advogam políticas opostas ao establishment americano deveriam reconhecer que o maior obstáculo que enfrentam vem habitualmente dos media de referência.

Oponentes comuns e ideológicos certamente existem, mas estes são habitualmente inspirados, motivados, organizados e assistidos pelo poderoso apoio dos media, o qual também modela a estrutura percebida do conflito. Em termos de Clausewitz, os media frequentemente constituem o “centro de gravidade” estratégico das forças opositoras.

Os media deveriam ser tornados um alvo primário

Se os media são a força crucial para reforçar a oposição, então deveriam ser encarados como um alvo primário de qualquer estratégia política. Enquanto os media permanecerem fortes, o êxito pode ser difícil, mas se a influência e credibilidade dos media for substancialmente degradada, então as forças opositores comuns perderiam grande parte da sua eficácia. Sob muitos aspectos, os media criam realidade, assim talvez a rota mais eficaz para a mudança da realidade passe através dos media.

Desacreditar os media em qualquer parte enfraquece-o por toda a parte

Os media de referência existem como um todo contínuo. Assim, enfraquecer ou desacreditar os media em qualquer área particular automaticamente também reduz a sua influência geral.

Os elementos da narrativa dos media confrontados por um grupo anti-establishment particular podem ser demasiado fortes e bem defendidos para atacar com eficácia e tais ataques também podem ser ignorados como ideologicamente motivados. Portanto, a estratégia mais produtiva pode por vezes ser indirecta, atacar alhures a narrativa dos media, em pontos onde ela é muito mais fraca e menos bem defendida. Além disso, vencer estas batalhas mais fáceis pode gerar maior credibilidade e impulso, o qual pode então ser aplicado para ataques posteriores em frentes mais difíceis.

Uma aliança vasta pode apoiar o objectivo comum do enfraquecimento dos media

Uma vez que reconheçamos que o enfraquecimento dos media é um objectivo estratégico primário, um corolário óbvio é que outros grupos anti-establishment a enfrentarem os mesmos desafios tornam-se aliados naturais, ainda que talvez temporários.

Tais alianças tácticas inesperadas podem decorrer de uma ampla gama de diferentes perspectivas políticas e ideológica – Esquerda, Direita ou outras – apesar de os grupos componentes terem objectivos não relacionados ou mesmo conflituosos. Enquanto todos estes elementos na coligação reconhecerem que os media são o seu adversário imediato, eles podem cooperar no seu esforço comum, ganhando ao mesmo tempo credibilidade e atenção adicionais pelo próprio facto de discordarem sobre muitas outras matérias.

Os media são enormemente poderosos e exercem controle sobre um espaço vasto do território intelectual. Mas tal influência omnipresente também assegura que seus adversários locais sejam numerosos e difusos, sendo todos fortemente opostos aos media hostis que enfrentam nas suas próprias questões particulares. Por analogia, um império grande e poderoso é frequentemente deitado abaixo por uma vasta aliança de muitas facções rebeldes diferentes, cada uma delas com objectivos não relacionados, as quais em conjunto esmagam as defesas imperiais pelo ataque simultâneo a múltiplos diferentes locais.

Um aspecto crucial que permite uma tal aliança rebelde é o foco tipicamente estreito de cada membro constituinte em particular. A maior parte dos grupos ou indivíduos que se opõem a posições do establishment tende a ser ideologicamente ardente acerca de uma questão particular ou talvez um punhado delas, ao passo que muito menos interessado em outras. Dada a supressão total dos seus pontos de vista por parte dos media de referência, qualquer foro no qual as suas perspectivas não ortodoxas sejam apresentadas com tratamento razoavelmente justo e equânime ao invés de serem ridicularizadas e denegridas tende a inspirar considerável entusiasmo e lealdade da sua parte. Assim, embora possam ter visões bastante convencionais sobre a maioria dos outros assuntos, levando-os a encarar visões contrárias com o mesmo cepticismo ou desconforto como qualquer outra pessoa, eles geralmente estarão dispostos a suprimir suas críticas a uma heterodoxia mais vasta, desde que outros membros da sua aliança estejam dispostos a devolver esse favor nos seus próprios tópicos de interesse primário.

Atacar a narrativa dos media onde ela é fraca e não onde é forte

Aplicando uma metáfora diferente, os media do establishment podem ser encarados como uma grande muralha que exclui perspectivas alternativas da consciência do público e, assim, confina a opinião dentro de uma faixa estreita de visões aceitáveis.

Certas porções dessa muralha dos media podem ser sólidas e vigorosamente defendidas por poderosos interesses especiais (vested interests), tornando difícil o seu assalto. Mas outras porções, talvez mais velhas e mais obscuras, podem ter ficado decrépitas ao longo do tempo, com os seus defensores, com o afastamento dos seus defensores. Romper a muralha nestes locais mais fracos pode ser muito mais fácil e uma vez destruída a barreira em vários pontos, defende-la nos outros torna-se muito mais difícil.

Exemplo: considere-se as consequências de demonstrar que a narrativa dos media estabelecidos é completamente falsa quanto a algum evento individual importante. Uma vez que este resultado tenha sido amplamente reconhecido, a credibilidade dos media sobre todas as outras matérias, mesmo totalmente não relacionadas, seria algo atenuada. Pessoas comuns naturalmente concluiriam que se os media estiveram errados sobre um ponto importante, podem também estar errados sobre outros e a poderosa suspensão de descrença que proporciona influência aos media tornar-se-ia menos poderosa. Mesmo aqueles indivíduos que colectivamente constituem os media podem começar a ter sérias dúvidas quanto às suas certezas anteriores.

O ponto crucial é que tais progressos podem ser mais fáceis de alcançar em tópicos que parecem simplesmente de significado histórico e estão totalmente removidos de quaisquer consequências práticas nos dias de hoje.

Reenquadrar “teorias da conspiração” vulneráveis como uma eficaz “crítica aos media”

Ao longo das últimas décadas, o establishment político e os media seus aliados criaram uma poderosa defesa intelectual contra a crítica importante ao investirem recursos consideráveis na estigmatização do conceito das chamadas “teorias da conspiração” . Este duro termo pejorativo é aplicado a qualquer análise importante de acontecimentos que se desvie drasticamente da narrativa endossada oficialmente e sugere implicitamente que o seu proponente é um fanático infame, que sofre de ilusões, paranóia ou outras formas de doença mental. Tais ataques ideológicos muitas vezes destroem efectivamente a sua credibilidade, o que permite os seus argumentos reais serem ignorados. Uma frase outrora inócua passou a ser usada como uma “arma” política.

Entretanto, um meio eficaz de contornar este mecanismo de defesa intelectual poder ser a adopção de uma meta-estratégia de reformular tais “teorias da conspiração” como “crítica aos media”.

Sob os parâmetro habituais do debate público, desafios à ortodoxia estabelecida são tratados como “afirmações extraordinárias” que devem ser justificadas por evidência extraordinária. Esta exigência pode ser injusta, mas ela constitui a realidade em muitos intercâmbios públicos, baseados no enquadramento fornecido pelos media alegadamente imparciais.

Uma vez que a maior parte destas controvérsias envolve um amplo conjunto de questões complexas e ambíguas ou de evidências contestadas, muitas vezes é extremamente difícil estabelecer conclusivamente qualquer teoria não ortodoxa, digamos que com um nível de confiança de 95% ou 98%. Portanto, o veredicto dos media é quase invariavelmente “Caso não provado” e os desafiantes são julgados derrotados e desacreditados, mesmo se parecerem ter realmente a superioridade das provas do seu lado. E se eles contestarem oralmente a injustiça da sua situação, essa resposta exacta é então citada a seguir pelos media como uma nova prova do seu fanatismo ou paranóia.

Contudo, suponha-se uma estratégia totalmente diferente fosse adoptada. Ao invés de tentar defender uma tese “para além de qualquer dúvida razoável”, os proponentes simplesmente fornecessem provas e análises suficientes para sugerir que há uma probabilidade de 30% ou de 50% ou de 70% de que a teoria não ortodoxa é verdadeira. O próprio facto de nenhuma afirmação de quase certeza estar a ser avançada proporciona uma defesa poderosa contra quaisquer acusações plausíveis de fanatismo ou pensamento ilusório. Mas se a questão é de enorme importância e – como é habitualmente o caso – a teoria não ortodoxa tem sido quase totalmente ignorada pelos media, apesar de aparentemente ter pelo menos uma probabilidade razoável de ser verdadeira, então os media podem ser efectivamente atacados e ridicularizados pela sua preguiça e incompetência. Estas acusações são muito difíceis de refutar e uma vez que nenhuma afirmação está a ser feita de que a teoria não ortodoxa foi necessariamente provada como correcta, meramente que ela pode possivelmente ser correcta, quaisquer contra-acusações de tendências conspirativas cairiam no chão.

Na verdade, o único meio que os media podem ter para contradizer efectivamente aquelas considerações seria explorar todos os pormenores complexos da questão (ajudando dessa forma a atenção de uma audiência muito mais vasta para os vários factos controversos) e então argumentar que há apenas uma probabilidade desprezível de que a teoria possa ser correcta, talvez 10% ou menos. Portanto, o habitual fardo probatório é completamente revertido. E uma vez que a maior parte dos media é improvável que tenha alguma vez prestado atenção séria ao assunto, a sua apresentação ignorante pode ser bastante fraca e vulnerável a uma desconstrução inteligente. Na verdade, o cenário mais provável é que os media simplesmente continuarão a ignorar toda a disputa, reforçando dessa forma aquelas acusações plausíveis de preguiça e incompetência.

Indivíduos angustiados com as falhas dos media sobre tópicos controversos muitas vezes acusam-nos, bem como aos seus representantes individuais, de serem enviesados, corrompidos ou estarem tranquilamente sob o controle de forças poderosas aliadas às posições do establishment. Estas acusações podem por vezes serem correctos, e por vezes não, mas elas habitualmente são muito difíceis de provar, excepto nas mentes dos verdadeiros crentes já existentes e conduzem à mancha da “paranóia”. Por outro lado, afirmar que as falhas dos media são devidas a pecados veniais tais como preguiça e incompetência têm a mesma probabilidade de serem correctas e é muito menos provável que tais acusações corram o risco de uma reacção adversa.

Finalmente, uma vez que os próprios media tornaram-se o alvo primário da crítica, eles automaticamente perdem o seu estatuto neutros de árbitro externo e já não tem mais credibilidade para proclamar qual o lado vencedor do debate.

A vantagem de inundar as zonas de defesa dos media

Indivíduos que desafiam a narrativa predominante dos media com afirmações não ortodoxas muitas vezes são relutantes em levantar demasiadas afirmações controversas em simultâneo receosos de serem ridicularizados como “loucos”, com todos os seus pontos de vista sumariamente descartados.

Na maior parte dos casos isto pode ser a estratégia correcta a seguir, mas se manejada adequadamente uma abordagem exactamente oposta pode por vezes ser bastante eficaz.

Enquanto a apresentação geral for enquadrada como crítica aos media e não for atribuído um peso desmedido à validade de qualquer das afirmações particulares que estão a ser apresentadas, atacar ao longo de uma frente muito vasta, talvez incluindo dezenas de itens totalmente independentes, pode “inundar a zona” dos media, saturando e esmagando as defesas existentes. Ou, como sugerido numa citação atribuída a Estaline, “A quantidade tem uma qualidade por si própria”.

Considere-se o exemplo do humorista Bill Cosby. Ao longo de anos, uma ou duas mulheres avançaram com afirmações de que ele as havia drogado e violado, mas as acusações foram em grande medida ignoradas como infundadas ou implausíveis. Contudo, durante o último par de anos, a barragem subitamente estourou e um total de aproximadamente sessenta mulheres avançou, todas fazendo acusações idênticas. Embora apareça pouca evidência concreta em qualquer dos casos particulares, virtualmente todo observador agora concorda em que as acusações provavelmente serão verdadeiras.

Suponha-se estar estabelecido que haja uma probabilidade razoável de que os media evitaram ou ignoraram completamente e ignorado um assunto importante que deveria ter sido investigado e informado. O impacto não é necessariamente significativo e muitos indivíduos teimosamente apegados à crença nas narrativas mediáticas estabelecidas podem mesmo resistir a admitir a possibilidade de que os media tenham errado gravemente naquela situação em particular.

Contudo, suponha-se ao invés que várias dezenas de tais exemplos separados pudessem ser estabelecidos, cada um deles a sugerir fortemente um grave erro ou omissão por parte dos media. Nesse ponto, as defesas ideológicas desmoronariam e quase toda gente reconheceria silenciosamente que muitas, talvez a maioria das acusações eram provavelmente verdadeiras, o que produz uma enorme lacuna de credibilidade para os media de referência. As defesas de credibilidade dos media teriam sido saturadas e superadas.

O ponto-chave é que todos os tópicos específicos deveriam ser apresentados como casos de probabilidade razoável e indicativos de deficiências dos media, ao invés de serem comprovados ou tratados necessariamente como questões importantes em si mesmas. Ao permanecer afastado e um tanto agnóstico em relação a qualquer item individual há pouco risco de ser marcado como fanático ou monomaníaco por levantar uma multidão de tópicos.

Minha série American Pravda e a webzine Unz Review como exemplos

A estratégia política/de media esboçada acima foi a motivação central por trás dos meus artigos American Pravda e no sítio web web Unz Review.

Exemplo: no artigo original American Pravda de 2013 levantei mais de meia dúzia de enormes lapsos dos media, todos eles agora reconhecidos universalmente: o colapso da Enron, as armas de destruição em massa da guerra do Iraque, a Trapaça Madoff, os espiões da Guerra Fria e vários outros. Tendo assim estabelecido o cenário ao apresentar este padrão admitido de grande fracasso, demonstrando que uma considerável suspensão de descrença se justificava, estendi a discussão a três ou quatro exemplos adicionais importantes, nenhum deles ainda reconhecido, mas todos perfeitamente plausíveis. Talvez em consequência, o artigo tenha recebido uma atenção razoavelmente boa , incluindo elementos dos próprios media de referência, que muitas vezes estão dispostos a reconhecer os erros de sua classe desde que sejam apresentados de forma persuasiva e responsável.

Na sequência daquele artigo, produzi esporadicamente elementos adicionais da série, alguns mais abrangentes do que outros, e agora estou a iniciar uma série regular .

Os exemplos de McCain/prisioneiro de guerra na série de artigos ilustram perfeitamente a estratégia que sugeri acima. A Guerra do Vietname acabou há mais de quarenta anos, os prisioneiros de guerra provavelmente já morreram há décadas e até John McCain está no crepúsculo da sua carreira. O significado prático de levantar o escândalo ou fornecer evidências que estabeleçam sua probabilidade é praticamente nulo. Mas se fosse amplamente reconhecido que toda os nossos media encobriram com êxito tal escândalo durante tantos anos, a credibilidade dos media sofreria um golpe devastador. Com vários golpes assim ela estaria em ruínas. Enquanto isso, os poderosos interesses escusos que outrora mantiveram tão vigorosamente a narrativa oficial naquela área desapareceram há muito, e a posição ortodoxa tem poucos defensores remanescentes nos media, o que aumenta muito a probabilidade de um grande avanço e vitória final.

Uma estratégia semelhante, de forma mais ampla, é aplicada no meu media alternativo Unz Review, o qual abriga numerosos diferentes escritores, colunistas e blogueiros, todos eles tendendo a desafiar fortemente a narrativa dos media do establishment de acordo com uma ampla variedade de diferentes eixos e questões, alguns deles conflituosos. Ao levantar sérias dúvidas acerca das omissões e erros dos nossos media de referência em tantas áreas diferentes, o objectivo é enfraquecer a credibilidade percebida quanto aos media, levando leitores a considerarem a possibilidade de que grandes elementos da narrativa convencional possam ser inteiramente incorretos.

[*] Fundador e editor da Unz Review, sítio web conservador dos EUA, empresário. Candidatou-se uma vez a governador da Califórnia.

O original encontra-se em www.unz.com/runz/american-pravda-breaching-the-media-barrier/

Este artigo encontra-se em http://resistir.info

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