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quinta-feira, 18 abril, 2024

10 dados que provam que o Nafta não beneficiou o México

Após 20 anos da assinatura do acordo de livre comércio, a queda da pobreza no resto da América Latina foi duas vezes e meia superior a do México.

CEPR – Center for Economic and Policy Research

Faz 20 anos desde que o Nafta entrou em vigor, inserindo o México em um novo acordo comercial com os Estados Unidos e o Canadá. Na época, foi alegado e previsto que o acordo estimularia o crescimento e desenvolvimento mexicano.

Este trabalho compara o desempenho da economia mexicana com a do restante da região nos últimos 20 anos, partindo dos indicadores econômicos e sociais disponíveis e com o seu próprio desempenho econômico prévio. Entre os resultados:

  1. O México figura em 18º entre 20 países da América Latina no que tange ao crescimento do PIB real per capita, a medida econômica mais básica em termos de padrão de vida.
  1. No intervalo de 1960-1980, o PIB real per capita do México quase dobrou, com crescimento de 98,7%. Por comparação, nos últimos 20 anos, ele cresceu apenas 18,6%.
  1. O crescimento do PIB per capita do México (de apenas 18,6%) nos últimos 20 anos é de cerca de metade da taxa de crescimento alcançada pelo resto da América Latina.
  1. Se o NAFTA tivesse sido bem sucedido em restaurar a taxa de crescimento do México pré-1980 – quando as políticas econômicas desenvolvimentistas eram a norma – hoje o México seria um país de renda relativamente alta, com renda per capita significativamente maior do que a do Portugal ou da Grécia. É pouco provável que a reforma da imigração fosse uma questão política importante nos Estados Unidos, já que relativamente poucos mexicanos tentariam atravessar a fronteira.
  1. De acordo com as estatísticas nacionais mexicanas, a taxa de pobreza do México de 52,3% em 2012 é quase idêntica a taxa de pobreza de 1994. Como resultado, são mais 14,3 milhões de mexicanos vivendo abaixo da linha da pobreza a partir de 2012 (os últimos dados disponíveis) do que em 1994.
  2. Nós podemos usar as estatísticas de pobreza da Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina (CEPAL) para comparar a taxa de pobreza do México com o restante da América Latina. Essas estatísticas são calculadas de forma diferente e mostram um declínio da pobreza no México. No entanto, de acordo com essas medidas, o restante da América Latina viu uma queda na pobreza que era mais de duas vezes e meia maior que a do México: 20 pontos percentuais (de 46 para 26 por cento) no restante da América Latina, contra 8 pontos percentuais (45,1 para 37,1 por cento) no México.
  3. O salário real (ajustado pela inflação) no México é quase o mesmo em 2012 e em 1994, com um aumento de apenas 2,3% ao longo de 18 anos, e pouco acima de seu nível de 1980.
  1. O desemprego no México é de 5% hoje, em comparação com uma média de 3,1% entre 1990-1994 e uma baixa de 2,2% em 2000; estes números subestimam seriamente a verdadeira falta de emprego, mas demonstram uma deterioração significativa no mercado de trabalho durante os anos do Nafta.
  2. o NAFTA também teve um grave impacto sobre o emprego agrícola, com o milho e outros produtos subsidiados pelos EUA destruindo a agricultura familiar no México. Entre 1991-2007, houve 4,9 milhões de agricultores mexicanos deslocados; enquanto o trabalho sazonal nas indústrias de agro-exportação aumentou em cerca de 3 milhões de pessoas. Isto significou uma perda líquida de 1,9 milhões de postos de trabalho.
  3. O péssimo desempenho da economia mexicana contribuiu para um aumento da emigração pros Estados Unidos. Entre 1994-2000, o número anual de mexicanos emigrados para os Estados Unidos subiu 79%. O número de filhos de mexicanos nascidos vivos nos Estados Unidos mais do que duplicou, passando de 4,5 milhões em 1990 para 9,4 milhões em 2000, atingindo um pico de 12,6 milhões em 2009.

O NAFTA é apenas uma variável entre tantas que poderiam ser responsáveis pelo péssimo desempenho econômico do México ao longo dos últimos 20 anos. No entanto, parece estar relacionada com outras opções de política econômica que têm afetado negativamente a economia mexicana durante este período. O FMI observa que “o México compete diretamente com a China no mercado dos EUA, onde a China é responsável por 23% das importações dos EUA e o México é responsável por 12 %”. Esta é uma competição muito difícil para o México por uma série de razões. Em primeiro lugar, o México foi e continua a ser um país com salários mais elevados do que a China. Em segundo lugar, a China tem mantido o compromisso com uma taxa de câmbio competitiva, com efeito, fixando essa taxa de câmbio em relação ao dólar ou (desde 2005) ao cabaz de moedas. O banco central mexicano por contraste tem, como observa o FMI, “um compromisso firme com a taxa de câmbio flexível”. Em outras palavras, o Banco Central mexicano irá aumentar ou diminuir as taxas de juros buscando atingir sua taxa de inflação alvo (3 por cento). Isto significa que é improvável que a taxa de câmbio do México seja competitiva com a da China, o que piora ainda mais a sua desvantagem de custo. A forma rígida de controle da inflação que Banco Central mexicano opera também adiciona um grande elemento de imprevisibilidade para a taxa de câmbio, o que impacta negativamente sobre o investimento estrangeiro direto; os investidores estrangeiros consideram difícil saber quanto valerão seus ativos ou sua produção internacionalmente no futuro.

A China tem ainda outras vantagens que a tornam uma forte competidora pro México no mercado dos EUA: o governo chinês detém a maior porção do sistema bancário na China e pode, portanto, garantir que as suas empresas de exportação mais importantes tenham acesso a crédito suficiente. No México, por outro lado, 70% do sistema bancário não apenas é privado, mas propriedade estrangeira. O governo chinês também tem uma política industrial ativa que lhe permite auxiliar suas empresas exportadoras de várias maneiras. Além disso, gasta muito mais em pesquisa e desenvolvimento – tanto em termos absolutos quanto em percentuais da sua economia.

O NAFTA também tornou o México cada vez mais ligado com a economia dos EUA, num momento em que a economia dos EUA estava se tornando dependente do crescimento impulsionado por bolhas de ativos. Como resultado, o México sofreu uma recessão quando a bolha do mercado de ações estourou em 2000-2002, e foi um dos países mais atingidos na região durante a Grande Recessão dos EUA, com uma queda de 6,7% do PIB. A economia mexicana foi ainda mais duramente atingida pela crise do peso em 1994-1995, perdendo 9,5% do PIB; a crise foi causada pela elevação das taxas de juros da Reserva Federal dos EUA em 1994.

A vulnerabilidade ao mercado financeiro dos EUA continua: em maio de 2013, depois que a Reserva anunciou um afilamento do seu programa de flexibilização quantitativa (QE3), houve temor de uma repetição da crise do peso de 1994 e o grosso do influxo de investimentos estrangeiros em carteira chegou a uma parada súbita. A economia mexicana levou um golpe, com crescimento projetado de 1,22% naquele ano. Isto se deu principalmente porque, como o FMI observou, “os mercados de câmbio, de capital doméstico e de obrigações do México podem servir como uma porta para os investidores globais em episódios de turbulência financeira e, portanto, são suscetíveis a riscos de contágio”. Essa vulnerabilidade é também um resultado das políticas que o NAFTA foi projetado para facilitar.

Como já se sabia durante a aprovação do NAFTA, seu principal objetivo foi alavancar um conjunto de políticas econômicas, algumas das quais já se encaminhavam desde a década anterior, como a liberalização da manufatura, do investimento estrangeiro, da propriedade etc¹. A ideia era que a continuação e expansão dessas políticas permitiriam que o México alcançasse ganhos de eficiência e progresso econômico que não eram possíveis na égide do desenvolvimentisto protecionista, modelo econômico que prevaleceu nas décadas anteriores a 1980. Embora algumas das políticas tenham sido, sem dúvida, necessárias e/ou positivas, o resultado final tem sido décadas de fracasso econômico em quase qualquer indicador econômico ou social. Isto é verdade se compararmos o México com seu passado desenvolvimentista, ou mesmo se a comparação contar para o resto da América Latina (desde o NAFTA). Depois de 20 anos, estes resultados devem provocar mais discussão pública sobre o que deu errado.

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